15/03/2023

Bolsa passa a operar estável após entrega de novo arcabouço fiscal a Lula

Por Renato Carvalho/Folhapress em 15/03/2023 às 17:33

Diego Padgurschi/Folhapress
Diego Padgurschi/Folhapress

Mesmo com o impacto da crise enfrentada pelo Credit Suisse nos mercados globais, a Bolsa brasileira registra recuperação na tarde desta quarta-feira (15). Pela manhã, o índice chegou a atingir o patamar de 100 mil pontos, o pior registrado desde julho de 2022. Mas agora, opera próximo da estabilidade, com a notícia de que o novo arcabouço fiscal já foi entregue para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Às 15h50 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em baixa de 0,07%, a 102.853. O dólar comercial à vista subia 0,74%, a R$ 5,295. O câmbio é mais influenciado pelo noticiário envolvendo o Credit Suisse, e segue a tendência global. Mas na máxima do dia, a moeda chegou a R$ 5,32.

Os juros apresentam baixas moderadas, com a percepção de que as políticas monetárias nos Estados Unidos e na Europa podem mudar, caso a crise bancária se prolongue e comece a ter efeitos na atividade econômica.

Nos contratos com vencimento em janeiro de 2024, a taxa recua dos 13,05% do fechamento desta terça-feira (14) para 12,98% ao ano às 15h40 desta quarta. Para janeiro de 2025, os juros caem de 12,22% para 12,10%. Para janeiro de 2027, a taxa opera estável a 12,56%.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse nesta quarta-feira (15) que a proposta da nova regra fiscal, que substituirá o teto de gastos, já foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Já está no [Palácio do] Planalto”, respondeu Haddad ao ser questionado por jornalistas na sede da pasta econômica sobre a entrega do desenho do novo arcabouço fiscal ao chefe do Executivo.

A expectativa é que o texto final seja concluído antes de viagem de Lula para a China, programada para o dia 24. O aval do presidente é a última etapa antes de a proposta seguir para o Congresso Nacional.

À Folha de S.Paulo, membros do governo envolvidos no debate afirmaram que o arcabouço vai permitir que se alcance o objetivo de zerar o déficit primário já em 2024.

No exterior, o clima nos mercados ainda é de cautela. Os principais índices de ações europeus fecharam com fortes quedas. O Euro Stoxx 600 caiu 2,92%. O índice FTSE 100, da Bolsa de Londres, fechou em baixa de 3,83. A ação do Credit Suisse, negociada na Bolsa de Zurique, caiu quase 25% nesta quarta.

O maior investidor do banco suíço afirmou que não poderia fornecer mais assistência financeira por questões regulatórias. “Não podemos, porque iríamos acima de 10%. É uma questão regulatória”, disse o presidente do conselho de administração do Saudi National Bank, Ammar Al Khudairy.

O banco saudita adquiriu uma fatia de quase 10% no ano passado depois de participar do aumento de capital do Credit Suisse e se comprometeu a investir até 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,5 bilhão, R$ 7,8 bilhões) na instituição.

O Credit Suisse disse no balanço de 2022 que identificou distorções em demonstrações financeiras e que ainda não conteve a saída de clientes de sua base.

“Em 31 de dezembro de 2022, o controle interno do grupo sobre os relatórios financeiros não era eficaz e, pelos mesmos motivos, a administração reavaliou e chegou à mesma conclusão em relação a 31 de dezembro de 2021”, afirmou o banco suíço em comunicado divulgado nesta terça-feira (14).

Em conferência realizada nesta quarta-feira, os executivos do Credit Suisse tentaram acalmar o mercado. Segundo a agência Bloomberg, o presidente do conselho de administração do banco, Axel Lehmann, descartou uma eventual ajuda do governo suíço.

Ele também rechaçou qualquer comparação com os problemas enfrentados pelos bancos médios nos Estados Unidos.

Mas os analistas projetam que a situação ainda pode piorar. Em relatório, a Guide Investimentos aponta que outros bancos europeus importantes, como o Deutsche Bank e o UBS, estão com suas taxas de risco, equivalente ao risco-país para empresas, em alta nos mercados.

No mercado americano, dados econômicos reforçam a perspectiva de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) pode manter o ritmo de 0,25 ponto percentual de alta nos juros na reunião que será realizada na próxima semana.

As vendas no varejo nos Estados Unidos caíram 0,4% em fevereiro, de um crescimento de 3,2% em janeiro, enquanto economistas consultados pela Reuters esperavam uma contração de 0,3%.

Um relatório separado mostrou que os preços ao produtor dos EUA caíram inesperadamente em fevereiro e que o aumento dos preços em janeiro não foi tão grande quanto se pensava inicialmente, oferecendo alguns sinais positivos no combate à inflação.

Os dados chegam em um momento em que o colapso do SVB Financial e do Signature Bank já havia alimentado temores sobre a saúde de outros bancos, alimentando esperanças de que o Fed evitaria altas acentuadas nos juros em sua próxima reunião para garantir a estabilidade financeira.

Operadores agora veem chances iguais de uma alta de 0,25 ponto e de manutenção na reunião do Fed em março.
Em Nova York, os índices de ações continuam em baixa, mas em ritmo menor que o apresentado pela manhã. Às 15h50 (horário de Brasília), o Dow Jones recuava 1,28%, e o S&P 500 tinha baixa de 0,90%. O índice Nasdaq operava em baixa de 0,33%.

No Brasil, no entanto, a visão mais geral é de que ainda é cedo para cravar uma alteração na trajetória do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, pelo menos no curto prazo.

Em teoria, um cenário de abrandamento do ritmo de aperto monetário do Fed e manutenção de juros altos no Brasil seria positivo para o real, já que a maior diferença de rentabilidade tende a tornar a moeda brasileira atraente para investidores estrangeiros.

No entanto, profissionais do mercado explicam que, se o Fed realmente for menos agressivo daqui para frente, isso sinalizaria que o banco percebe riscos elevados para a economia global, o que provavelmente alimentaria temores de recessão e impulsionaria a busca por ativos seguros, como o dólar.

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