15/11/2025

Belém tem 'zona da cerveja' e aparelhagem em rotina de festas durante COP30

Por Geovana Oliveira em 15/11/2025 às 20:25

BTP foi premiada com Selo de Sustentabilidade na categoria diamante, o mais alto nível da premiação concedida, pela primeira vez, pelo MPor (Crédito:
Divulgação/MPor)
BTP foi premiada com Selo de Sustentabilidade na categoria diamante, o mais alto nível da premiação concedida, pela primeira vez, pelo MPor (Crédito: Divulgação/MPor)

Eram 2h da terça-feira (11) em Belém quando o DJ Silvinho do Carabao dava boas-vindas à “galera da COP30” entre uma música de brega e outra no Palácio dos Bares, casa de show tradicional da capital paraense.

Ao lado da cantora Gaby Amarantos, em um palco em forma de búfalo, Silvinho foi aplaudido ao falar que apresentaria a cultura do rock doido a “pessoas de outros países”.

No evento, logo após o primeiro dia da cúpula da ONU sobre mudanças climáticas, era possível tirar fotos reveladas com a moldura “COP30 do Palácio dos Bares 2025”. A área de camarotes tinha sido reservada para um grupo de participantes da conferência.

A aparelhagem do Carabao, uma das mais conhecidas de Belém, estava na programação da “agenda oficial e colaborativa da sociedade civil com rolês culturais e festas por Belém durante a COP30” –uma iniciativa da “beer zone”, ou zona da cerveja, em referência às zonas azul e verde da cúpula.

Na agenda foram divulgados mais de 60 eventos entre a semana da Cúpula de Líderes, que antecedeu a COP30, e a semana de encerramento da conferência. Há festas para todos os dias, algumas delas tradicionais da cidade, como o carimbó na Feira do Açaí.

Os participantes da COP30 tiveram a opção de ir à Lambateria, na Casa Apoena, na quarta-feira (12), por exemplo. A festa já popular na cidade reúne músicas de carimbó, lambada, guitarrada, cumbia, merengue e brega. Nos grupos que divulgam eventos, com mais de 3.000 pessoas, esse foi apontado como o melhor da noite, com avisos para chegar cedo.

Entre o público era possível distinguir os belenenses dançando na pista dos turistas que tentavam aprender um passo ou outro. Belém recebeu o título de Capital Mundial do Brega, concedido pela ONU Turismo, em maio.

Discussão climática em forma de festa

Outros eventos que lotam as noites em Belém foram pensados exclusivamente para o período da conferência e tentam unir parte da discussão climática às festas.

É o caso do show de Layse e As Sinceras, banda local que toca músicas populares do brega e da amazônia. A apresentação encerrou o lançamento do relatório “Sem Moradia Digna, Não Há Justiça Climática”, da organização Habitat para a Humanidade Brasil.

Na quinta-feira (13), uma programação do Mutirão da COP30, mobilização da presidência brasileira do evento, incluiu outra aparelhagem famosa de Belém, o Crocodilo. A coordenadora da participação da juventude na cúpula, Marcele Oliveira, estava presente.

Em meio ao público havia pessoas vestidas de terno, com crachás da zona azul e até malas. O boato era de que todos os delegados da COP estariam no evento.

“A festa, para além de ser divertida e para desanuviar a gente, é um espaço em que você também consegue encontrar um negociador, uma pessoa importante, e conversar com ela de um jeito mais tranquilo”, disse Isvilaine Silva, assessora de mobilização e engajamento no Observatório do Clima, na festa do Crocodilo.

Ela esteve em todas as COPs desde a que aconteceu em Glasgow, na Escócia, em 2021. Afirma que a de Belém é a conferência do clima com mais festas. Nos anos anteriores, segundo ela, havia ao menos um evento feito pelas ONGs, organizado pela CAN (Climate Action Network), mas a festa foi suspensa após o início da guerra Israel-Hamas, em um ato de consideração.

“Mas aqui em Belém a gente falou assim: ‘Precisa ter uma festa, porque aqui é o Brasil, e é assim que a gente negocia as coisas, assim que a gente faz as coisas'”, disse Isvilaine, que decidia o próximo destino após o “Mutirão Tudão Crocodilo”.

Uma das possibilidades para continuar a noite era assistir a banda Fruto Sensual, considerada “a rainha das aparelhagens”. “Enquanto líderes globais negociam soluções, a Freezone Cultural Action nasce como espaço complementar onde a sociedade se conecta ao debate climático através da cultura”, explica a iniciativa do Instituto Cultural Artô.

Outra opção era assistir o tradicional carimbó na Feira do Açaí. Belenenses, ambientalistas do Brasil e de fora do país, indígenas, negociadores, vereadores e deputados federais se encontravam entre os bares da feira ao som de “Saudade”, música nostálgica da aparelhagem, e do carimbó na ladeira.

Thiago Nascimento, diretor executivo do Instituto Decodifica, diz que entre as COPs que participou, a que mais lembrou o cenário atual em Belém foi a COP da Biodiversidade, em Cali, na Colômbia. Apesar de em proporção menor, explica, também havia shows na zona verde e outras manifestações culturais.

“Esse formato de participação social mais ativa, interseccionando com a cultura do país, é uma riqueza brasileira para construir a pauta”, disse.

O discurso de quem aproveita tanto as festas quanto o debate climático lembra o da organização da COP30, que divulgou a conferência no Brasil como a “COP do Povo” devido à maior participação social. Pelo menos nas festas, até agora, ninguém faltou.

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