29/12/2025

Após diferentes eras, São Silvestre chega à 100ª edição exibindo vocação popular

Por Marcos Guedes/Folhapress em 29/12/2025 às 11:13

A Corrida de São Silvestre terá nesta quarta-feira (31) sua centésima edição. A tradicionalíssima prova de rua de São Paulo, que viveu fases bem distintas, em tamanho, percurso e importância esportiva, chega à celebração de seus cem anos exibindo a vocação popular que assumiu após um início com 48 competidores.

A versão 2025 da disputa terá 55 mil participantes, um recorde. A organização ampliou o número de vagas, o que não impediu um gargalo. O site de inscrições travou, e vários daqueles que estão no evento todo ano não conseguiram seu lugar com pedidos de desculpa dos promotores e da plataforma de vendas, a Ticket Sports, que apontou 150 mil acessos simultâneos ao sistema.

A inscrição básica saía por R$ 319,90, e as 50 mil vagas iniciais foram preenchidas em poucas horas, mesmo com todos os problemas técnicos. Diante das queixas, houve disponibilização de mais 5.000 kits de participação.

“Corri a São Silvestre nos últimos dez anos. Desta vez, em uma edição tão icônica, não vou correr”, lamentou o balconista José Uéslei do Carmo, 39. “Só consegui porque dei sorte no aplicativo da Ticket. Informaram que seria no site, mas só deu certo pelo aplicativo. Agora, vamos lá!”, celebrou o publicitário Leonardo Abdo, 44.

A ânsia pela participação na edição comemorativa do centenário reflete o alcance que ganhou a São Silvestre. Ela hoje não atrai grandes estrelas do atletismo, mas está consolidada como a principal corrida de rua da América Latina, 15 km que se oferecem a atletas amadores, vários dos quais fantasiados.

Já é uma tradição de décadas a participação de corredores com trajes lúdicos e mensagens de teor social ou político. O vendedor Wilton Souza, 51, promete aparecer para a largada com uma faixa de crítica ao projeto de lei aprovado no Congresso Nacional que permite reduzir as penas dos condenados pelos ataques à democracia realizados em 8 de janeiro de 2023.

A frase da faixa é impublicável neste espaço, mas não será a única exibida na avenida Paulista, local da largada e da chegada, esta à frente do prédio da Fundação Cásper Líbero que ainda é a organizadora do evento, em parceria com a empresa Vega Sports. Foi o jornalista Cásper Líbero, fundador dos jornais A Gazeta e A Gazeta Esportiva, quem teve a ideia da corrida.

Ele se animou com uma prova noturna que viu em Paris, na qual os competidores participavam com tochas. E criou uma versão paulistana também noturna, mas sem tochas– que agora chega à centésima edição –não mais noturna e com tochas apenas alegóricas, presentes em algumas fantasias.

Sempre realizada em 31 de dezembro e batizada com o nome do santo festejado pela Igreja Católica nesse dia o primeiro papa, de 315 a 335, após a adoção do cristianismo pelo Império Romano, a disputa foi restrita inicialmente a brasileiros e se tornou internacional em 1945. Em 1948, já tinha crescido a ponto de a organização limitar o número de corredores, com 250 de São Paulo e os demais do Brasil definidos em seletivas estaduais.

Cinco anos depois, recebeu seu maior nome, Emil Zátopek, da Tchecoslováquia. Em 1952, ele havia obtido um resultado histórico nos Jogos Olímpicos de Helsinque, com medalhas de ouro nos 5.000 m, nos 10.000 m e na maratona. Já consagrado como “Locomotiva Humana”, atraiu multidões 800 mil espectadores, segundo estimativas provavelmente infladas– em 1953 e ganhou com enorme facilidade, quebrando o recorde do percurso de 7,8 km da época.

Sua presença na São Silvestre fora anunciada em A Gazeta Esportiva com o título: “O maior atleta do mundo na maior prova pedestre do mundo”. E ele parece ter realmente ficado comovido com a recepção. “Ofereço minha vitória ao hospitaleiro povo brasileiro. Jamais imaginei, sinceramente, que viesse encontrar em São Paulo e no Brasil minha maior emoção esportiva”, disse, segundo A Gazeta Esportiva.

Zátopek só disputou a São Silvestre naquele ano. O queniano Paul Tergat, outro grande nome do atletismo, que chegou a ser o recordista mundial da maratona, é o maior campeão entre os homens, com cinco títulos (1995, 1996, 1998, 1999 e 2000). A portuguesa Rosa Mota ganhou seis vezes seguidas (de 1981 a 1986) e é a maior vencedora.

A disputa feminina teve início em 1975, e a prova foi de noturna a vespertina em 1989 –e, depois, matutina. Nem na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o evento foi interrompido, mas a pandemia de Covid-19 impediu a realização em 2020. Por isso, ainda que inaugurado em 1925, ele está agora em sua 100ª, não em sua 101ª, edição.

O domínio (nem tão) recente tem sido do Quênia. O Brasil não tem uma vencedora na prova feminina desde 2006 (Lucélia Peres) e um vencedor na masculina desde 2010 (Marilson Gomes dos Santos). Ao que tudo indica, o jejum não vai acabar em 2025, pois os favoritos são novamente atletas quenianos.

Mas haverá festa, com fantasias lúdicas e mensagens críticas. Ao menos entre aqueles que conseguiram sua inscrição.

Corrida de São Silvestre 2025 – Quarta (31)

  • Transmissão: Gazeta e Globo
  • Largada da elite feminina
  • 7h40
  • Largada da elite masculina
  • 8h05
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