15/01/2015

Em 2003, morria ex-prefeito de Santos, Oswaldo Justo, aos 76 anos

Por Juan Reol/#Santaportal em 15/01/2015 às 22:30

RETROSPECTIVA 18 ANOS – No dia 26 de janeiro de 2015 o Sistema Santa Cecília de Comunicação completa 18 anos de existência. Em comemoração ao aniversário, que traz a responsabilidade da maioridade, o #Santaportal, “filho mais novo” do sistema, publica uma série de textos que lembram fatos marcantes da região metropolitana da Baixada Santista.

No #Retrospectiva18Anos de quinta-feira (15), o sétimo a ser veiculado, saudamos o ex-prefeito de Santos e um dos principais líderes políticos do estado de São Paulo, Oswaldo Justo, falecido em 14 de abril de 2003. Presidente do PMDB após encerrar seus mandatos, ele foi um importante opositor à Ditadura Militar, que assolou o País durante 21 anos.

Oswaldo Justo nasceu em Santos (SP) no dia 16 de setembro de 1926. Era filho de Manoel Justo e da espanhola Maria Peres Justo. Após a infância simples, se esforçou bastante durante a juventude para chegar onde chegou. Ao mesmo tempo fazia o Tiro de Guerra, pela manhã, trabalhava em uma sapataria, à tarde, sendo que, na hora do almoço, fazia curso de datilografia, e à noite ele estudava.

Iniciou sua carreira na política em 1951 quando, pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), foi eleito vereador da Câmara Municipal de Santos pela primeira vez. Ele permaneceria ainda no Legislativo Santista por mais duas oportunidades, de 1956 a 1960 e de 1960 a 1964. Os dois últimos mandatos pelo Partido Social Progressista (PSP) e com Adhemar de Barros como padrinho político.

Em 1958 se formou advogado no curso de Direito da Universidade Católica de Santos. Passou na OAB/Subsecção de Santos em 14 de junho de 1960. Um ano antes, em 1957, casou com Dona Nilze Bacci, com quem teve dois filhos, Inês e Luciano.

Após o Golpe Militar de 1964, teve seu primeiro problema com a Ditadura. Durante seu terceiro mandato como vereador, foi preso devido seu envolvimento com o então prefeito santista da época, José Gomes, este acusado de ligação com grupos sindicalistas de orientação marxista. Com a instituição do bipartidarismo, passou do PSP para o Movimento Democrático Brasileiro, o MDB.

Em 1969 foi eleito pelo povo vice-prefeito de Santos ao lado de Esmeraldo Tarquínio, então deputado estadual. Devido ao Ato Institucional nº 5, o AI-5, o então prefeito eleito de Santos teve seus direitos políticos cassados, com os militares indicando Oswaldo Justo, o vice, para assumir o Paço Municipal na Praça Mauá, no Centro Histórico.

Insatisfeito com as ações ditatoriais dos militares, Justo se recusou a assumir a Prefeitura de Santos, renunciando em solidariedade a Esmeraldo Tarquínio. A atitude não foi bem recebida pela Ditadura, que decidiu, então, intervir no município e instituir como prefeito o General Clóvis Bandeira Brasil.

Em 12 de setembro de 1969 o Decreto-Lei 865 determinou que Santos passasse a ser considerada área de segurança nacional – usando como a desculpa do Porto de Santos e a grande presença de instalações militares – e que perdesse a autonomia de eleger democraticamente seus prefeitos, estes então sendo indicados diretamente pelo presidente. A Câmara Municipal ficou fechada das eleições de 1969 até julho de 1970.

Apenas em 1983, 16 anos depois, é que a cidade de Santos recuperou sua autonomia, graças à redemocratização que aconteceu no Brasil. Oswaldo Justo, já no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), foi o principal nome das eleições democráticas que aconteceriam no ano seguinte, em 1984. Para vice ele escolheu Esmeraldo Tarquínio Neto, filho de seu colega de combate à Ditadura, Esmeraldo Tarquínio (12/04/1927-10/11/1982).

