01/10/2024

Dólar e Bolsa sobem, com dados dos EUA e escalada de conflitos no Oriente Médio

Por FOLHAPRESS em 01/10/2024 às 16:17

O dólar apresenta alta nesta terça-feira (1º), com os investidores analisando projeções de cortes menores nos juros dos Estados Unidos e a escalada de conflitos no Oriente Médio.

Às 14h18, a moeda avançava 0,51%, a R$ 5,476, em linha com o movimento no exterior. Já a Bolsa avançava 1,05%, a 133.206 pontos, amparada pela disparada dos papéis da Petrobras.

O mercado seguia atento a relatórios sobre o estado do mercado de trabalho dos EUA, em busca de sinais sobre a trajetória da taxa de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).

A semana guarda uma série de divulgações relevantes para a composição do cenário. Nesta terça, foi publicado o relatório Jolts (pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de trabalho, em inglês) de agosto.

As vagas de emprego em aberto subiram em 329.000, atingindo 8,04 milhões. A expectativa era por 7,66 milhões, em sinal de recuperação do mercado de trabalho.

Amanhã, o ADP trará o número de vagas criadas no setor privado no mês passado. O grande foco dos investidores, porém, está na sexta-feira, quando serão publicados os dados do “payroll” (folha de pagamento, em tradução literal), o indicador mais amplo de desemprego do país.

A atenção dos operadores ao mercado de trabalho americano acompanha a mudança de foco do Fed, que baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de emprego e de inflação -dinâmica chamada de “mandato duplo” no jargão econômico.

Nos últimos meses, os indicadores inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego têm desacelerado a cada nova leitura.

Na última decisão de política monetária, no dia 18 de setembro, a autoridade americana fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos sob a justificativa de desaceleração do mercado de trabalho. A taxa foi reduzida em 0,50 ponto percentual e agora está na faixa de 4,75% e 5%.

A dúvida dos investidores é sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso na segunda-feira, Jerome Powell, presidente do Fed, disse prever mais duas reduções na taxa de juros, de 0,25 ponto cada, “se a economia tiver o desempenho esperado”.

A expectativa por reduções menores inverteu as apostas na ferramenta CME FedWatch. Agora, um corte de 0,25 ponto na próxima reunião do Fed tem 60,2% de probabilidade, sendo que, até semana passada, o de 0,50 ponto era o majoritário.

A perspectiva fazia o dólar se valorizar globalmente, na esteira da alta dos títulos ligados ao Tesouro dos EUA, chamados de Treasuries.

A escalada de tensões no Oriente Médio ainda pesava nesta sessão. O Irã disparou mísseis contra Israel, em meio à ofensiva de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano.

Temores de uma guerra generalizada na região afetavam os preços do petróleo, que pode ter a oferta reduzida a depender do desenrolar do conflito. O barril do tipo Brent, referência de cotações no exterior, disparava 5%.

Na esteira, a Petrobras tinha ganhos de mais de 4% na Bolsa brasileira.

Aqui, os olhos também estão voltados para a política monetária. O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou que o país precisará de algum programa que gere a percepção de um choque fiscal positivo se quiser conviver com juros mais baixos.

“Quando a gente vê que o mercado começa a ter questionamentos sobre a trajetória da dívida fica muito mais difícil conviver com juros baixos, a curva de juros longa sobe rapidamente”, disse em evento promovido pela gestora Crescera Capital, em São Paulo.

“Optar por juros artificialmente mais baixos sem ter a âncora fiscal é equivalente a produzir um ajuste via inflação no médio prazo.”

Os comentários seguem um momento de preocupações renovadas dos investidores com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, à medida que o Executivo persegue a meta de déficit primário zero para este ano.

No mesmo dia em que o Fed cortou os juros, o BC reiniciou o ciclo de apertos na Selic e subiu a taxa em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano. Na comunicação que sucedeu a decisão, os membros do Copom (Comitê de Política Monetára) reforçaram a defesa de uma política fiscal crível e transparente para reduzir as pressões inflacionárias em curso.

O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, previu nesta semana que a dívida bruta do governo subirá até se estabilizar em 81% em 2028, patamar mais alto do que o previsto inicialmente pela equipe econômica ao aprovar o novo arcabouço fiscal.

O governo vem sendo alvo de críticas pelo uso de soluções criativas para ampliar a contabilização de receitas fiscais ou implementar programas que não gerem pressão no Orçamento, diante das limitações impostas pelas regras fiscais.

Uma política de gastos expansionista costuma aquecer a atividade econômica, o que, no médio e longo prazo, tende a se traduzir em mais inflação.

O BC trabalha com uma meta de inflação em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto). A taxa Selic é o principal instrumento da autarquia para controlar a subida de preços.

Na semana passada, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), uma espécie de prévia da inflação oficial do país, mostrou alta de 0,13% do custo de vida em setembro, ante expectativa de 0,28% de analistas.

Com o resultado, o índice desacelerou a 4,12% no acumulado de 12 meses. O patamar era de 4,35% na divulgação anterior.

Ainda que o IPCA-15 tenha mostrado uma desaceleração na leitura anual, o IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), conhecido como a “inflação do aluguel”, acelerou a 0,62% em setembro, depois de ter avançado 0,29% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas) na sexta-feira.

A expectativa de analistas era de que a alta fosse de 0,47%. Com o resultado, o acumulado de 12 meses bateu 4,53%.

A perspectiva de aperto na Selic costuma favorecer o real, ainda que penalize o mercado acionário. Isso porque o aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estado Unidos atrai investidores da modalidade “carry trade”, isto é, quando tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam esses recursos em países de taxas baixas.

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