Grandes empresas dos EUA abandonam políticas de diversidade em meio a pressão conservadora
Por Folha Press em 17/01/2025 às 10:46
Ao menos dez grandes empresas dos EUA extinguiram ou afrouxaram suas políticas de diversidade, que tinham o objetivo de gerar ambientes mais inclusivos e atuar contra a discriminação no espaço de trabalho.
Embora sejam firmas relevantes, a maioria das companhias dos EUA ainda mantém suas plataformas de DEI (sigla em inglês para diversidade, equidade e inclusão), segundo o think thank Centro Nacional para Pesquisa de Políticas Públicas, que advoga pelo fim dessas medidas.
Ethan Peck, vice-presidente da entidade, que tem ações em mais de cem empresas, espera que com a posse de Donald Trump, na próxima segunda-feira (20), haja uma tendência de extinção dessas políticas.
As mudanças ocorrem na esteira de uma decisão da Suprema Corte dos EUA de encerrar ações afirmativas em admissões universitárias, em 2023.
Entre os gigantes que eliminaram ou enxugaram suas política de diversidade estão Meta, Amazon, Walmart, Ford, John Deere, Harley-Davidson, McDonalds, Boeing, Molson Coors, Lowes e Jack Daniels.
Em um comunicado enviado a acionistas em 6 de janeiro, o McDonalds informou que eliminará o compromisso de políticas de diversidade na contratação da cadeia de fornecedores para ter uma “discussão mais integrada” com eles sobre inclusão.
“Estamos evoluindo a forma como nos referimos à nossa equipe de diversidade, que agora será chamada de Equipe Global de Inclusão. Esta mudança de nome é mais adequada para o McDonald’s à luz do nosso valor de inclusão e alinha-se melhor com o trabalho desta equipe”, informaram os executivos.
A mudança não foi vista como suficiente por quem advoga contra as políticas de igualdade e a rede de lanchonetes acabou processada por ter mantido um programa que concede bolsas de estudo a estudantes latinos e hispânicos nos EUA.
A Ford Motors afirmou em comunicado de agosto do ano passado que não usará “cotas para concessionárias ou fornecedores minoritários” e que não tem cotas para contratação de pessoal.
A companhia também decidiu deixar de participar de pesquisa que mede a taxa de inclusão de grupos minoritários nas companhias, e dos levantamentos de “melhores lugares para trabalhar”. A mesma decisão foi tomada pela empresa de material de construções Lowe’s. Em comunicado em agosto de 2024, a empresa disse ainda que acabaria com pesquisas focadas em grupos específicos, como a população LGBTQIA+ para focar em “todos”. O informe consta num documento obtido pela Associated Press em 2024.
No mesmo período, a Harley Davdison, firma de motocicletas, avisou que acabaria com algumas metas do programa de inclusão e equidade e que deixaria de ter “metas de gastos com diversidade de fornecedores” para contratar negócios operados por pessoas de origens distintas. Pouco antes, as empresas Tractor Supply Company e a John Deere, que produz equipamentos para agricultura, tomaram a mesma medida.
A empresa de bebidas Molson Coors Brewery avisou seus funcionários em setembro de 2024 que não teria mais “metas de representação” para a equipe, deixaria de participar de índices que medem a equidade e pararia de patrocinar eventos como as festas para celebrar o Orgulho LGBTQIA+.
A produtora do uísque Jack Daniels também informou ano passado a redução de suas políticas de inclusão dizendo se tratar de “novas dinâmicas”. Em novembro, a Boeing acabou com o time global de diversidade, equidade e inclusão.
As mudanças ocorreram diante de pressão conservadora nas redes sociais. Outras empresas, porém, se recusaram a voltar atrás nas metas de igualdade e diversidade. Entre elas estão a Apple e a gigante do varejo Costco. Ambas as empresas pediram aos seus acionistas que rejeitassem proposta do think thank National Center for Public Policy Research.
O vice-presidente da organização, Ethan Pech, afirmou à reportagem que poucas empresas aboliram as políticas e que eles insistirão em tentar encerrar os programas de diversidade.
“A maioria das empresas ainda tem subsídios DEI. Nós temos ações nessas empresas e apresentamos propostas de acionistas que são votadas na reunião anual”, disse.
“Diversidade, equidade e inclusão não são uma boa estratégia corporativa porque arriscam litígios legais por discriminar com base em raça e sexo nos Estados Unidos. E assim, arrisca litígios de funcionários, talvez de fornecedores”, afirma.
A outra razão pela qual diz ser contra essas políticas é porque na visão dele priorizam “ideologia” no lugar de “mérito e excelência”.
“Acho que com as mudanças no sentimento sobre diversidade, equidade e inclusão, com muitos dos primeiros passos que algumas empresas deram para abandoná-lo, e agora com uma nova administração que é contra o DEI, acho que muitas mais empresas vão abandonar neste ano”, avalia.