Energia limpa faz China bater recorde de exportação para o Brasil, que segue vendendo commodities
Por Pedro Lovisi/Folhapress em 17/01/2025 às 10:25
Produtos ligados à transição energética, como painéis solares e carros elétricos, representaram 11,4% das importações brasileiras vindas da China em 2024. Trata-se do setor líder nas importações vindas do país asiático. Os dados são de um levantamento feito pelo CEBC (Conselho Empresarial Brasil China).
Mercadorias verdes têm crescido de forma consistente na balança comercial dos dois países nos últimos anos, saltando quase dez pontos percentuais entre 2020 e 2024. As importações de produtos chineses, aliás, bateram recorde no ano passado, somando US$ 63,3 bilhões (R$ 382 bi), 19,6% a mais do que em 2023.
Já as exportações brasileiras para a China caíram 9,5%, atingindo US$ 94,4 bilhões -a primeira redução desde 2019, quando as vendas diminuíram 1%. Apesar da queda, a balança comercial entre Brasil e China teve saldo positivo de US$ 30,8 bilhões para os brasileiros -40% menos que o ano anterior- , e a China respondeu por 41% do superávit total do Brasil com o mundo.
Mas há uma histórica disparidade de valor agregado dos produtos negociados entre os dois países.
Ao todo, 99,7% das importações chinesas vieram da indústria de transformação. O Brasil, por outro lado, segue exportando, predominantemente, petróleo, soja e minério de ferro para os chineses. Dos US$ 94,4 bilhões vendidos para a China no ano passado, 80% foram de produtos ligados à indústria extrativa e agropecuária.
A indústria de transformação respondeu apenas por 20% das vendas brasileiras, com fatia significativa de segmentos ligados ao agronegócio, incluindo carne bovina e celulose. Ainda assim, a participação do setor nas exportações cresceu dois pontos percentuais em relação a 2023.
“Para o Brasil aumentar a renda per capita, o país precisa desenvolver mais atividades que tenham alta remuneração, alto conteúdo tecnológico e mais inovação. O agronegócio e as commodities não têm isso; em geral, são os serviços sofisticados ou os bens industriais capazes de pagar remuneração mais elevada”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master e autor de livros sobre desenvolvimento econômico.
“Se a gente ficar só em commodities e agro, a gente nunca vai conseguir aumentar a renda per capita e os salários do país”, acrescenta.
A disparidade de valor agregado na balança comercial entre os dois países foge do comportamento da balança comercial do Brasil com seus outros principais parceiros comerciais. A indústria de transformação brasileira foi responsável por 93% das vendas para a Argentina, 79% para os Estados Unidos e 47% para a União Europeia.
Desde 2000, início da série formulada pelo CEBC, quase todas as exportações chinesas para o Brasil vieram da indústria de transformação. Mas nos últimos oito anos essa participação passou sucessivamente dos 99%, chegando a 99,7% em 2024.
“Mesmo a pauta sendo quase 100% composta por manufaturados industriais há mais de duas décadas, o perfil mudou nos últimos 25 anos. Em 2000, a maioria dos importados era composta por produtos como partes de televisores, telefones e afins. As importações nessas áreas ainda são relevantes, mas foram ultrapassadas por produtos como painéis solares e carros eletrificados”, diz Tulio Cariello, diretor de conteúdo do Conselho CEBC.
De acordo com o levantamento, entre 2023 e 2024, o valor das compras de carros elétricos triplicou, enquanto o de carros híbridos saltou 222% -o maior aumento dentre os dez principais produtos vindos da China.
No ano passado, o país asiático respondeu por 85% das importações nacionais de carros elétricos, números impensáveis no início da década, quando o mercado brasileiro ainda recebia predominantemente veículos de fornecedores ocidentais, como dos Estados Unidos, Bélgica e Alemanha.
Cresceram também as importações de motocicletas chinesas com motor de combustão (237%) e eletrificadas (124%). A China forneceu 47% das motos importadas pelo Brasil, seguida por Índia (11%), Japão (7,7%), Tailândia (7%) e Indonésia (6%).
Metade dos carros eletrificados chineses, comprados em 2024, inclusive híbridos, desembarcou no Brasil em junho -em julho, o governo aumentou o imposto de importação dos veículos elétricos de 10% para 18%. Um ano antes, não havia taxa para esse tipo de produto.
Já o volume das compras de painéis solares chineses cresceu 25% em 2024, com a China fornecendo quase todos os equipamentos importados pelo Brasil. Mas os recursos negociados caíram 31%, devido à queda nos preços dos painéis -o que contribuiu para o aumento dos investimentos em energia solar no Brasil e o fechamento de algumas fabricantes na China.
O volume das compras de turbinas eólicas, por sua vez, cresceu seis vezes em 2024. O valor dos desembarques acompanhou a expansão, com crescimento de 256%, somando US$ 346 milhões. A China respondeu por 97% das importações de turbinas eólicas do Brasil. Mas, ao contrário do setor solar, a maior parte da indústria eólica nacional é formada por fornecedores brasileiros.
Por outro lado, dos dez produtos mais vendidos para a China, o faturamento das vendas de minério de cobre teve o maior crescimento (54%), puxado pelo aumento do preço (14%) e do volume embarcado (33%). A China absorveu 20% das exportações de minério de cobre do Brasil, seguida por Alemanha (18%) e Polônia (12%).
Segundo maior produto da indústria de transformação a ser exportado para a China em 2024, o setor de celulose viu seu faturamento das vendas para o país asiático crescer 26%. Nesse caso, o aumento de 25% no preço do produto compensou a queda de 7% no volume embarcado.