Alison conquista o bronze, 1ª medalha individual do Brasil em provas de velocidade desde 1988

Por Folha Press em 03/08/2021 às 00:34

Wander Roberto/COB
Wander Roberto/COB

Com desempenho ruim nas Olimpíadas de Tóquio-2020, o atletismo brasileiro tinha sua maior esperança de pódio com Alison dos Santos. Na final dos 400 m com barreiras, ele era apontado como um dos principais corredores do planeta e não decepcionou. O brasileiro ficou com o bronze na prova disputada nesta terça-feira (3).

Foi a primeira medalha brasileira individual em provas de velocidade no atletismo olímpico desde o bronze de Robson Caetano nos 200 m em Seul-1988. Depois disso, o país subiu ao pódio apenas com revezamentos, saltos ou corridas de longa distância.

Alison já havia dado sinais de que tinha chances de chegar ao pódio. Primeiro brasileiro a correr a prova abaixo dos 48 segundos, ele quebrou o recorde sul-americano cinco vezes nesta temporada, antes da final olímpica. A última delas foi na semifinal em Tóquio, com 47s31.

Antes mesmo de chegar ao Japão, o corredor era apontado como um dos principais nomes da prova, atrás apenas dos americanos Raj Benjamin e do norueguês Karsten Warholm, recordista mundial, com 46s70.

“Eles são favoritos, mas são oito corredores na final”, disse Alison, deixando implícito acreditar que qualquer resultado era possível.

Histórico de superação de Alison

Medalhista de bronze da prova dos 400 m com barreiras nas Olimpíadas de Tóquio, Alison dos Santos era um menino extremamente tímido por causa das queimaduras decorrentes de um acidente doméstico ocorrido quando ele era um bebê.

Assim, ele não atendeu ao primeiro convite para conhecer o projeto social de atletismo da sua cidade natal, São Joaquim da Barra, no interior paulista. “Ele era muito tímido, tinha vergonha de ir sozinho”, lembra Ana Fidélis, primeira treinadora de Alison.

Quando Alison tinha apenas 10 meses, uma panela de óleo quente caiu sobre ele. O acidente causou queimaduras de terceiro grau, e Alison comemorou seu aniversário de um ano ainda internado no Hospital do Câncer de Barretos.

Por muito tempo, ele só usava boné, com o objetivo de esconder as cicatrizes que marcam até hoje seu corpo, sendo as mais visíveis na parte superior da cabeça e em parte da testa, áreas em que perdeu os cabelos. Parte da pele do rosto, do lado direito, também é mais escura por causa da queimadura.

O barreirista olímpico foi descoberto em uma visita de professores do projeto social do Instituto Edson Luciano Ribeiro a escolas da cidade. Alison já fazia judô, mas impressionou pelo porte físico: aos 14 anos, ele já media 1,85 metros de altura. Hoje, aos 21, ele tem 2 metros.

“No dia em que foram na escola dele e viram o Alison, magrelo, sentado, negro e de boné, falaram: ‘Vai conhecer o atletismo, você tem que cara de quem gosta de esporte'”, lembra Ana, que não estava presente nessa visita. “Fizeram o convite, mas ele não apareceu.”

Meses depois, o convite a Alison foi refeito. E aí ele venceu a timidez, mas muito porque um amigo, Alexandre Inocêncio, já estava treinando atletismo. “Mas ele era tão tímido por causa da queimadura que só ia de boné. Ele morria de vergonha.” Tanto que, em sua primeira competição, no Centro Olímpico de São Paulo, ele correu com uma touca amarela, emprestada por um colega de equipe.

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