Lúcia Teixeira Furlani reflete sobre ameaças ao planeta e a preservação
Por Assecom/Unisanta em 17/03/2014 às 13:24
A presidente da Universidade Santa Cecília (Unisanta), dra. Lúcia Maria Teixeira Furlani, mestre e doutora em Psicologia da Educação, propõe uma reflexão sobre os riscos à sobrevivência do homem diante do aquecimento global e a indiferença da humanidade diante dessa perspectiva sombria. Um texto sobre o tema foi publicado nesta segunda-feira (17) em um jornal impresso de grande circulação na região da Baixada Santista.
O título do artigo, “Dinheiro dá em árvore? E no mar?” é uma referência ao título do livro do ambientalista inglês Tony Juniper, que, advertiu: O que a Natureza Fez por Nós – Dinheiro Dá Sim em Árvores). “Se atribuirmos um valor financeiro aos serviços prestados gratuitamente pela natureza, quem sabe deixaremos de agir como se os recursos do planeta nunca fossem acabar”, diz um trecho do artigo. “As temperaturas estão, a cada ano, cada vez mais quentes no planeta; a diminuição do mar congelado do Ártico desestabilizou um padrão climático e correntes de jato criam zonas de frio e calor extremos no mundo”, afirma a educadora e pesquisadora.
A educadora cita a obra do ambientalista. “Em uma sociedade habituada a valorizar os ganhos materiais a qualquer custo, quantificar o que de graça recebemos serve de alerta, antes que se acabe o que nos sustenta. O ambientalista inglês Tony Juniper , no livro What has Nature Ever Done for Us – How Money Really Does Grow on Trees (em tradução livre , O que a Natureza Fez por Nós – Dinheiro Dá Sim em Árvores) vai nessa direção”.
A reflexão de Lúcia se reporta à mortandade de pequenos peixes mortos vistos na linha da maré das praias de Santos, há alguns dias. Ela menciona ainda citações de Monteiro Lobato e dos índios Cree, sobre a indiferença da humanidade diante dos riscos ao planeta. O artigo propõe a aproximação entre os pesquisadores e o poder público, como um dos caminhos para preservarmos “os sistemas de manutenção da vida na Terra, abusados sistematicamente”.
Como exemplo, cita o aproveitamento dos peixes desprezados pela pesca predatória , que descarta espécies sem valor comercial, e que podem ser aproveitadas em merenda escolar de escolas públicas, como demonstrou pesquisa de professores da Unisanta, na década de 90. “A cooperação firmada recentemente, entre Sabesp e Universidade Santa Cecília, inédita no Brasil, avança nesse sentido, ao medir a balneabilidade do mar com diferentes padrões”, afirma Lúcia. Confira abaixo o texto completo:
Dinheiro dá em árvore? E no mar?
É o que me vem à cabeça ao caminhar neste verão na praia de Santos e ver tantos peixes pequenos mortos na linha da maré. Aprender a preservar. Se atribuirmos um valor financeiro aos serviços prestados gratuitamente pela natureza, quem sabe deixaremos de agir como se os recursos do planeta nunca fossem acabar.
A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da terra (…) onde vivem todos os animais, respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem. As palavras de Monteiro Lobato são mais atuais do que nunca.
As temperaturas estão, a cada ano, mais quentes no planeta; o degelo das regiões polares desestabiliza o padrão climático, gerando correntes de frio e calor extremos no mundo.
Em uma sociedade habituada a valorizar os ganhos materiais a qualquer custo, quantificar o que de graça recebemos, serve de alerta, antes que se acabe o que nos sustenta. O ambientalista inglês Tony Juniper, no livro What Has Nature Ever Done for Us – How Money Really Does Grow on Trees (em tradução livre, O que a Natureza Fez por Nós – Dinheiro Dá Sim em Árvores), vai nessa direção.
Muito antes, os índios Cree clamavam: Somente após a última árvore ser cortada. Somente após o último rio ser envenenado. Somente após o último peixe ser pescado. Somente então o homem descobrirá que o dinheiro não pode ser comido.
No caso dos peixinhos mortos em nossa praia, sabemos que no verão, muitas podem ser as causas dessa mortalidade . Uma delas é a redução de oxigênio na água, como consequência da alta temperatura e do aumento de matéria orgânica neste período. Outra, peixes desprezados e devolvidos ao mar, depois de pescados. Tanto no excedente de pesca amadora como na comercial.
No primeiro caso, trata-se da pesca amadora do picaré, efetuada por um segmento da população que não depende do pescado para a subsistência e utiliza rede de arrasto pela praia, com malha de diâmetro muito fino.
Já na pesca comercial que ocorre em nossa região costeira, peixes pequenos são capturados junto com o objeto maior da pesca, normalmente o camarão, sendo posteriormente devolvidos mortos ao mar. O desprezo desse material ocorre por não haver interesse comercial em peixes pequenos, considerados fauna acompanhante descartável, conforme relatado em pesquisas dos professores da Unisanta, João Miragaia e Jorge Luis dos Santos, na década de 1990. A pesquisa experimentou esse material rico em proteínas, na merenda de escola pública do nosso litoral, mostrando que de fato poderia ser bem aproveitado.
Padrões da diversidade dos peixes e os efeitos ambientais, com dados relevantes para a gestão pesqueira, são analisados e monitorados em outro projeto, pelos professores Matheus Rotundo, Walter Barrella e Milena Ramires, desde 1998. Estes e muitos outros conhecimentos, já disponibilizados pela comunidade acadêmica, estão prontos para serem implantados pelos poderes públicos, com grande alcance social. A cooperação firmada recentemente, entre Sabesp e Universidade Santa Cecília, inédita no Brasil, avança nesse sentido, ao medir a balneabilidade do mar, com diferentes padrões que passam a ser incorporados pelo modelo hidrodinâmico da Unisanta; a parceria dá continuidade ao Projeto Ecomanage , coordenado pelo prof Fabio Giordano e desenvolvido pela Unisanta e Comunidade Européia.
A aproximação entre academia e poder público é um dos caminhos para preservarmos os sistemas de manutenção da vida na Terra, abusados sistematicamente.
Termino minha caminhada lembrando de Drummond: A natureza não faz milagres, faz revelações.