São Vicente elegeu apenas duas mulheres vereadoras em 32 anos

Por Marcela Morone em 10/10/2024 às 10:00

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Uma mulher não ocupa uma cadeira da Câmara de Vereadores da primeira cidade do Brasil desde 2005. Antes disso, a última representante feminina no legislativo de São Vicente foi eleita 13 anos antes, em 1992. São apenas duas mulheres eleitas na cidade desde a primeira eleição municipal após o fim da ditadura militar, em 1985.

Nas eleições de 1993, Regina Ponte do Carmo foi eleita com 802 votos pelo extinto Partido da Frente Liberal (PFL), que em 2007 se tornaria o Democratas e, posteriormente, se fundiria com o Partido Social Liberal (PSL) para formar o União Brasil.

Sua distante sucessora, Mara Valéria Giangiulio, conseguiu 1.237 votos e foi eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em 2004. Mara tentou a reeleição em 2008, mas ficou como suplente após obter 2.396 votos. Na eleição seguinte, também se candidatou, mas não se elegeu.

Mara Valéria foi apenas a quarta mulher a ocupar uma cadeira na Câmara da cidade, junto à Regina do Carmo, Angelina Pretti e Neide Veiga Rocha (as últimas duas assumiram suas posições de modo indireto durante o regime militar).

No pleito deste ano, 75 mulheres se candidataram ao legislativo vicentino, o que corresponde a 52% das candidaturas totais para as 15 cadeiras. Geovana Albuquerque (PSD) foi a que chegou mais perto de se eleger — ela obteve 1.790 votos e ficou como suplente.

Cubatão e Itanhaém também não elegeram vereadoras neste ano. No último município, a última mulher eleita foi Regina Célia (PTB), em 2008, com 572 votos. Já em Cubatão, a atual vereadora Jaque Barbosa (PSD) foi a 11ª mais votada para a Câmara neste ano — no entanto, a parlamentar não se elegeu devido ao quociente partidário.

Para a consultora de campanhas eleitorais Hanna Pereira, a legislação eleitoral, que é atualizada a cada ciclo, é um dos mecanismos que auxilia parlamentares a perpetuar influência nos espaços de poder. “O coeficiente eleitoral, por exemplo, é mais um dos critérios que acabam por afastar candidatos com menos recursos das câmaras municipais”, esclarece Hanna.

A consultora explica que um Projeto de Lei apresentado em 2019 por um consórcio de movimentos femininos busca garantir uma distribuição mais justa dos recursos públicos destinados às candidaturas.

Segundo a profissional, as alterações recentes na lei beneficiam de forma desigual aqueles com maior capacidade financeira para investir em práticas como a boca de urna, que é crime. “Em meio a isso, torna-se quase impossível competir de maneira justa contra a compra de votos, ainda mais com uma legislação que, adequadamente, favorece tal prática”, argumenta.

Participação cresceu, mas é insuficiente

O número de mulheres eleitas para o legislativo na região cresceu de 10 para 17 entre 2020 e 2024. No entanto, o número ainda é proporcionalmente insuficiente.

“Proporcionalmente, a representatividade feminina na Baixada Santista retornou ao patamar de 2004, quando ocupamos 11,1% das cadeiras. Este ano, com a atualização do número de vagas, que totalizam 142, alcançamos apenas 11,9%. É inadmissível que, ao longo dos últimos 20 anos, o crescimento da participação feminina nas câmaras municipais não tenha sequer acompanhado o aumento do número de cadeiras”, explica Hanna. Ela argumenta que a sub-representação feminina é um problema estrutural e que continua sendo uma barreira para uma democracia inclusiva.

Gráfico que mostra a participação feminina na região. Arquivo/Hanna Pereira

Santos, cidade com a maior proporção de mulheres no país, elegeu Débora Camilo (PSOL) e Renata Bravo (PSD), atual vice-prefeita. Camilo figurou como a parlamentar mais bem votada da cidade, com 8.016 votos, e a segunda mais bem votada entre as nove cidades da Baixada Santista. A psolista ficou atrás apenas de Tiago Peretto (União), eleito em São Vicente com expressivos 12.668 votos

Bertioga também teve uma mulher como a parlamentar mais bem votada no geral: Renata Barreiro (PL) se reelegeu com 1.927 votos. Também ocuparão cadeiras na Câmara de Bertioga Elisângela Pedroso (MDB) e Michelle Russo (União).

No entanto, é em Guarujá que o feminino mais se destacou. Cinco vereadoras foram eleitas, em contraste com a única cadeira conquistada por Sirana Bosonkian (PDT) em 2020. A veterana do legislativo guarujaense conseguiu a reeleição e se une à Andréia Feijó (PSB), a vereadora mais bem votada no geral; Dra. Adriana Machado (PSD), ex-vice-prefeita; Michelle Freitas (PSB) e Ariani Paz (PT). Juntas, elas conquistaram 22% dos votos entre todos os 19 vereadores eleitos.

Praia Grande e Peruíbe elegeram três mulheres para o legislativo, enquanto Mongaguá elegeu uma representante feminina.

Paridade de gênero ainda é sonho distante

A falta de uma implementação de reserva de cadeiras específicas para mulheres impede que a ampliação da visibilidade feminina nas esferas de poder se concretize, conforme explica Hanna.

“As práticas e declarações absurdas que ocorrem nas casas claramente acontecem sem o conhecimento do grande público. Se viesse a público, isso poderia influenciar o eleitor a escolher seu candidato de forma mais diversificada. No entanto, o que não choca, não é lembrado, certo?”, questiona a consultora. Para ela, os partidos não se empenham em tornar o ambiente e político mais acolhedor e atrativo para as mulheres.

“Infelizmente, esse cenário desolador impede que vislumbremos uma mudança significativa no futuro próximo”, finaliza a consultora. Segundo o Relatório Global de Desigualdade de Gênero do Fórum Econômico Mundial de 2023, no ritmo atual, a paridade de gênero será alcançada em mais de 130 anos.

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