CPI do INSS tenta ganhar tração convocando banqueiros, sem tirar filho de Lula da mira
Por Caio Spechoto/Folhapress em 09/12/2025 às 11:00
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga descontos irregulares em benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) tentará usar depoimentos de banqueiros, como Daniel Vorcaro, dono do Master, para ganhar tração na retomada dos trabalhos, no início do próximo ano.
O colegiado também pretende manter na mira de investigados um dos filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao longo das atividades, integrantes da cúpula da CPI ganharam mais visibilidade nas redes sociais. Em 2026, isso pode se traduzir na conquista de votos antes da disputa eleitoral.
Para o próximo ano, o foco deve recair sobre as reclamações de consumidores sobre operações de crédito consignado empréstimos cujas parcelas são debitadas diretamente na fonte de renda do tomador. Até a pausa dos trabalhos, a prioridade eram os descontos associativos irregulares, feitos por entidades que oferecem serviços aos aposentados em troca do dinheiro, sem autorização prévia dos clientes.
A CPI do INSS foi instalada em 20 de agosto e irá até 28 de março de 2026, mas não terá novas atividades neste ano nem sessões em janeiro, época de recesso do Legislativo.
Na última reunião de 2025, na quinta-feira (4), o colegiado aprovou a convocação de Vorcaro para depor. Também foi aprovada a quebra dos sigilos telemático, bancário e fiscal do dono do Master, além de solicitada ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) a elaboração de um relatório sobre as transações do banqueiro.
Vorcaro ganhou o noticiário nacional pela investigação de suposta fraude envolvendo o banco Master. Seus negócios viraram alvo de investigação da Polícia Federal por suspeita de irregularidades em carteiras de crédito, e o banqueiro passou 11 dias preso.
Na CPI, os requerimentos aprovados falavam sobre reclamações de consumidores sobre operações de crédito consignado do banco.
Além de Vorcaro, foram convocados dirigentes dos bancos Daycoval, Pan, BMG, Agibank e Facta Financeira.
O presidente do colegiado, Carlos Viana (Podemos-MG), disse que o colegiado fará uma avaliação de seus trabalhos em fevereiro, quando as atividades legislativas de 2026 começarem.
“Se entendermos que outras oitivas ou depoimentos precisam ser feitos [para investigar descontos de entidades], vamos retomar. Se nós entendermos que ali já tem embasamento suficiente para encerarmos definitivamente, aí avançamos em direção a bancos”, declarou Viana à Folha de S.Paulo.
“O principal deles é o Master. O segundo, o BMG, que é o mais antigo e, naturalmente, o que mais fez contratos”, disse o senador.
Procurada pela reportagem, a defesa de Vorcaro disse que o Master nunca atuou em atividades relacionadas ao objeto da CPI.
A assessoria do BMG afirmou que o banco atua no mercado de crédito consignado de forma responsável e em conformidade com a legislação. A instituição disse também que colaborará com as autoridades competentes.
Ao longo dos últimos meses, o colegiado viveu uma espécie de divisão política: a cúpula da CPI foi escolhida pela oposição, em uma articulação política que surpreendeu o governo Lula, mas os aliados do presidente da República se reorganizaram e passaram a vencer as votações.
A oposição a Lula dentro da CPI tenta colar o escândalo de descontos irregulares em aposentadorias à imagem do presidente da República. Nomes de parentes de Lula costumam ser citados nas reuniões.
O primeiro alvo próximo ao presidente foi José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico. Irmão de Lula, ele é vice-presidente do Sindnapi, um dos sindicatos investigados no caso. O governo conseguiu barrar a convocação do sindicalista em outubro.
Na última reunião deste ano, o colegiado votou um requerimento para convocar Fábio Luiz Lula da Silva, conhecido como Lulinha. Os aliados do Planalto foram maioria também nessa deliberação e conseguiram barrar o requerimento.
Integrantes da CPI, porém, não desistiram de Fábio Luiz. Horas antes da votação, opositores se animaram com uma reportagem do portal Poder360, segundo a qual uma testemunha afirmou que o filho do presidente recebia uma mesada de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, um dos principais acusados no escândalo.
O grupo que se opõe a Lula na CPI tem a expectativa de que investigações da Polícia Federal encontrem indícios contra o filho do presidente e permitam uma nova investida. Também imagina que investigações do colegiado sobre outros envolvidos possam trazer elementos que o incriminem.
Aliados de Lula protestaram contra o foco em Fábio Luiz no dia da votação. “O que vimos foi a tentativa de criar um factoide. Nenhum documento [contra Fábio Luiz] foi apresentado porque não existe nenhum documento”, disse o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), coordenador da bancada governista na CPI.
Os opositores, por sua vez, criticaram a rejeição do requerimento. “Lulinha está envolvido até o pescoço nessa CPI. É por isso que estão tentando blindar a vinda do Lulinha aqui”, disse a deputada Adriana Ventura (Novo-SP).