União Europeia diz que tem 'muitas cartas' para reagir a tarifaço de Trump
Por José Henrique Mariante/Folhapress em 01/04/2025 às 10:16

Na véspera do “Dia da Libertação” anunciado por Donald Trump, a União Europeia declarou que “tem muitas cartas” na mão e um “plano sólido” para reagir ao aguardado tarifaço do presidente americano, marcado para quarta-feira (2). “Nosso objetivo é uma solução negociada. Mas é claro que, se for necessário, protegeremos nossos interesses, nossa população e nossas empresas”, declarou Ursula von der Leyen, na véspera, em um discurso no Parlamento Europeu, em Estrasburgo.
“Não queremos necessariamente retaliar. Mas, se for necessário, temos um plano sólido para retaliar e vamos usá-lo”, afirmou a presidente da Comissão Europeia.
A administração Trump impôs tarifas de 25% à importação de alumínio e aço no mês passado e prometeu taxação semelhante sobre veículos a partir desta semana, um grande problema para as montadoras alemãs, donas de mais da metade da frota exportada para os EUA. O presidente americano promete também anunciar tarifas recíprocas, que ferem as regras da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Von der Leyen lembrou do tamanho do bloco em sua fala. “Temos o maior mercado único do mundo. Temos a força para negociar e poder para revidar.” Ela não destacou quais seriam as armas europeias, mas um conjunto de medidas de retaliação ganha contornos desde a posse de Trump, em janeiro. A inclusão do setor de serviços é especulada há semanas na imprensa do continente, abastecida em grande medida por parlamentares europeus e diplomatas de Bruxelas.
Em 2023, a UE registrou um superavit de mercadorias com os EUA no valor de € 156,6 bilhões (R$ 951, 6 bilhões), mas um déficit de serviços no valor de € 108,6 bilhões (R$ 659,2).
A depender do pacote a ser anunciado por Trump, o bloco pode fazer uso de regulamentações recentes, como a lei de serviços digitais (DSA) e de mercado digital (DMA), para atingir as big techs, tributar os principais bancos americanos ou restringir a emissão de licenças de empresas do país para fazer negócios na UE.
A DSA, em linhas gerais, permite que os europeus combatam o conteúdo ilegal e desinformação na internet, enquanto a DMA persegue monopólios. Em tese, as principais plataformas correm o risco de receber uma multa de até 6% de seu faturamento mundial no primeiro caso e de 10% no segundo. Elas também podem ser forçadas a reduzir suas atividades em solo europeu.
A estratégia teria grande força de dissuasão, mas não é consenso do bloco usar toda a caixa de ferramentas. Vários países temem a retaliação a produtos específicos. Confrontado com 99 páginas de mercadorias que poderiam sofrer retaliação dos europeus, por exemplo, Trump prometeu sobretaxar os vinhos franceses e italianos em 200%.
Além da guerra comercial, analistas percebem as economias europeia e americana tão interconectadas que tarifas sobre determinado setor, com ou sem retaliação, seriam sentidas nos dois lados do Atlântico.
Ainda assim, integrantes da Comissão Europeia ventilaram na semana passada lançar mão de um dispositivo ainda mais forte, elaborado curiosamente durante o primeiro mandato de Trump, o Instrumento Anti-Coerção. Ele concede amplos poderes para a UE enfrentar uma guerra comercial, com cotas, tarifas e até mesmo restrições ao investimento estrangeiro.
“Esse confronto não é do interesse de ninguém”, declarou Von der Leyen.