Centrão ameaça isolar candidatura de Flávio Bolsonaro e rejeita pressão por anistia
Por Beatriz Pires em 09/12/2025 às 15:26
Integrantes do centrão ameaçam, nos bastidores, deixar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) isolado em sua anunciada tentativa de se tornar presidente da República.
O grupo também rejeita a pressão por anistia aos presos nos processos relacionados aos ataques das sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023. Nesta terça (9), o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), avisou a líderes de bancada que a Casa votará um projeto para reduzir penas dessas pessoas, sem o perdão completo reivindicado por bolsonaristas.
Flávio desagradou a políticos do centrão ao afirmar que a retirada de sua recém-lançada pré-candidatura ao Palácio do Planalto só ocorreria com a liberdade de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Antes de Motta anunciar o projeto sobre a dosimetria das penas, a análise exposta à Folha por diversos congressistas e dirigentes partidários já era a de que não havia clima para a anistia no Congresso. A exigência de Flávio, na visão desses políticos, poderia mobilizar a base bolsonarista, mas não teria força para alterar esse cenário. Pelo contrário, poderia até atrapalhar.
O filho de Jair Bolsonaro (PL) se lançou como pré-candidato a presidente na sexta-feira (5), contra a vontade dos partidos do centrão, que preferem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No domingo (7), Flávio afirmou que poderia negociar a retirada de seu nome. Um dia depois, disse em entrevista à Folha que sua candidatura é irreversível, com uma ressalva: “A única possibilidade de o Flávio Bolsonaro não ser candidato a presidente da República é o candidato ser o Jair Messias Bolsonaro”, disse.
Bolsonaro só poderá ser candidato se tanto sua condenação no processo da trama golpista quanto sua inelegibilidade declarada pela Justiça Eleitoral forem anuladas.
Na visão de integrantes do centrão, a candidatura de Flávio será esvaziada ao longo das próximas semanas ou meses, com a divulgação de pesquisas que mostrem maior viabilidade eleitoral de Tarcísio.
Assim, eles avaliam que não seria necessário nenhum gesto agora para aprovar a anistia em troca de demovê-lo da candidatura.
Pesquisa Datafolha divulgada no sábado (6) mostra que Lula (PT) bate Flávio por 15 pontos e Tarcísio por 5 no 2º turno.
Por outro lado, líderes do centrão consideram o bolsonarismo imprevisível e costumam fazer essa ressalva ao analisar os movimentos da família Bolsonaro e de seus aliados.
Caso o filho de Bolsonaro leve sua candidatura até o fim, fica reduzida a possibilidade de partidos como União Brasil, PP e Republicanos apoiarem em bloco um mesmo candidato.
Políticos do PP, por exemplo, disseram à Folha que, se o senador for candidato, o partido deverá liberar seus filiados para apoiarem quem quiserem em seus estados.
O motivo seriam as menores chances de ele derrotar Lula no segundo turno e sua rejeição, que poderia contaminar as candidaturas a deputado e senador, foco atual da sigla.
A análise de partidos do centrão é que Flávio parte de um piso alto de votos, por causa do eleitorado bolsonarista, mas tem dificuldade para aglutinar setores moderados da sociedade por carregar a rejeição a seu pai.
Já Tarcísio é visto como o político de direita com mais chances de vencer a disputa presidencial. Por isso, a chance de esse grupo de partidos ficar coeso em torno dele é maior.
Anistia
A anistia ao ex-presidente e aos presos por participação nos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023 foi um dos temas mais importantes na Câmara meses atrás. Depois, uma redução de penas, sem perdão completo, passou a ser debatida em seu lugar.
O relator do projeto, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), disse que a pressão de Flávio, vista por alguns políticos como chantagem, não muda nada na proposta.
“O pessoal do PL voltou a falar nessa história de anistia”, disse ele. “No meu relatório não tem anistia. Anistia zero. O que tem é redução de penas”, declarou o deputado.
O parlamentar e o presidente da Câmara negociaram por semanas a votação do projeto, sob a condição de que os bolsonaristas se comprometessem a não tentar converter a redução de penas em anistia durante a deliberação.
Pré-candidato ao governo da Paraíba com apoio da família Bolsonaro, o senador Efraim Filho (União Brasil) afirmou antes da decisão de Motta que o lançamento da candidatura de Flávio reacenderia o debate sobre a anistia. “Tem um apoio significativo, não dá para avaliar ainda se é majoritário”, admite.
Aliados de Tarcísio já descartavam a hipótese de ele atuar pela anistia do ex-presidente mesmo antes de a notícia sobre a votação das dosimentrias de penas ser divulgada. Eles lembram que o governador não obteve sucesso meses atrás, quando se dedicou a essa empreitada, em um momento bem mais favorável. Duvidam que seja bem-sucedido agora, muito menos sob chantagem.