23/01/2025

Campeã dos X Games, Fabiola da Silva concilia aulas, competições e crossfit

Por Lucas Bombana/Folhapress em 23/01/2025 às 10:14

Reprodução/Instagram @@dikathee
Reprodução/Instagram @@dikathee

Oito vezes campeã dos X Games entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000, a patinadora paulistana Fabiola da Silva, aos 45 anos, continua na ativa, participando de competições e exibições no Brasil e em outros países.

Com a prateleira repleta de troféus e medalhas, a disputa nas pistas não é mais a única prioridade.

Agora, ela divide o tempo entre os treinos e as competições de patins e de crossfit -paixão que cultiva há mais de uma década- e as aulas em uma escola voltada à modalidade que a consagrou, localizada no Bom Retiro, na região central de São Paulo.

Fabiola inaugurou a Fábrica dos Sonhos há cerca de dois anos, junto com a irmã, Fabiana, com o intuito de transmitir a crianças e adultos um pouco da experiência que adquiriu ao longo das mais de suas três décadas em cima das rodinhas.

“Percebi quanto o esporte é transformador na vida das pessoas. E pensei que, se Deus me deu um dom tão maravilhoso, que me permitiu viajar o mundo e conhecer e inspirar pessoas, por que não passar esse conhecimento para a nova geração?”, afirmou Fabiola à reportagem.

Crianças a partir dos quatro anos podem se aventurar na pista estreita de madeira, repleta de obstáculos. Há também entre os alunos pais que se empolgaram ao levar os filhos e pessoas na faixa dos 60 anos.

“Se posso ajudar por meio do esporte, é o que vou fazer. Tenho prazer nisso. Não há dinheiro que pague o sorriso de uma criança.”

Nas redes sociais, Fabiola costuma compartilhar vídeos das aulas, das competições e dos treinos de crossfit, que transformaram completamente o físico da adolescente franzina de 17 anos que assombrou o mundo ao faturar seu primeiro título dos X Games, conhecidos como “as olimpíadas dos esportes radicais”, em 1996.

Seu domínio entre as mulheres foi tão grande que, no auge, ela chegou a competir contra os homens, alcançando a medalha de prata, em 2004. Foi nessa época que a patinadora passou a focar mais o preparo físico, de modo a reduzir a vantagem dos competidores no quesito. “Dei muito trabalho para eles. E nunca fui discriminada. Pelo contrário.”

O hábito nunca foi abandonado desde então, e hoje o crossfit a ajuda no necessário fortalecimento muscular para o corpo aguentar os trancos das duras aterrissagens a bordo dos patins.

Campeã brasileira e sul-americana em 2023, Fabiola ficou praticamente todo o ano passado fora de ação, devido a uma grave lesão no joelho e a uma infecção bacteriana na corrente sanguínea. Aos poucos, tem alternado as aulas com os treinos para voltar às competições.

Ela é bolsista do Programa Talento Esportivo, do governo de São Paulo, pelo qual recebe uma ajuda de custo mensal de cerca de R$ 2.000. Em contrapartida, precisa estar ativa em competições para manter a bolsa. Ela aguarda a definição do calendário para definir os torneios de que participará nos próximos meses.

“Ser atleta é muito difícil no Brasil. Se eu me machucar, quem vai pagar minhas contas? Vou deixar os alunos na mão? Sou estratégica, não vou participar de qualquer coisa. Gosto de competir, mas não tenho só isso em mente”, afirmou.

Ela disse que, apesar das conquistas em série ao longo dos últimos anos, tem de conviver com a falta do devido reconhecimento no Brasil.

“A pessoa só é lembrada quando está no auge. Depois, é esquecida”, afirmou a atleta, que abriu a escola no Bom Retiro com recursos próprios da família, sem apoio financeiro externo. Ela mesma pintou a fachada do espaço, que antes era uma fábrica abandonada. “Ainda falta muito para valorizar mais os atletas que o país tem de outras modalidades, não é só futebol.”

Fabiola afirmou que procura não desmotivar os jovens que chegam à escola com o sonho de um dia também se tornar profissionais, mas sempre ressalta a importância dos estudos para ter alternativas além do esporte.

“Tem que ter os pés no chão, um plano B, porque é difícil”, disse ela, que ganhou apenas no fim do ano passado, após uma carreira de sucesso bem estabelecida, um modelo de patins feito em sua homenagem.

“Eu não sou apegada a bens materiais, porque daqui a gente não vai levar nada. Não busco luxo, riqueza. Quero deixar sementes boas na vida das pessoas. A maior riqueza para mim é estar em paz e poder ajudar o próximo.”

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