Meligeni vê em relação de João Fonseca com os pais semelhanças com a própria história
Por Lucas Bombana em 15/03/2025 às 15:29

No livro recém-lançado “As Decisões do Coração Estão Sempre Certas” pela Editora Sextante, o ex-tenista Fernando Meligeni, 53, presta uma homenagem ao seu pai, Osvaldo Meligeni. Respeitado fotógrafo, ‘Osvaldão’ morreu em 2015, aos 73 anos, após complicações decorrentes de uma cirurgia em meio ao tratamento de um câncer no fígado.
Na obra, Meligeni fala da importância que o pai teve em sua formação como homem e como atleta, recordando passagens marcantes e aprendizados que teve enquanto empinavam pipa no Parque Ibirapuera, desciam a bordo de um carrinho de rolimã no Pico do Jaraguá, e, principalmente, velejando pelo mar em Angra dos Reis.
Alguns dos tangos de Carlos Gardel que o pai argentino tanto apreciava intitulam os 19 capítulos, entrecortados por fotos da família. São músicas que Meligeni deixava tocando na playlist em casa durante a produção da obra -escrita em parceria com o jornalista e amigo André Kfouri-, deixando-o muitas vezes emocionado.
“Era um choro de alegria, não de dor. As lembranças que tenho dele são as melhores possíveis”, afirmou à Folha de S.Paulo.
Tendo alcançado o posto de número 25 do mundo em seu auge, em 1999, quando foi semifinalista do Grand Slam de Roland Garros, e medalha de ouro no Pan-Americano de Santo Domingo em sua despedida do tênis, em 2003, Meligeni trata também no livro a respeito de aspectos que não o agradavam tanto na relação.
Ele conta que, para tentar impedir que seu filho caísse em uma espécie de zona de conforto, seu pai, embora orgulhoso dos feitos conquistados, não costumava demonstrar grande entusiasmo, mesmo após vitórias importantes dentro das quadras. Às vezes o chamava nessas ocasiões, ainda que carinhosamente, de “pangaré”, o que causava certo incômodo no tenista.
Ao longo da carreira, Meligeni teve vitórias emblemáticas contra nomes como Pete Sampras, Yevgeny Kafelnikov, Patrick Rafter, Carlos Moya e Marcelo Ríos.
Em uma conversa sincera após já ter pendurado as raquetes, Meligeni conta que seu pai reconheceu ter passado um pouco do ponto.
“Tomo muito cuidado de ser duro, exigente, mas, ao mesmo tempo, elogiar”, afirmou o pai de Gael, 15, e Alice, 11, frutos da união com a atriz Carol Hubner.
“Meu pai era incrível, mas ele não era perfeito. Não existe o perfeito. Não existe a educação perfeita.”
Ele acrescentou já ter se perguntado inúmeras vezes, sem conseguir chegar a uma conclusão, a respeito do impacto dessa forma de agir do pai e se ela mais o ajudou ou atrapalhou nas quadras.
“Se tivesse certeza que me ajudou, pode ser que me balançasse para ser igual com meus filhos. Mesmo não gostando”, disse Meligeni.
O ex-tenista nascido em Buenos Aires e naturalizado brasileiro afirmou ainda que, pelo que acompanha de fora a respeito do convívio do jovem João Fonseca com os pais, identifica semelhanças em relação ao que ele próprio viveu com os seus durante a carreira profissional.
Meligeni enalteceu a importância de poder contar com o apoio e a presença da família em um ambiente competitivo como os torneios da ATP (Associação de Tenistas Profissionais) ao redor do mundo, mas disse também que a relação precisa de alguns cuidados para se manter saudável.
“Eles demonstram cuidado, carinho, proximidade, mas com liberdade. Isso, para mim, é fundamental”, afirmou.
Meligeni disse ainda que considera Fonseca um fenômeno menos pela potência dos golpes, e mais pela maturidade ao se recuperar em momentos difíceis das partidas tendo somente 18 anos.
Diante da empolgação de torcedores e imprensa a respeito de um novo ídolo nacional que começa a despontar, Meligeni afirmou também que é preciso dar tempo ao tempo e deixar o garoto se desenvolver sem tanta pressão.
“Ele vem demonstrando um nível assustador. Que pode ser top 10, top 5, óbvio que pode. Mas será que ele quer, será que ele vai ter oportunidade? Será que o corpo dele vai aguentar, a cabeça? O que dá para falar hoje é que ele é muito bom. Para a idade, é fenomenal.”