Alckmin chama Moro de 'demitido', e bolsonaristas celebram união contra 'mal maior' em debate

Por Mônica Bergamo / Folha Press em 17/10/2022 às 11:41

Antonio Molina/Folhapress
Antonio Molina/Folhapress

“Respeita nem o debate. Vagabundo”, disparou o empresário Filipe Sabará. O alvo de seu comentário era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia acabado de interromper o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o primeiro bloco do debate realizado entre os candidatos ao Planalto neste domingo (16).

Sabará acompanhou o confronto desde um lounge montado pela TV Bandeirantes, em São Paulo. Ele estava acomodado na primeira fileira de cadeiras reservadas aos convidados do atual mandatário, e tinha ao seu lado a companhia do advogado Frederick Wassef, do empresário e deputado estadual eleito Tomé Abduch (Republicanos-SP) e do deputado estadual Gil Diniz (PL).

Juntos, eram os bolsonaristas mais expressivos do espaço. O quarteto ironizou, riu, aplaudiu e abasteceu seus perfis nas redes sociais com comentários ao longo do embate -reações quase sempre reservadas e que passavam despercebidas por aliados do candidato petista, posicionados do outro lado da grade que mantinha os dois grupos separados.

“A última encrenca aqui na Band mesmo se originou com o [deputado federal André] Janones [do Avante de Minas Gerais]. Sem ele aqui, a galera do PT está tranquila, e a nossa galera também. Tem a disputa política, obviamente, mas não vai sair disso”, afirmou Gil Diniz à coluna, ao explicar a calmaria que dominava o espaço.

No debate entre presidenciáveis realizado na TV Bandeirantes no primeiro turno, em 28 de agosto, houve confusões entre os convidados dos dois lados. Naquele dia, André Janones e o ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP), agora deputado federal eleito, partiram para a briga.

Quase dois meses após o tumulto, o empresário Tomé Abduch ainda credita aos apoiadores de Lula a culpa pela confusão. “Ainda bem que a turma do PT conseguiu respeitar um pouco mais”, ponderou sobre o clima pacificado deste domingo.

“Da última vez, quando nós estávamos chegando, eles já olhavam para nós nos chamando de genocidas e de assassinos. É muito sério uma coisa dessa. Como assim eu sou genocida? Como assim o Salles é um genocida? Como assim nós somos assassinos?”, disse ainda.

Ao final do debate, Abduch celebrou o desempenho de Jair Bolsonaro no confronto e a presença do ex-juiz e senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR) no estúdio da TV Bandeirantes. “Impecável”, afirmou o empresário sobre o ex-ministro.

“O rompimento que aconteceu [entre Moro e Bolsonaro], do meu ponto de vista, foi um grande mal-entendido. Foi um momento de tensão, onde as pessoas estavam se apropriando ainda dos seus espaços na política. E eles estão juntos e unidos [novamente] contra um mal maior, que é o mal da volta do PT ao governo”, disse.

O otimismo de Abduch com a participação do ex-juiz foi compartilhado tanto por Gil Diniz quanto por Filipe Sabará. “Nesse momento, a gente deixa a disputa política e as nossas escolhas de lado justamente para combater o Lula e o PT”, afirmou o deputado estadual Gil Diniz, que já chamou Moro de “piada”.

“Muito embora eu tenha essa ressalva com ele [Moro], é um momento de deixar as diferenças de lado rumo à vitória no segundo turno”, acrescentou Diniz.

Filipe Sabará, por sua vez, disse ter feito oposição ao ex-ministro da Justiça após sua “traição” contra Bolsonaro, mas que atualmente considera positiva a sua presença na campanha pela reeleição. “É bom ver essa união”, disse o empresário.

Questionado se a aproximação entre o mandatário e o ex-juiz guardaria alguma semelhança com a aproximação entre Lula e o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB), Sabará rechaçou a possibilidade.

“Não tem nada a ver porque o Alckmin nunca esteve junto com o Lula, né? O Moro esteve. [A união no debate] mostra que o Moro respeita o Bolsonaro a ponto de estar junto com ele num momento crucial para o Brasil”, afirmou.

Nos minutos finais da transmissão da TV Bandeirantes, o quarteto formado por Filipe Sabará, Frederick Wassef, Tomé Abduch e Gil Diniz se apressou para acessar o estúdio onde se encontrava Bolsonaro e seus principais aliados, mas acabou barrado pela segurança da emissora.

O grupo, então, contornou o prédio que sediou o debate e se dirigiu para o estacionamento de onde partiria o presidente. Quando o mandatário estava prestes a deixar o local, Sabará, Wassef e Abduch empunharam seus celulares.

“Passamos por cima hoje. Presidente, parabéns. Você foi educado, calmo e falou tudo o que tinha que falar”, disse Abduch, gravando o momento. Bolsonaro tossiu, fez um sinal de “joinha” e respondeu, prestes a entrar em um dos carros da comitiva presidencial: “Vamos lá, o prazer é nosso”.

Do outro lado do estacionamento, o ex-governador Geraldo Alckmin era aguardado por sua esposa, Lu Alckmin, para deixar a sede da TV Bandeirantes. Antes de cruzar o portão, dispensou um palpite sobre a reconciliação entre Sergio Moro e Jair Bolsonaro. “Acho que ele é quem tem que explicar. Ele foi demitido.”

O debate deste domingo foi promovido por Folha de S.Paulo, UOL, TV Bandeirantes e TV Cultura.

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.