21/11/2025

Rascunho da COP30 traz indicadores para adaptação climática, mas exclui valores de financiamento

Por Gabriel Gama e Jéssica Maes/Folhapress em 21/11/2025 às 16:07

Tânia Rêgo/Agência Brasil
Tânia Rêgo/Agência Brasil

O novo rascunho de decisão da COP30, divulgado nesta sexta-feira (21), traz uma citação vaga sobre o aumento dos recursos para adaptação climática. O texto “pede esforços para triplicar o financiamento para adaptação em comparação aos níveis de 2025 até 2030”, mas não expressa claramente uma quantia nem o papel dos governos em mobilizar esses repasses.

Os países em desenvolvimento exigem que as nações ricas, maiores responsáveis pelas mudanças climáticas, liderem o fluxo de dinheiro. O rascunho insta as nações desenvolvidas a “aumentarem a trajetória de sua provisão coletiva de financiamento climático para adaptação aos países em desenvolvimento”, sem atrelar a um valor.

A versão anterior do documento, divulgada na terça (18), trazia uma nova meta de financiamento para adaptação e indicava que os países desenvolvidos deveriam mobilizar US$ 120 bilhões ou US$ 150 bilhões anuais até 2030, sendo que apenas uma das opções poderia ser adotada. Agora, o texto não cita quantias.

“Sobre o financiamento da adaptação, só vemos ‘encorajamento’, não vemos requisitos”, disse Juan Carlos Monterrey, enviado do Panamá para o clima. “Países vulneráveis não podem se adaptar com as mãos vazias. No ano passado, concordamos em triplicar o financiamento para adaptação e clima. Cortar o financiamento da adaptação enquanto se busca ambição é simplesmente hipocrisia.”

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, afirmou que o rascunho mostra uma falta de direção ao não colocar um número como base para aumentar os repasses em relação a 2025. “Ainda que triplicar o financiamento da adaptação apareça no texto, ele está de uma forma tão vaga que vira um jogo de deixa que eu deixo, justamente o que a gente não pode aceitar.”

Fernanda Bortolotto, especialista em políticas climáticas da organização The Nature Conservancy Brasil, disse que o financiamento precisa de uma linguagem forte e de um encaminhamento mais claro.

Outro rascunho da conferência apresentou um conjunto de cerca de 60 indicadores da chamada Meta Global de Adaptação, que buscam medir o progresso das ações de enfrentamento à mudança climática.

A proposta inicial de um grupo de especialistas era de aproximadamente cem indicadores. Gabrielle Swaby, do World Resources Institute, apontou para o incômodo que a nova lista pode gerar aos países.

“Alguns experts técnicos notaram que essas mudanças podem fazer alguns desses indicadores menos mensuráveis”, disse.

Os indicadores versam sobre diferentes aspectos da adaptação e têm a finalidade de orientar as ações de cada país para enfrentar os impactos do clima. A lista inclui riscos relacionados à geografia de um local específico, estresse hídrico, população em áreas que precisarão ser realocadas e o nível de ameaça dos ecossistemas.

A Meta Global de Adaptação era prevista desde o Acordo de Paris, assinado em 2015, mas houve pouca evolução após o tratado. O avanço nesse tema é considerado a decisão mais importante a ser tomada na COP30 e pauta prioritária do Brasil. No início das negociações, os países africanos travaram as discussões.

“O que temos é um floreio retórico, e falta substância em adaptação”, disse Mohamed Adow, diretor da ONG Power Shift Africa.

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