Outubro Rosa: "Nunca deixei me abater", diz empresária ao relatar luta contra o câncer de mama
Por Noelle Neves/Colaboradora em 31/10/2017 às 20:12
OUTUBRO ROSA – A empresária Silvia Sobrinho de Carvalho, de 44 anos, começou a sentir algo diferente no seio esquerdo em meados de junho de 2015. Preocupada com a possibilidade de um câncer, logo procurou um mastologista, mas este garantiu que ela estava bem. “Eu sai de lá despreocupada, mas sempre mexendo nos seios achando que tinha algo errado, mesmo sem qualquer caroço”, contou.
Em setembro do mesmo ano, Silvia sentiu o seio mais pesado e voltou a procurar um profissional, recebendo o mesmo diagnóstico. Ainda desconfiada, foi até a Policlínica de Santos e contou para a médica que a atendeu o que sentia. “Ela me pediu alguns exames. Na mamografia, realmente nada apareceu, mas no ultrassom, o médico me recomendou procurar um bom profissional e fui encaminhada para o Instituto da Mulher”, explicou.
Lá, a empresária conheceu a mastologista Roberta Simões, que logo ao ver os resultados dos exames, pediu uma biopsia. No final do ano, veio a confirmação: Câncer de mama. Um nódulo medindo 1,6 centímetros de grau 4.
“O dia em que eu descobri foi muito difícil. Minha cunhada estava comigo na sala de um dos consultórios do Instituto Mulher e meu marido, por ter dificuldades de andar, me esperando no carro. A Dra. Roberta me deu o diagnóstico, todos os procedimentos e cuidados. Eu só conseguia chorar, porque estava sentindo um medo absurdo. Eu estava tão mal, que na mesma hora chamaram a psicóloga e dois enfermeiros ajudaram meu marido a chegar na sala onde eu estava”, lembrou.
Na consulta, a médica explicou que ela teria que tirar o quadrante do seio e depois passar por alguns tratamentos como quimioterapia e radioterapia. Além de cuidados gerais, como não fazer esforços ou carregar peso.
Assim que recebeu o diagnóstico, depois de conversar com o marido “ficou horas no quarto chorando, sem saber ao certo o motivo”. Quando se acalmou, ligou para algumas pessoas e contou o que estava acontecendo.
“Depois de chorar, coloquei na minha cabeça que eu não poderia ser fraca, porque eu sempre fui a ‘fortaleza’ da casa e se eu caísse, meu marido e minha filha cairiam também. Então eu segui. Sem choro ou reclamações”, declarou.
O marido de Silvia, o empresário Marcelino José de Lima Micro, de 36 anos, tem distrofia muscular: uma doença onde os músculos enfraquecem progressivamente. Segundo a empresária, o marido dependia dela para tudo e ela entrou em crise por pensar que não poderia ajudá-lo. Mas, apesar do diagnóstico ser inesperado para ambos, Marcelino a apoia o tempo todo: “Eu tento fazê-la viver um dia de cara vez”, revelou.
Depois de dar a notícia para todos os amigos e familiares, o tratamento se iniciou. E foi aí que começou o primeiro obstáculo: a médica que Silvia confiava não poderia operá-la. O próximo passo foi conhecer o cirurgião mastologista Marco Antonio Dugatto. E depois do primeiro encontro, ela demorou dois meses para realizar a primeira cirurgia.
Cirurgias
Em fevereiro, a empresária tirou o quadrante do seio. Sua maior preocupação naquele momento não era sua saúde e, sim, o medo de deixar o marido sozinho pela primeira vez, já que teria que passar a noite no hospital. “Graças a Deus, tudo correu bem”, relembrou ela, que voltou para casa com um dreno, que seria usado durante uma semana.
“Logo que eu cheguei em casa, queria um momento sozinha com meu marido. Mas na manhã do dia seguinte que cheguei em casa, Marcelino tropeçou. Nós ficamos em pânico. Eu estava com dreno e ele gritava de dor no chão sem conseguir se levantar. Eu pedi força para Deus e o levantei. Choramos juntos “, recordou.
O resto do tempo com o dreno passou bem. Na consulta seguinte com o Dr. Dugatto foram pedidos exames para checar se tudo tinha ocorrido bem na cirurgia. O resultado? Uma surpresa terrível. Silvia teria que tirar toda a mama.
Foi um choque, mas ela escolheu viver. Saindo do consultório, a empresária foi junto com o marido para um barzinho, onde “beberam um chopp e se fortaleceram”.
A segunda cirurgia foi marcada para abril de 2016. “Todos estavam preocupados comigo, mas eu estava bem. Eu sentia como se tivesse tirando algo ruim de mim, não meu seio”, destacou.
Na visita seguinte ao consultório do médico, uma nova surpresa: foram achados 36 nódulos, sendo 26 malignos.
Quimioterapia
Silvia começou as sessões de quimioterapia em julho do ano passado e só terminou o processo de tratamento em março de 2017. Foram 36 sessões. Este foi um dos períodos mais difíceis para ela. “Era horrível você ficar sem roupa na frente dos outros sem seio. Era a pior parte, eu me sentia péssima. Quase desisti”, contou. No entanto, a presença da filha Suzy, de 23 anos, ajudou a amenizar o desconforto, já que ela sempre a acompanhava nas sessões.
Autoestima
No início do tratamento, a empresária não cortou os cabelos, deixou eles caírem. Até que chegou o momento em não teve mais jeito e ela decidiu cortar os cabelos que tinham sobrado. Ela aprendeu a fazer vários laços no lenço. “Da rua até em casa, eu gostava dos looks. Mas era difícil ao mesmo tempo, porque quem usa lenço sempre é olhado com diferença e pena pelos outros”, desabafou.
Para Silvia, ficar careca foi a pior parte, porque por mais que o lenço a fizesse se sentir bonita, não era possível dormir de lenço.
Marcelino também a incentivou e faz questão de demonstrar todos os dias o quanto ela é linda. “Por causa do meu problema, eu sei como é me sentir diferente dos outros, sabia o que ela sentia. Mas, para falar a verdade, ela sempre foi a mais forte de toda a família”, contou o marido.
O apoio da família e de amigos foi essencial, mas ela acredita que o principal é se sentir bem consigo mesma. “Nunca deixei me abater e sempre procurava ver o lado bom da história. Um deles foi me reaproximar da minha irmã e da minha mãe”, revelou.
Tratamento
Hoje, Silvia toma um remédio que deve ter uso contínuo por mais sete anos. A confiança está crescendo e ela está se sentindo cada mais feliz. Ela também decidiu mudar a sua alimentação e passou a fazer dança em casa. “ Para mim, o câncer é a pior coisa que tem. É como receber uma sentença de morte e morrer aos pouquinhos. Eu sei os meus riscos e meus médicos são muito claros comigo. Mas se antes eu me achava feliz e dizia viver intensamente, você nem imagina como eu vivo agora”, declarou.
Ela ainda não colocou a prótese de mama, porque o médico acredita que seja melhor esperar por um tempo, já que o câncer de Silvia foi muito grave. Porém, a empresária garante que “está muito bem com o sutiã falso”.
O mais difícil, segundo ela, é esperar as consultas para saber o resultado de cada exame. Silvia ainda precisa esperar mais um tempo para saber se o tratamento deu certo. Mas, agora, ela se sente muito mais confiante e otimista: “Você cresce e se fortalece, se aproxima de Deus. É algo que faz você mudar muito como pessoa. Eu sou digna de saúde, paz, felicidade, abundância e realizações”, finalizou.