05/06/2023

Por que o esporte é tão importante no Brasil?

Por Santa Portal em 05/06/2023 às 18:07

Reprodução/Arquivo
Reprodução/Arquivo

No Brasil, o esporte pode servir de trampolim para ir da favela ao pódio dos campeões. Um teste difícil que nem sempre termina com sucesso.

A ginasta Rebeca Andrade é uma das privilegiadas a participar com a delegação brasileira nas Olimpíadas. Ele treina desde os 5 anos de idade e seu sucesso é uma história marcada por todos os clichês brasileiros. A mãe era doméstica e ia a pé para o trabalho para pagar o transporte da filha até a academia de sua cidade natal. Aos nove anos, Rebeca deixou a família para realizar seu sonho, após receber uma oferta do famoso Flamengo, clube do Rio de Janeiro.

Outros, como Pelé, Romário ou o lutador Anderson Silva, também são representantes vivos desse trampolim social, com o qual não só chegaram às Olimpíadas, como os ajudaram a ser reconhecidos mundialmente. “No esporte, ricos e pobres se enfrentam no mesmo nível”, explica o historiador Marcel Tonini, da Universidade de São Paulo: “Os obstáculos a serem superados no caminho tradicional da educação são maiores do que no esporte”. Sobretudo num país com diferenças sociais tão grandes, onde os atletas de elite são reconhecidos como heróis.

De acordo com a plataforma esportiva brasileira IviBet, outro exemplo seria o lutador Anderson Silva. “Eles são pobres, sem perspectivas e estão com raiva, isso é o que motiva muitos lutadores”, disse ele à imprensa, “muitos brasileiros treinam muito para sair da pobreza. Anderson conseguiu.”

No entanto, este campeão dos médios caiu. Em seu retorno aos ringues após se recuperar de uma lesão, ele testou positivo para uso de esteróides e foi suspenso por um ano. Além disso, a medalha foi retirada. Mas esses casos de doping e corrupção não destroem as aspirações de ascensão social de muitos atletas. Acima de tudo, porque os ídolos nacionais trabalham incansavelmente para manter o sonho vivo.

Jogadores de futebol pobres?

Durante sua gestão como Ministro do Esporte, Pelé, o rei do futebol, mandou construir muitos centros esportivos para que crianças e jovens não fossem apenas atletas, mas também vencedores em outras disciplinas da vida. Existem também muitas escolinhas de futebol financiadas por craques como Ronaldo ou Romário, considerados uma catapulta certa para fazer carreira. Uma paixão pelo desporto que, em muitos projetos sociais, permite o acesso à formação ou à escola.

No entanto, apesar dos esforços, esse sonho muitas vezes permanece não revelado. Segundo uma estatística recente, divulgada pela Associação Brasileira de Futebol, menos de 2% dos jogadores ganham mais de 2.800 euros. A maioria tem de se contentar com um salário máximo de 281 euros. “Em 90% dos casos, o esporte não serve para ascensão social”, explica Sergio Settante Giglio, especialista em esportes da Unicamp: “O trampolim social é um mito. Quem ganha bem é porque já percorreu um longo caminho”, continua.

Marcel Tonini considera que essa “endeusamento” de atletas e jogadores de futebol de elite é contraproducente, porque se sobrepõe a outros aspectos importantes em que o país fez história. “Por exemplo, ninguém se lembra do Abdias, o primeiro senador de cor negra no Brasil”, explica. Lutou e conquistou muito pelos direitos dos negros. O especialista faz uma avaliação bastante crítica dessa febre esportiva: “O povo considera os atletas heróis porque não conhece a história do país”.

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