08/12/2025

CNU tem questão sobre linguagem TikTok e busca servidor atento a questões sociais

Por Júlia Galvão e Gabriela Cecchin/Folhapress em 08/12/2025 às 09:35

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A prova da segunda fase do CNU 2025 (Concurso Nacional Unificado), aplicada neste domingo (7), trouxe questões técnicas, que exigiam conhecimento da legislação, mas também buscavam avaliar a capacidade do candidato fazer análises sociais.

A corrida contra o tempo foi um ponto destacado por especialistas. Cada enunciado reunia vários comandos a serem atendidos em 30 linhas. O professor Aragonê Fernandes, do Gran Concursos, chamou essas questões de ‘bonecas russas’, pois cada uma embutia outras.

Um enunciado do bloco 5, voltado a carreiras de administração, chamou atenção: ela pedia que os candidatos avaliassem os riscos éticos e impactos na credibilidade institucional do governo ao usar linguagem típica do TikTok em suas redes sociais, estratégia que vem sendo adotada pela União. Também pedia uma estratégia voltada ao público jovem.

Segundo Luiz Rezende, coordenador pedagógico do QConcursos, o conteúdo da segunda fase confirma que o governo procura selecionar servidores que conheçam profundamente sua área, mas também tenham visão cidadã e capacidade de conectar o conteúdo técnico aos principais problemas brasileiros.

Nas provas de nível médio, os candidatos precisaram desenvolver uma redação dissertativo-argumentativa, enquanto nos blocos de nível superior, cada prova teve duas questões.

Júlia Branco, professora do Estratégia Concursos, diz que a FGV buscou medir a capacidade de o candidato relacionar os temas específicos de sua área com questões sociais como desigualdades, problemas urbanos, funcionamento das instituições e implementação de políticas voltadas para reduzir vulnerabilidades.

O tema da redação para o bloco 9, de nível intermediário, foi mobilidade urbana. Carol Silva, 24, candidata a uma vaga na área de aviação, disse que teve dificuldades para se conectar ao tema. “Passo muito tempo em casa por conta de um auxílio-doença, e quando vi o tema, não sabia por onde começar. Não tenho muito contato com o trânsito ou transporte público no meu dia a dia, então foi um desafio. Tentei abordar a mobilidade no meu bairro, mas realmente não foi fácil”, afirmou.

Rafael Lima, 33, advogado e candidato a uma vaga na área jurídica, considerou que a prova foi bem interpretativa. “Não estava difícil, mas era mais sobre compreender os textos e a lógica das questões. O conteúdo não foi algo que exigisse um grande aprofundamento, mas mais uma análise crítica”, disse ele.

O que foi cobrado em cada bloco?

A prova do bloco 1 (seguridade social) focou em temas transversais das políticas públicas nas áreas de saúde e assistência social. Segundo a professora Aline Menezes, do Gran Concursos, a primeira questão abordou especialmente os mecanismos de participação democrática, como conselhos e conferências.

“A questão foi tranquila e priorizou que o candidato falasse sobre participação social, tendo em vista a construção da democracia, da cidadania e equidade”, diz.

A primeira questão do bloco 6 (área de desenvolvimento econômico) pediu uma introdução sobre a evolução do mercado de trabalho no país. Na primeira questão do bloco, foram abordados seis pontos, o que, segundo especialistas do Gran Concursos, tornou essa uma das questões mais complexas da seleção.

A segunda discutiu o setor agropecuário brasileiro. Eduardo Cambuy diz que alguns candidatos contestaram a cobrança por acreditarem que o tema não constava no edital. Ele afirma, porém, que, mesmo sem menção explícita, o assunto era esperado.

No bloco 2 (cultura e educação), a primeira questão abordou conectividade significativa -conceito relacionado à ampliação das capacidades humanas- e pediu um exemplo que demonstrasse essa relação. Também tratou das desigualdades de acesso à conectividade entre brasileiros e da inclusão digital de grupos vulneráveis. A segunda questão discutiu a cultura como tema transversal e solicitou uma reflexão sobre políticas culturais mais participativas e inclusivas.

No bloco 3, foram abordadas novas tecnologias e seus efeitos econômicos e sociais, com foco na inteligência artificial. Os candidatos precisaram analisar impactos da aceleração da IA no mercado de trabalho e propor políticas públicas para reduzir efeitos negativos. A segunda questão pediu uma análise baseada em um texto sobre soberania digital e de dados no Brasil, seguindo o modelo característico da FGV de apresentar um texto-base e cobrar respostas a partir dele.

Apesar de ser voltado a áreas mais técnicas e práticas, o bloco 4 (engenharia e arquitetura) também trouxe cobranças relacionadas à sustentabilidade e à inclusão, foram cobrados temas como integração entre profissionais em projetos de construção e saneamento básico.

No bloco 5, de administração, a primeira questão cobrou domínio técnico de legislação orçamentária, especialmente sobre critérios de captação de recursos por organizações da sociedade civil e execução orçamentária do terceiro setor. Já a segunda abordou o tema da comunicação governamental nas redes sociais.

A primeira questão do bloco 6 tratou do desenvolvimento socioeconômico brasileiro e exigiu que o candidato apresentasse uma introdução sobre a evolução do mercado de trabalho no país. Ao todo, apenas na primeira questão do bloco, foram abordados seis pontos, o que, segundo especialistas do Gran Concursos, tornou essa uma das questões mais complexas da seleção.

A segunda questão discutiu o setor agropecuário brasileiro. De acordo com Eduardo Cambuy, alguns candidatos contestaram a cobrança por acreditarem que o tema não constava no edital. Ele afirma, porém, que, mesmo sem menção explícita, o assunto era esperado, já que costuma aparecer de forma recorrente quando se trata de desenvolvimento socioeconômico.

No bloco 7 (justiça e defesa), a primeira questão abordou conteúdos de direito internacional público e direito internacional humanitário, apresentados por meio de um estudo de caso. A segunda questão foi sobre o SUSP (Sistema Único de Segurança Pública) e o PNSPDS (Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social), cobrando a indicação de aspectos específicos dessas políticas.

Os candidatos também precisaram identificar órgãos de segurança pública federais e estaduais e explicar suas funções, além de comentar sobre a atuação das guardas municipais.

Segundo Daniel Lustosa, professor do QConcursos, o bloco 8 (área intermediária de saúde) apresentou uma redação sobre a ocupação irregular nas grandes cidades, agravada por movimentos migratórios e seus impactos na saúde. A proposta pedia a discussão do papel das autoridades governamentais na solução desses problemas. Para o professor, quem já atua na área provavelmente teve mais facilidade para desenvolver a resposta.

Ele aponta que poderiam ser mencionados aspectos como falta de infraestrutura, assentamentos precários, saúde mental, além de temas centrais como urbanização e regulação fundiária.

No bloco 9, de nível intermediário para a área de agências reguladoras, o foco recaiu sobre temas legislativos, segundo André Adriano, professor do QConcursos. As questões tratavam do papel do Estado na ampliação do acesso a transporte coletivo de qualidade e da atuação das agências reguladoras nesse processo.

Adriano destaca que era essencial não confundir essas atribuições: embora fosse possível citar a ANTT como exemplo, muitos candidatos corriam o risco de responder apenas sobre a atuação estatal, deixando de abordar especificamente o papel da agência, que era justamente o centro da pergunta.

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