Moradoras de Itanhaém dizem que corridas de charrete sempre existiram e dão medo
Por João Pedro Feza/Folhapress em 01/04/2025 às 05:00
Testemunhas de corridas de charrete em praias de Itanhaém contam que a prática ilegal é frequente e causa temor entre moradores da região.
Após a morte de Thalita Danielle Hoshino, 38, a prefeitura instalou uma barreira de pedras na faixa de areia onde a ciclista foi atingida por uma charrete.
O condutor da charrete Rudney Gomes Rodrigues, 31, foi detido em sua residência, em Praia Grande (SP), no sábado (29). A defesa de Rudney reiterou que ele estava passeando em sua charrete pelas ruas do bairro e negou que ele praticava racha.
Sem se identificar, alegando medo de represálias, uma moradora da região disse à reportagem que as corridas sempre existiram e sempre deram medo. Ela relata ter passado bem perto de uma competição, que descreveu como insana, porque os condutores buscam alta velocidade batendo nos cavalos e gritando.
A mulher trabalha nas proximidades da praia, na divisa com Peruíbe, onde Thalita, moradora de São Bernardo do Campo, foi atingida por uma charrete com cavalo.
Thalita sofreu traumatismo cranioencefálico e morreu dois dias depois no hospital Irmã Dulce, na vizinha Praia Grande, onde recebia tratamento.
Outra moradora de Itanhaém, que também preferiu não se identificar, afirmou que corridas de charrete ocorrem especificamente entre as praias de Santa Cruz (Itanhaém) e Taniguá (Peruíbe) -onde Thalita foi atropelada. Os envolvidos, segundo ela, aproveitam-se do fato de que, nesse trecho, a praia costuma ficar mais deserta.
Ela disse que, quando os eventos clandestinos ocorrem, muitos moradores das imediações evitam sair de casa, principalmente com crianças, por medo dos cavalos que circulam pelas ruas para acessar a faixa de areia.
De acordo com Gabriela Ferreira Neves de Andrade, 24, amiga de Thalita, que vinha logo atrás em outra bicicleta, havia um racha de charretes na areia. Dois carros também acompanhavam o trajeto, segundo a amiga.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informa que “os agentes cumpriram o mandado de prisão temporária expedido pela Justiça” e que “o suspeito foi encaminhado à CPJ e permanece à disposição do Poder Judiciário”. As investigações por suspeita de homicídio prosseguem.
Medidas após morte da ciclista
A Prefeitura de Itanhaém usou uma escavadeira para implantar um bloqueio provisório de pedras, chamado de “matação”, com o objetivo de impedir a passagem de veículos automotores e charretes faixa de areia da praia de Santa Cruz.
“A Administração Municipal está analisando mudanças na legislação municipal para endurecer as penalidades contra práticas irregulares nas praias da cidade”, complementa, por nota, a prefeitura.
“Ingresso e permanência de animais de grande porte na faixa de areia são proibidos”, diz o titular da Secretaria de Trânsito e Segurança Pública de Itanhaém, Milton Campos. Ele pede que a população denuncie pelo telefone 153 para que a Guarda Municipal vá ao local e autue os infratores, que podem ter seus animais apreendidos.
A Prefeitura de Peruíbe informa, por nota, que “em todas as ocasiões que toma conhecimento da realização desta prática ilegal monta uma força-tarefa com a Guarda Civil Municipal, Polícia Militar, agentes de fiscalização de trânsito, de posturas e segue para o local”.
Diz, ainda, que “instalou obstáculos com o objetivo de impedir o trânsito, além de tubos de concreto na avenida Santa Cruz com a faixa de areia”. E que “está em tratativas com Itanhaém para a realização de operações conjuntas”.
Nesta terça (1º), às 15h30, uma reunião com representantes das prefeituras de Itanhaém e Peruíbe, além das polícias Civil e Militar, ocorrerá na Delegacia Seccional de Itanhaém para definir medidas contra a circulação irregular de veículos nas praias dos municípios.
