Morre Jean-Marie Le Pen, líder histórico da extrema direita na França
Por Luana Takahashi/Folhapress em 07/01/2025 às 11:08
Jean-Marie Le Pen, fundador do partido de extrema direita francês Frente Nacional, morreu aos 96 anos nesta terça-feira (7), informou a família do político à AFP.
Le Pen estava internado em uma casa de repouso há várias semanas. O francês sofria com sua saúde debilitada e morreu às 12h (8h do horário de Brasília) ”cercado por familiares”.
Nos últimos anos, ele foi hospitalizado várias vezes. Em fevereiro de 2022, foi internado após sofrer um acidente cardiovascular leve. Já em maio de 2023, sofreu um ”infarto leve”.
Jean-Marie vinha fazendo menos aparições públicas. A mídia francesa observou que ele também não expressava arrependimento pelos comentários polêmicos do passado.
Jordan Bardella, presidente do RN, lamentou a perda pelas redes sociais. ”Sempre serviu a França, defendeu sua identidade e soberania”, declarou.
Quem foi Jean-Marie?
Le Pen nasceu em 20 de junho de 1928 em La Trinité-sur-Mer, no este da França. Ele era formado em direito e serviu como legionário nas guerras coloniais da então Indochina (1953) – hoje Vietnã – e da Argélia (1957).
Tornou-se o legislador mais jovem da França, ao ser eleito à Assembleia Nacional com apenas 27 anos. O político passou décadas tentando gerar repulsa à imigração, e sua carreira política decaiu depois de mais de meio século em que seu racismo declarado o levou a ser conhecido como o “diabo da república”.
Jean-Marie Le Pen foi candidato à Presidência cinco vezes. Em 2002, chegou ao segundo turno, sendo derrotado por esmagadora maioria por Jacques Chirac.
Em 1972, assumiu a direção de um novo partido que reunia neofascistas: a Frente Nacional. Ele foi sucedido como chefe do partido por sua filha, Marine Le Pen, que desde então concorreu à Presidência três vezes e transformou o partido, agora chamado de Reunião Nacional, em uma das principais forças políticas do país.
Jean-Marie fez com que a legenda se tornasse uma história de família. Pouco mais de quatro décadas depois da criação do partido, colocou suas filhas, genros e, em 2012, uma neta, Marion Marion Maréchal-Le Pen, nos postos de direção do partido. Ele permaneceu como presidente honorário até março de 2018.
Posicionamentos polêmicos
Declarações racistas, antissemitas e xenófobas marcaram a atuação política de Le Pen. Ultradireitista, ele frequentemente fazia ataques verbais contra negros, judeus e estrangeiros, principalmente os árabes. Em um dos casos, declarou que as câmaras de gás foram ”um detalhe na história da Segunda Guerra”.
Ele condenava a participação da França na União Europeia. Em uma das corridas eleitorais para presidente, ele se declarou como o candidato da França contra a euroglobalização e prometeu retirar o país do tratado de Maastricht, que fundamentou a União Europeia em 1991.
Le Pen costumava responsabilizar estrangeiros pelos problemas da França. Ele dizia que eles eram os responsáveis pela violência, pela falta de postos de trabalho e afirmava que, se “se não estavam bem na França, o melhor era retornar a seus países”.