Tenista brasileiro pego no doping após comer carne na Colômbia é absolvido
Por Beatriz Cesarini/Folhapress em 20/02/2025 às 15:34

O brasileiro Nicolas Zanellato foi absolvido pela Agência Internacional de Integridade no Tênis (ITIA) após suspensão provisória em um caso de doping e poderá voltar a jogar depois de meio ano longe dos torneios. A entidade entendeu que o tenista de 23 anos foi contaminado com uma substância proibida de forma inconsciente ao ingerir carne bovina na Colômbia.
“Hoje eu estou muito feliz. Estou praticamente seis meses sem poder competir, jogar. Quando eu recebi a notícia, me pegou totalmente de surpresa, não fazia ideia dessas contaminações que tinham na Colômbia. Virou um pesadelo o que aconteceu com toda a minha carreira, que eu venho construindo desde criança. Foi uma luta. Todo dia, toda semana, todo mês, brigando para conseguir provar que realmente eu nunca fiz nada para trapacear ou ter vantagem sobre alguma coisa”, disse Nicolas em entrevista exclusiva à reportagem.
Nicolas passou pelo exame antidoping em junho do ano passado, durante o ATP Challenger em Ibagué, na Colômbia. O teste detectou a presença de 5 ng/ml de boldenona na amostra de urina colhida. A substância é um esteróide sintético derivado da testosterona, vendido como droga veterinária e utilizado como hormônio de crescimento de gado no país.
A ITIA, então, suspendeu provisoriamente Nicolas em 12 de agosto do ano passado. Durante seis meses, o atleta e sua defesa, liderada pelo advogado Pedro Fida, apresentaram uma série de documentos e testemunhas que evidenciaram a contaminação cruzada.
“Estava na Europa quando recebi o resultado. Quando eu comecei a ler, não acreditei. Obviamente, lá explicada que era na Colômbia. Então, eu comecei a lembrar, porque o supervisor do torneio mandou um e-mail para os jogadores no meio da semana falando sobre esse alerta das carnes. Só que já estava lá desde sábado, então já tinha comido carne várias vezes. Inclusive até meus amigos deram sorte de não fazer o teste na semana”, relembrou Nicolas.
Durante a participação na competição sediada na Colômbia, Nicolas ingeriu carne bovina em um restaurante tipo fast food que comprava o alimento com um fornecedor colombiano. Além disso, a equipe de especialistas e advogados apresentou outros casos semelhantes ao do brasileiro, de atletas que foram pegos no doping – também com boldenona – após consumirem carne na colombiana.
“Em momento algum, até que o Nicolas tivesse a amostra dele coletada, ele ou qualquer outro atleta tinha sido notificado ou informado do risco de boldenona na carne bovina. Isso aconteceu depois da coleta do Nicolas, à noite, e nem foi um aviso para a substância boldenona, foi para a substância clembuterol, ou seja, os organizadores do evento sequer incluíram a boldenona nesse comunicado, apesar dos casos que já haviam acontecido não só no tênis, mas em outras modalidades”, disse Pedro Fida, advogado de direito desportivo, do escritório Fida Associados.
“nesta quinta-feira (20), historicamente, já se somam mais de 30 casos na Colômbia envolvendo atletas colombianos e atletas estrangeiros das mais diversas modalidades. Conseguimos comprovar com sucesso que a carne consumida por diversas vezes pelo Nicolas só utilizava carne de origem colombiana. Com isso, juntamente com uma série de estudos do governo colombiano e estudos conduzidos pela própria Wada, constatou-se que havia, sim, o risco de contaminação da carne bovina colombiana por boldenona”, completou o advogado especialista na defesa de casos de doping.
Pedro Fida liderou casos como o de Paolo Guerrero, Thomaz Bellucci, Marcelo Demoliner, Alecsandro, entre muitos outros atletas.
Volta às competições
Agora, Nicolas se prepara para retornar às competições oficiais. Durante os seis meses de suspensão, o atleta conseguiu manter a rotina de treinos e, junto com sua equipe, vai montar o calendário para buscar pontos e melhorar a posição no ranking.
Quando foi suspenso, o tenista brasileiro ocupava a 656ª posição e atualmente é número 754 do mundo.
“Eu acredito que já deve estar liberado para eu poder me inscrever nos torneios. E daí agora é só fazer o calendário. Eu praticamente perdi quase meu ranking inteiro. Então vou ter que voltar desde os torneios mais baixos. Eu já estava jogando nos torneios mais fortes. E agora eu vou ter que voltar lá para baixo”, comentou Nicolas.