Especialistas explicam prejuízos das tarifas impostas por Trump
Por Maria Clara Pasqualeto em 07/04/2025 às 06:00

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última quarta-feira (2) que vai impor uma tarifa de 10% sobre produtos comprados de outros países, inclusive do Brasil. O republicano disse que o objetivo é trazer empregos e fábricas de volta ao país.
Trump também determinou a cobrança de tarifas adicionais a um grupo de países que, segundo ele, tem sido injustos com os EUA no comércio internacional. O gesto tende a aprofundar a guerra comercial liderada pelo republicano, uma vez que a lista inclui China (sobretaxa de 34%), União Europeia (20%) e Japão (24%).
Setores afetados
O aumento das tarifas estadunidenses sobre metais, de acordo com o economista Luciano Simões, impacta diversos setores econômicos, além de inúmeros países que possuem forte presença na área.
“Historicamente, quando os Estados Unidos impõem aumentos de tarifas, alguns setores tendem a ser mais afetados, como o setor de manufatura, em que países como a China, Coreia do Sul, Japão, México e União Europeia apresentam forte produções. Além disso, as questões de bens de consumo – como produtos de vestiário, calçados e brinquedos, bem como a agricultura, também podem ser afetadas, prejudicando principalmente o Brasil no último fator mencionado”.
Os prejuízos não se limitam apenas a fatores econômicos, bem como, simultaneamente, questões relacionadas ao comércio e relações internacionais, explicou Simões.
“Um aumento nas tarifas americanas pode ter vários impactos significativos, alguns destes sendo, por exemplo, o aumento de custos para consumidores e empresas, visto que as tarifas elevam o preço dos produtos importados, o que pode ser repassado aos consumidores, aumentando a inflação. Outro exemplo é a deterioração das relações diplomáticas: disputas comercias podem ‘azedar’ as relações diplomáticas entre os países envolvidos, dificultando a cooperação em outras áreas”.
O economista também ressalta outras consequências como:
- Retaliação Comercial: Os países afetados pelas tarifas americanas podem retaliar, impondo suas próprias tarifas sobre produtos americanos. Isso pode levar a uma escalada de tensões comerciais e prejudicar o comércio global.
- Disrupção das Cadeias de Suprimentos Globais: Tarifas podem forçar as empresas a reconfigurarem suas cadeias de suprimentos, buscando fornecedores em outros países ou realocando produção, o que pode gerar ineficiências e custos adicionais.
- Impacto no Crescimento Econômico Global: A incerteza gerada por disputas comerciais e o aumento dos custos podem desacelerar o crescimento econômico global.
- Desvio de Comércio: Países não afetados pelas tarifas podem se tornar mais competitivos, desviando fluxos de comércio.
Motivação
O grande mistério para muitas pessoas se mostra pelo o “por quê?” da decisão, isto é, por qual razão as tarifas foram implementadas?
O economista Adalto Corrêa explica que, na realidade, Trump não chegou a realizar negociações antes de executar as medidas sob as tarifas, gerando discussões e polêmicas.
“O Trump foi eleito por uma plataforma muito nacionalista, ele não apresenta uma liderança mundial. Na realidade, parece até que ‘é ele contra o mundo’, apresentando polêmicas até com países vizinhos, como o Canadá e o México. Percebe-se que ele mal assumiu uma negociação, ele chegou implementando suas próprias medidas”.
Simões complementa o ponto de Corrêa, citando uma série de fatores que explicam a implementação dessa medida, desde aspectos como a segurança dos EUA até a proteção de suas indústrias.
“As motivações geralmente envolvem uma combinação de fatores políticos e econômicos. O objetivo principal pode ser a proteção das indústrias americanas da concorrência estrangeira, tornando os produtos importados mais caros e incentivando consumos de bens produzidos nos Estados Unidos. Aumentar as tarifas pode ser visto, também, como uma forma de diminuir o déficit comercial do país, encarecendo as importações e, potencialmente, aumentando o número de exportações (embora isso nem sempre se concretize)”.
Além dos pontos mencionados, inclui-se, da mesma maneira, uma suposta “pressão” mundial, implementada pelo governo dos Estados Unidos:
“O anúncio ou a concretização de tarifas pode ser utilizado como uma ferramenta de pressão política em negociações comerciais com outros países, buscando melhores acordos ou concessões. Do mesmo modo, em alguns setores estratégicos, como aço e tecnologia, a imposição de tarifas pode ser justificada por questões de segurança nacional, visando reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros”, menciona o economista.
Corrêa, no entanto, considera a autopercepção como um “romantismo”, destacando que “nenhum país é autossuficiente”.
“Trump diz que os EUA produzirá tudo que o americano precisa, e isso é um ‘romantismo’, já que os Estados Unidos não é autossuficiente em nada, nenhum país no mundo é. Um precisa do outro. O problema do protecionismo é que quando você ‘dispara esse gatilho’, o mundo se protege mais. Ou seja, a partir do momento que um país consome somente produtos criados por seus próprios trabalhadores, os preços sobem, e isso pode desencadear um fechamento global”.
Impactos no Brasil e medidas a ser implementadas
No caso dos impactos das tarifas, especificamente, ao Brasil, incluem-se, de fato, prejuízos. Porém, apresentam-se algumas oportunidades às exportações brasileiras, segundo Simões.
“Se os produtos brasileiros exportados aos EUA forem incluídos nas lista de tarifas elevadas (como aço, alumínio e alguns produtos agrícolas ou manufaturados), as exportações brasileiras ao mercado americano podem se tornar mais caras e menos competitivas, resultando em uma redução no volume exportado. Contudo, em alguns casos, o Brasil pode se beneficiar indiretamente se as tarifas americanas afetarem, principalmente, outros países concorrentes. O Brasil poderia se tornar uma alternativa de fornecimento para alguns produtos”.
Simões finaliza suas declarações citando medidas que o governo brasileiro pode adotar, a fim de minimizar prejuízos.
“É crucial que o governo brasileiro monitore a situação e analise efeitos negativos. Pode-se buscar diálogo e negociação com o governo americano para tentar evitar imposição de tarifas sobre seus produtos ou buscar isenção, intensificando esforços para diversificar seus mercados de exportação. Adicionalmente, o governo brasileiro pode implementar políticas para fortalecer a competitividade da indústria brasileira -como melhorar infraestruturas e investir em inovação- e buscar acordo comerciais com outros países e blocos econômicos, para garantir mercados alternativos a seus produtos”, completa.
Já Corrêa finaliza explicando que os impactos não se limitam a outras nações, bem como aos próprios Estados Unidos.
“Estamos entrando em um período de guerra comercial. Não é uma guerra como a da Rússia e da Ucrânia, por exemplo, mas um outro tipo de guerra política e econômica. A tendência é que o país responsável por iniciar os “ataques” fique isolado. Visto que os Estados Unidos é uma das maiores economias do mundo, ele compra tudo de todos, e perder parceiros comerciais é muito ruim, pois o Brasil, também, vende muito a eles”.