Uma curiosidade, nas eleições de 1984, Justo enfrentou o então último prefeito imposto pela Ditadura, Paulo Gomes Barbosa, que não conseguiu sua reeleição. Anos mais tarde, em 2012, o filho de Barbosa, Paulo Alexandre Barbosa, foi eleito democraticamente prefeito de Santos.

Oswaldo Justo comandou Santos de 1984 a 1988. Com uma visão urbanista, mudou a “cara” do município com a reformulação total da avenida da Praia (avenida Presidente Wilson, Vicente de Carvalho e Bartolomeu de Gusmão) e com o ajardinamento dos entornos das ferrovias santistas, que cruzavam a cidade. A flor margarida, plantada em larga escala na cidade, se tornou símbolo de sua gestão.

Popularmente, o ex-prefeito ficou famoso por “espalhar” gatos nos jardins da praia para que estes eliminassem os ratos, que cada vez mais assustavam quem caminhava pelo local. A ideia funcionou em um primeiro momento mas, tempos depois, resultou em doenças de pele nas pessoas que frequentavam a praia e mexiam na areia. Até os dias de hoje Justo é lembrado pelos gatos.

Outro fato marcante de sua gestão aconteceu em consequência de sua saúde. Recém submetido a tratamento da pólio-artrite-reumatóide crônica, procurou auxílio na medicina oriental, o que o fez mudar seu estilo de vida adotando uma alimentação macrobiótica. Além disso, passou a praticar karatê, chegando à faixa preta. O amor por este esporte o fez introduzir a prática nas escolas municipais.

Ainda devido às mudanças em sua vida devido o combate à pólio-artrite-reumatóide crônica, ele passou a acordar todos os dias às 4 horas. Sem sono e preocupado com os rumos de Santos, chegava na Prefeitura muito cedo, e marcava reuniões às 6 horas tanto com seus secretários como com lideranças populares. Os encontros da madrugada lhe renderam o apelido de Prefeito da Alvorada.

Após deixar a Prefeitura – em seu lugar entrou Telma de Souza (PT) -, Oswaldo Justou voltou para o Poder Legislativo, mas desta vez em âmbito estadual. Em 1990 foi eleito deputado estadual, cargo que foi reeleito em 1994, permanecendo até 1998, seu último mandato na política.

Ele ainda tentou ser prefeito de Santos em mais duas oportunidades, em 1992, quando perdeu para David Capistrano Filho (PT), então indicado por Telma de Souza (PT), e em 1996, quando foi derrotado por Beto Mansur, então no PPB (atualmente é deputado federal pelo PRB).

A partir de 1998, quando terminou seu mandato como deputado estadual, assumiu a presidência do PMDB em Santos, se tornando uma das referências do partido na Baixada Santista. Mesmo terminando seus dias sem tanta influência, deixou dois fortes “afilhados” na política, o ex-prefeito de Santos em dois mandatos e atual deputado federal, João Paulo Tavares Papa (PSDB), e o atual prefeito de Bertioga, em seu terceiro mandato, Mauro Orlandini (DEM).

Após uma longa batalha contra o câncer de próstata, um dos principais opositores à Ditadura Militar do estado de São Paulo faleceu, aos 76 anos, no dia 14 de abril de 2003. Oswaldo Justo foi enterrado no Cemitério da Filosofia, popularmente conhecido como Cemitério do Saboó. Em Santos, autoridades e integrantes de famílias importantes são sepultados no Cemitério do Paquetá, conhecido como “da elite”. Justo, do povo, está onde estão muitas das pessoas que passou a vida inteira a defender.

Em 2007, Francisco La Scala Júnior, renomado jornalista de Santos e também professor de Jornalismo na Universidade Santa Cecília e apresentador do programa Jornal Enfoque, veiculado na Santa Cecília TV, escreveu o livro Justo – Uma História de Honradez, definindo o ex-prefeito como “um político decidido, de posições firmes”.

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