Parcela da população com ensino superior quase triplica, mas ainda é inferior a 20% no Brasil
Por Leonardo Vieceli/Folhapress em 26/02/2025 às 12:30

A parcela da população brasileira com ensino superior completo quase triplicou desde 2000, mas ainda é inferior a 20% do total de habitantes de 25 anos ou mais, apontam novos dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta quarta-feira (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 2000, 6,8% das pessoas dessa faixa etária tinham concluído a graduação. A parcela com ensino superior completo avançou a 11,3% em 2010 e seguiu em crescimento na década seguinte, até alcançar a marca de 18,4% em 2022.
Esse percentual significa que, de um total de 133,1 milhões de pessoas de 25 ou mais no país, 24,5 milhões haviam concluído a graduação -mais do que a população inteira de Minas Gerais no mesmo ano (20,5 milhões). Esse grupo era de 5,8 milhões em 2000 e de 12,5 milhões em 2010.
Ao mesmo tempo, diminuiu a proporção de pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto. Essa fatia representava 63,2% da população de 25 anos ou mais em 2000. O percentual caiu para 49,3% em 2010 e 35,2% em 2022.
“É bastante evidente que houve uma expansão [do ensino superior], mas esse grupo ainda é minoritário”, afirmou Bruno Perez, analista do IBGE responsável pela apresentação dos dados.
O pesquisador destacou que pessoas mais velhas tiveram mais dificuldades no acesso à área de educação no passado. Isso, segundo Perez, ajuda a entender o fato de o ensino superior completo ainda permanecer abaixo de 20% da população de 25 anos ou mais.
“Tem uma população envelhecida para a qual o acesso à educação foi mais difícil na juventude. Essa população mais velha também pesa no estoque”, disse.
Em 2022, o número médio de anos de estudo foi calculado em 11,8 para as pessoas de 25 a 29 anos de idade. Trata-se de um patamar bem acima dos 4,9 anos de estudo da população mais envelhecida (80 anos ou mais de idade).
“Tem ocorrido uma melhora dos indicadores educacionais no Brasil nas últimas décadas. O filme é positivo, porque a escolaridade vem crescendo, mas a fotografia ainda é muito ruim”, diz André Salata, coordenador do laboratório de estudos PUCRS Data Social, a partir de outras pesquisas já realizadas na área.
“A fotografia é ruim porque, se a gente fizer uma comparação com outros países de desenvolvimento similar, o nível educacional da população brasileira ainda é mais baixo”, completa.
Na visão de Salata, diferentes programas contribuíram para ampliar o acesso ao ensino superior no Brasil nas últimas décadas.
Alguns exemplos, segundo ele, são o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o Prouni (Programa Universidade para Todos) e a política de cotas em universidades.
A expansão da modalidade EAD (educação a distância), diz o pesquisador, também teve um impacto mais recente. A proliferação de cursos do tipo “sem muita regulação”, no entanto, acende alerta sobre a qualidade da aprendizagem, afirma Salata.
Desigualdade entre brancos e pretos e pardos
Mesmo com os avanços, os números do Censo sinalizam que o ensino superior ainda apresenta desigualdades no Brasil. Entre os brancos, a parcela da população de 25 anos ou mais que havia concluído a graduação aumentou de 9,9% em 2000 para 25,8% em 2022.
O percentual de 25,8% é mais que o dobro dos registrados entre pretos (11,7%) e pardos (12,3%) no mesmo ano. Em 2000, a parcela com ensino superior era de apenas 2,1% entre os pretos e de 2,4% entre os pardos.
“Expansão do sistema de ensino não significa, necessariamente, democratização. Isso acontece porque quem se aproveita mais e primeiro das oportunidades abertas são jovens e crianças de famílias com mais recursos econômicos e culturais, que permitem a eles boas notas no Enem e no vestibular, por exemplo”, aponta Salata.
Desigualdades regionais também aparecem nos números do IBGE. Em 2022, o Centro-Oeste mostrou a maior proporção de habitantes de 25 anos ou mais com graduação (21,8%), superando o Sudeste (21%), que estava à frente em 2010, e o Sul (20,2%). O trio tem percentuais maiores do que os verificados no Norte (14,4%) e no Nordeste (13%).
Ensino Superior alcança 37% no DF e 11,1% no MA
No recorte das unidades da Federação, a liderança fica com o Distrito Federal. Em 2022, 37% da população local de 25 anos ou mais tinha ensino superior. São Paulo é o segundo da lista, com 23,3%.
O outro extremo do ranking é ocupado pelo Maranhão, que tem a menor taxa do país: 11,1%. Em 2000, o percentual local era de 1,9%.
Parcela da população com ensino superior completo nas UFs
Pessoas de 25 anos ou mais, em %, em 2022
DF – 37
SP – 23,3
SC – 21,4
AP – 20,9
PR – 20,7
MS – 19,8
RJ – 19,6
RR – 19
RS – 18,8
MT – 18,6
ES – 18,2
TO – 18,1
GO – 18
MG – 17,8
AC – 17,3
RO – 15,6
RN – 15,1
AM – 15
SE – 14,9
PB – 14,5
PE – 14
PI – 13,9
AL – 13,4
CE – 12,7
BA – 12
PA – 12
MA – 11,1
18,4 – Brasil
Fonte: Censo Demográfico/IBGE
Em outro estado nordestino, o Piauí, 49,1% da população de 25 anos ou mais (quase a metade) não tinha instrução ou contava com o fundamental incompleto em 2022, aponta o IBGE. É a maior proporção do país. A menor foi verificada no Distrito Federal (19,2%).
Ainda de acordo com o levantamento, em 3.008 cidades, ou seja, na maioria dos municípios brasileiros, mais da metade da população de 25 anos ou mais não tinha instrução ou apresentava somente o fundamental incompleto.
Outro recorte destacado pelo IBGE abrange os municípios com mais de 100 mil habitantes no país. Nessa comparação, São Caetano do Sul, no ABC Paulista, teve a maior proporção de moradores de 25 anos ou mais com ensino superior concluído: 48,2%. Já o menor patamar foi de 5,7% em Belford Roxo, região metropolitana do Rio.
Dados são amostrais
Os dados divulgados nesta quarta foram levantados de modo preliminar a partir do questionário da amostra do Censo. Esse questionário coleta informações mais detalhadas e é aplicado junto a uma parcela de cerca de 10% dos habitantes.
Os resultados amostrais exigem uma ponderação, recebendo diferentes pesos por meio de técnicas estatísticas para que se tornem representativos da população total. Os números, conforme o IBGE, ainda estão sujeitos a pequenos ajustes, mas sem grandes mudanças no cenário já revelado.