12/01/2022

Especialistas dizem ser arriscado manter Carnaval no Sambódromo do Rio

Por Folha Press em 12/01/2022 às 10:50

Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil

Apesar do Rio cancelar o Carnaval de rua, o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí e os bailes de Carnaval estão mantidos por enquanto. Mas especialistas dizem que é arriscado e prematuro manter esses eventos enquanto a capital assiste a um aumento de casos de covid-19, fenômeno impulsionado pela variante ômicron, cepa que já é dominante no município.

“Eu acho que toda e qualquer aglomeração que seja feita nas próximas semanas será motivo de um espalhamento ainda maior da variante ômicron”, diz o infectologista Roberto Medronho, professor da Ufrj (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro do comitê científico do estado.

Medronho foi um dos membros do colegiado que, na última sexta (7), desaconselhou a realização de eventos que gerem aglomeração, inclusive os do Carnaval. De acordo com ele, se manter os festejos, poderá haver um aumento no número de mortes.

“A discussão que eu proponho é ética”, afirma ele. “Estamos dispostos a pagar para ter uma festa que, sim, gira a economia e faz bem para a saúde mental, mas que pode gerar óbitos?”

Embora a quantidade de óbitos na cidade continue em um patamar baixo, a taxa de casos positivos e a de internações têm aumentado. Em quatro dias, o total de internações na rede pública cresceu três vezes. Na sexta (7), havia 47 pessoas internadas, número que saltou para 141 nesta terça (11).

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, por volta de 93% desses pacientes não têm o esquema vacinal completo e 43% não tomaram nenhuma dose da vacina. Já 44% dos testes realizados na cidade deram resultado positivo para a covid. Em meados de dezembro, esse percentual estava em 1%.

Transmissão do vírus

O prefeito Eduardo Paes (PSD) diz que os desfiles no Sambódromo podem acontecer, porque seria possível promover o controle sanitário no ambiente.

Medronho diz, porém, que existem riscos de transmissão mesmo com o protocolo sanitário. “Os indivíduos vacinados podem se infectar apesar de vacinados. E, mesmo que façam o teste RT-PCR, existem os falsos negativos. A pessoa vai contaminar os outros mesmo que eles estejam vacinados.”

O epidemiologista Mario Dal Poz vai ao encontro dessa avaliação. “É possível ter se infectado, estar com o exame negativo e carregar o vírus por aí”, diz ele, que é professor do departamento de medicina social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

De acordo com ele, não basta apenas suspender o Carnaval de rua, é importante cancelar eventos em espaços que gerem aglomeração. Isso inclui, diz ele, os desfiles no Sambódromo.

“Ele é em tese um espaço aberto, mas não é exatamente assim. Todos os camarotes são fechados. Além disso, fora deles, as pessoas vão socializar, vão cantar, beber”, afirma o professor, acrescentando que o uso da máscara vai acabar sendo deixado de lado nesse contexto. “É um risco enorme.”

Decisão precipitada

A epidemiologista Gulnar Azevedo diz que a decisão de manter os desfiles ainda é prematura. De acordo com ela, seria preciso ter certeza de que os casos de ômicron vão começar a cair e ter vacinado as crianças. No Rio, a imunização desse grupo começa na próxima segunda (17).

“Eu acho muito arriscado decidir isso agora, porque o aumento da transmissão pela ômicron é assustador. A positividade dos testes nas unidades da prefeitura está maior que 40%, o que significa que tem muita gente infectada”, diz ela, que também é professora da UERJ.

Azevedo salienta que, embora se mostre mesmo agressiva, a variante tem alto poder de transmissão. Segundo ela, mesmo que haja um número menor de casos graves, eles podem ser expressivos por causa da quantidade de infecções. “Uma coisa é 1% em cem, outra coisa 1% em um milhão.”

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde diz que está acompanhando o comportamento da nova variante. “Qualquer alteração no mapa de risco passa pela análise criteriosa dos dados epidemiológicos e novas medidas e estratégias poderão ser então definidas, inclusive referente ao Carnaval. Mais informações sobre o assunto serão divulgadas oportunamente.”

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