Dólar cai e Bolsa tem forte alta com dados de inflação e cenário político no radar
Por Folhapress em 23/12/2025 às 16:27
O dólar está em queda nesta terça-feira (22), com investidores digerindo os dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15) de dezembro, cuja aceleração veio ligeiramente abaixo das expectativas.
Operadores ainda repercutem o cancelamento da entrevista de Jair Bolsonaro por questões de saúde. Seria a primeira fala pública do ex-presidente desde que ele foi preso por tentativa de golpe de Estado.
Às 14h57, a moeda recuava 0,83%, cotada a R$ 5,536, também afetada por dois leilões do BC (Banco Central). Já a Bolsa avançava 1,12%, a 160.381 pontos.
Em época tradicionalmente marcada por baixa liquidez nos mercados, o foco no Brasil segue voltado à corrida eleitoral de 2026.
A despontada do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em pesquisas eleitorais tem preocupado agentes do mercado pela possibilidade de dividir a oposição ao governo Lula (PT) e, assim, fortalecer a campanha de reeleição do atual presidente.
Na última pesquisa Bloomberg/AtlasIntel, divulgada quinta-feira (18), o senador somava 21,3% de intenções de voto, enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome favorito da Faria Lima para a disputa, tinha 15%. Lula liderava com 47,9%.
Sem novas sinalizações de que Flávio poderá desistir da corrida, o mercado tem desmontado as posições do apelidado “Tarcísio Trade”, isto é, operações que previam que uma eventual vitória do governador de São Paulo destravaria uma valorização mais acentuada dos ativos brasileiros, como Bolsa e real.
A sensibilidade do assunto também inspira volatilidade nos ativos. O ex-presidente Jair Bolsonaro iria conceder entrevista ao portal Metrópoles nesta tarde, a primeira desde que foi preso, mas cancelou por questões de saúde.
O cancelamento deixou o mercado intrigado. Parte dos operadores acredita que pode haver alguma hesitação por parte do ex-presidente em confirmar Flávio como seu candidato ao Palácio do Planalto em 2026. A entrevista seria uma oportunidade para tirar a prova sobre a preferência de Bolsonaro pelo filho mais velho. Sem a confirmação, os investidores voltam a especular se Tarcísio segue no páreo.
O dólar ainda responde aos leilões de linha do BC no valor total de US$ 2 bilhões. Nessa modalidade de leilão, há o compromisso de recompra por parte da autoridade monetária. A venda será liquidada dia 26 de dezembro, enquanto as recompras serão feitas em 5 de maio e 2 de junho de 2026.
As vendas do BC aliviam a pressão sobre a moeda norte-americana nesta época do ano, marcada também pelo envio de remessas ao exterior. Empresas tradicionalmente enviam recursos para pagamento de dividendos em dezembro e neste ano, especificamente, os envios estão sendo potencializados por multinacionais que buscam se antecipar antes da cobrança de Imposto de Renda.
A alíquota de 10% sobre remessas ao exterior terá início em janeiro, e também terá início a taxação de 10% sobre valores recebidos acima de R$ 50 mil por mês em dividendos.
Dados do IPCA-15 também norteiam as negociações. Considerado uma prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA, o indicador acelerou 0,25% em dezembro, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com a leitura mensal, o índice fechou o ano com alta de 4,41%, dentro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, cujo teto é de 4,5%. A aceleração ainda ficou abaixo das expectativas de economistas ouvidos pela Reuters, que previam alta de 0,27% no último mês do ano.
O resultado aponta para a consolidação do processo de desinflação, afirma André Valério, economista sênior do Inter, que, dada as diferenças metodológicas, espera que o IPCA cheio venha “ligeiramente melhor”.
“A expectativa é de um primeiro trimestre de 2026 com inflação mais fraca, especialmente comparado ao 1° trimestre de 2025, o que permitirá uma desinflação mais acentuada no acumulado em 12 meses, abrindo espaço para o início dos cortes na taxa Selic no 1° trimestre”, afirma.
O Inter ainda vê como provável que o primeiro corte aconteça em janeiro, mas, dada a cautela do Copom reiterada no último encontro, a instituição financeira não descarta que a redução ocorra só em março.
No encontro de dezembro, o colegiado manteve a taxa em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas, e julgou que a estratégia atual de manutenção dos juros é adequada para a convergência da inflação à meta.
O objetivo do BC é levar o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) a 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O Focus apontou que a mediana das projeções para a inflação de 2025 é 4,33%, abaixo do teto da meta.
Ainda assim, o colegiado não fechou as portas para uma queda na Selic já em janeiro, tampouco cravou que manterá os juros no atual patamar novamente. O cenário está em aberto, afirmou o presidente do BC, Gabriel Galípolo, e a escolha vai depender da análise de dados.
Dados dos Estados Unidos também afetam as negociações. O PIB norte-americano avançou 4,5% no último trimestre em relação ao mesmo período de 2024, ritmo mais rápido do que o esperado. A leitura é que a economia foi impulsionada pelos gastos dos consumidores, embora o ímpeto pareça ter diminuído em meio ao aumento do custo de vida e à recente paralisação do governo.
Os gastos do consumidor aumentaram a uma taxa de 3,5% no último trimestre, em grande parte resultado de uma corrida para comprar veículos elétricos antes do vencimento de créditos fiscais em 30 de setembro. As vendas de veículos automotores caíram em outubro e novembro, enquanto os gastos em outros setores foram mistos.