Haddad mira Rodrigo e visa Tarcísio no 2º turno em São Paulo
Por Artur Rodrigues e Carolina Linhares / Folha Press em 01/09/2022 às 10:21
“Doria e Rodrigo, Rodrigo e Doria, a mesma história, velhos amigos, mesmo governo, mesmo perigo”, diz a vinheta do PT no horário gratuito eleitoral divulgado no rádio nesta quarta-feira (31).
O tom da peça reflete bem o atual estágio da campanha para o Governo de São Paulo do petista Fernando Haddad, que mira o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), tido como adversário mais perigoso num eventual segundo turno, e seu antecessor João Doria (PSDB), que tem alta rejeição.
Apesar de não assumirem oficialmente, na campanha do petista é majoritária a preferência por enfrentar Tarcísio de Freitas (Republicanos) no segundo turno, em uma estratégia que replica a polarização nacional e aposta na rejeição a Jair Bolsonaro (PL), que apoia o ex-ministro.
Integrantes da campanha afirmam, porém, que as peças publicitárias de Haddad têm equilibrado tanto o contraponto ao governo federal, mirando Tarcísio, como o contraponto ao governo estadual, mirando Rodrigo.
Haddad tem repetido críticas sobre o aumento de impostos feito pelo governo paulista durante a pandemia e promete zerar o ICMS para carne e cesta básica. Sua principal proposta, de reajustar o salário-mínimo estadual para R$ 1.580, que ficou defasado nos últimos anos, também é um meio de atingir o governo Rodrigo.
O ex-prefeito da capital está à frente na eleição para o Governo de São Paulo com 38% das intenções de votos, segundo o Datafolha do mês passado. Em seguida, aparecem Tarcísio, com 16%, e o atual governador, com 11%.
Enfrentar Tarcísio no segundo turno permitiria à campanha de Haddad seguir totalmente colada à de Lula.
Além disso, aliados de Haddad admitem que Tarcísio é um adversário que traria menos perigo no segundo turno devido ao antibolsonarismo no estado, mas negam que a campanha esteja poupando o bolsonarista enquanto tem o tucano como alvo.
Dois índices exemplificam a questão. Primeiro, a rejeição a Bolsonaro entre os paulistas, que é de 52%, contra 39% de Lula –demonstrando a dificuldade de Tarcísio num segundo turno.
Mas estrategistas do PT defendem que a campanha atinja ambos os adversários, já que eles têm desempenhos parecidos num eventual segundo turno. Segundo o Ipec, Haddad marca 47% contra 31% de Tarcísio e 45% contra 29% de Rodrigo.
Também há entre membros da campanha de Haddad quem prefira o tucano no segundo turno, já que ele teria uma lista de fraquezas maior a ser explorada.
A reportagem apurou que o legado de Haddad na prefeitura servirá de comparação com o governo Rodrigo enquanto o legado do petista no Ministério da Educação será usado em oposição à gestão de Tarcísio no Ministério da Infraestrutura.
Na TV, os dois primeiros programas de Haddad tiveram tom nacional, com críticas aos preços altos na gestão Bolsonaro e exaltando os programas do petista na educação. Houve também, contudo, uma alfinetada em Rodrigo, que usou sua propaganda para mostrar suas origens e família no interior.
“Nesse primeiro dia de programa, alguns candidatos tentarão te sensibilizar falando apenas de si. Mostrando o álbum de família, fotos e histórias da infância. Como se no estado mais rico do país a gente não tivesse 7 milhões de paulistas enfrentando a pobreza e a fome, e 3,5 milhões sem emprego”, disse Haddad na peça.
Petistas que acompanham Haddad minimizam o foco em Rodrigo e dizem ser algo natural, já que ele é o governador e, portanto, é o alvo da oposição.
Também lembram que o petista já foi alvo de críticas por manter um discurso nacional demais, imitando sua campanha à Presidência em 2018 em vez de focar em São Paulo.
Oficialmente, Haddad nega que haja cálculo político e preferência por ataques a Rodrigo. “Eu não faço crítica a um ou a outro. Eu faço crítica a medidas”, disse durante agenda de campanha nesta quarta-feira.
Questionado pela reportagem sobre concentrar seu contraponto em Rodrigo ou Tarcísio, Haddad respondeu não ter “esse tipo de cálculo estratégico dessa maneira”.
Em um discurso para apoiadores no centro de Cotia (SP), nesta quarta, Haddad criticou nominalmente o governo tucano João Doria e Rodrigo Garcia, lembrando que eles retiraram a gratuidade do transporte de quem tem entre 60 e 65 anos e aumentaram o ICMS de alimentos.
Haddad estava acompanhado de Márcio França (PSB), candidato ao Senado, e de Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente da chapa do ex-presidente Lula (PT).
Adversário de Doria, França atacou o BolsoDoria, a associação entre Doria e Bolsonaro na eleição de 2018, e disse que hoje tanto a candidatura de Tarcísio quanto a de Rodrigo representam o BolsoDoria. Porém ele não citou os nomes dos rivais.
“Tem dois candidatos em São Paulo que também são candidato Kinder Ovo. Quem comprar os candidatos vai vir dentro a surpresinha: é o BolsoDoria! Quando você compra o chocolatinho, dentro vem a surpresinha que não vale nada, é o BolsoDoria. […] O BolsoDoria tá de um lado, dividido em dois: é um monstro de duas cabeças”, disse.
Alckmin fez um discurso mais nacional e criticou o negacionismo do governo Bolsonaro em relação à vacina.
“Por exemplo, Alckmin falou da vacinação. Eu vejo as declarações do Tarcísio sobre vacinação totalmente equivocadas. Quando Alckmin chama atenção das pessoas para esse ponto, é uma crítica ao governo federal. Quando eu falo de aumentar imposto durante pandemia, estou fazendo crítica ao governo estadual. Na verdade, temos o grande desafio de mudar o Brasil e São Paulo para melhor. Vamos sempre que possível criticar as medidas que no nosso juízo foram equivocadas”, disse Haddad à imprensa.