Tráfico internacional, PCC e política integram o coquetel do crime em Guarujá
Por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News em 12/03/2025 às 10:00

O duro golpe que a Polícia Federal aplicou no narcotráfico internacional, na terça-feira (11), ao prender um homem em Portugal e outras seis pessoas em Guarujá, trouxe à tona a ligação entre pelo menos um dos capturados com um ex-candidato a prefeito nessa cidade da Baixada Santista na eleição do ano passado.
O político, que não se elegeu, não integra a relação de capturados. Por enquanto, a PF não requereu a sua prisão. Porém, com o objetivo de coletar provas e avançar nas investigações, ela teve deferidos pela Justiça Federal pedidos para que fossem cumpridos mandados de busca e apreensão em três endereços vinculados ao ex-candidato.
Dois desses endereços ficam em Guarujá e um, em Santos. Os pedidos de mandados de busca foram embasados por prévias interceptações telefônicas autorizadas judicialmente. Elas revelaram diálogos entre o homem apontado como o número dois do grupo acusado de tráfico internacional e o então candidato a prefeito de Guarujá.
Nessas conversas, Bruno Costa Calixta, o Boy, ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), demonstra ter vínculo de amizade com o político, auxiliando-o em sua campanha, principalmente em comunidades carentes de Guarujá, com a entrega de ovos de Páscoa. Em certo diálogo, o candidato diz a Boy que eles são “mais bandidos que ele 50 vezes”.
O político se refere a um homem cujo carro teria sido furtado em uma comunidade do município. A PF também apurou que, em 2024, o ex-candidato foi alvo de operação contra supostas fraudes em licitações deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.

Os presos
Além de Boy, apontado como o número dois do grupo, também foi preso Gabriel Martinez Souza, o Fant, acusado de ser o cabeça. Pelo seu protagonismo no esquema criminoso, a dupla teve a preventiva decretada. Residindo em Portugal, Fant foi capturado em casa por policiais desse país. Uma equipe da PF participou da diligência.
Os outros cinco detidos tiveram a prisão temporária decretada para que as suas participações no grupo sejam melhor apuradas. Porém, as investigações até o momento realizadas revelam indícios de lavagem de dinheiro, porque eles teriam movimentado juntos mais de R$ 4 milhões em curto período, inclusive mediante depósitos fracionados.
Gabryela Calixta Santos (sobrinha de Boy), Glayce Rodrigues de Souza, Adriana Maria Rodriges Vieira (companheira de Boy), Enil Marcos de Souza e Thiago Henrique Dias Lopes, o Trick, tiveram a temporária decretada. A PF ainda cumpriu mais 23 mandados de busca e apreensão, além dos três ligados ao político.
Técnicas usadas
As ordens de prisão e de busca foram expedidas pelo juízo da 5ª Vara Federal de Santos no âmbito da Operação Emergentes, da PF. Ela é desdobramento da Operação Sólis, que desarticulou, em dezembro de 2021, grupo que remetia drogas para o exterior pelo Espírito Santo.
O nome Emergentes foi escolhido para se referir agora aos alvos da operação que estão começando a se sobressair no tráfico internacional de drogas por meio do Porto de Santos. Para a remessa de cocaína ao exterior, o grupo adota duas técnicas principais, conforme a PF apurou.
Uma delas é o “rip on/rip off”, que consiste na introdução de cocaína em contêineres sem a ciência do exportador. Porém, como alternativa a essa técnica de contaminação dos cofres de carga, as organizações criminosas passaram a ocultar drogas em seachest ou caixa de mar, compartimento do navio situado abaixo do nível da água.
A seachest tem a função de captar água para o resfriamento das máquinas da embarcação. Para utilizá-la como esconderijo de drogas, as quadrilhas especializadas passaram a contar com mergulhadores profissionais entre os seus integrantes. Conforme diálogos telefônicos pela PF, Fant coordenaria o trabalho desses membros.
As conversas do cabeça que foram interceptadas também mostram a sua intensa participação na logística e nas tratativas para a remessa de elevadas quantidades de cocaína à Europa. Fant ainda exerceria papel fundamental no recebimento e distribuição do entorpecente em solo europeu, em razão de residir em Portugal.
*Texto por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News