Taylor Swift retoma venda de ingressos à sombra da guerra entre cambistas e fãs
Por Alessandra Monterastelli/Folhapress em 19/06/2023 às 09:17
Os fãs que não conseguiram comprar ingressos para os shows de Taylor Swift em São Paulo e no Rio de Janeiro, marcados para novembro, terão outra oportunidade a partir desta segunda-feira (19), quando começam as vendas para as apresentações extras.
A princípio, acontece uma pré-venda, com um lote comercializado apenas para clientes do banco C6 Bank. Na quarta-feira, começa a venda geral, para qualquer pessoa. Para conseguir um ingresso, que vai de R$ 380 a R$ 1.050, os fãs de Swift têm travado uma disputa com cambistas.
Prova disso é que, na última terça, cerca de 20 barracas estavam montadas próximas à bilheteria do Allianz Parque poucas horas após Swift anunciar que faria mais dois shows no Brasil. Oito das tendas eram de fãs, enquanto 12 pertenciam a cambistas.
Os fãs também reclamam do rápido esgotamento dos ingressos online, o que indica a possível ação de cambismo digital. Na semana passada, o Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito para apurar se a produtora dos shows, a T4F, teria cometido práticas abusivas na venda.
“Consta que o sistema de venda possibilita a transferência rápida e barata da titularidade do ingresso, o que propicia a venda de tíquetes em canais não oficiais e a preços exorbitantes”, disse a promotora Maria Stella Milani ao instaurar o inquérito do MP.
Procurada pela reportagem, a T4F não se manifestou, mas, na noite de domingo (18), publicou nas redes sociais uma nota em que condena a ação de cambistas e diz que haverá aumento do policiamento nas bilheterias do Allianz Parque e do Nilton Santos, que sediará os shows no Rio de Janeiro.
Na semana passada, uma mulher que se identificou como cambista conversava de forma tranquila com uma fã em frente à bilheteria do Allianz Parque. Segundo ela, cada uma das barracas dispostas na fila estava ocupada por seis pessoas.
Ela argumentou que, assim como a fã, não conseguiu comprar tíquetes no site. “Todo mundo só quer pegar seu ingressinho e ir embora”, diz Naiara da Silva, de 33 anos, que dizia ser cambista e dividia uma barraca com duas amigas.
Sua mãe, disse, também era cambista. “Meus pais trabalhavam com ingresso, e agora eu e minha irmã estamos no negócio. A polícia que vem aqui me conhece desde que eu estava na barriga da minha mãe”.
Em condição de anonimato, um homem contou que está acampado desde domingo retrasado. Ele também trabalha com ingressos de jogos de futebol. Seu cliente da vez, disse, quer ir ao show, mas não pode ficar na fila o tempo todo.
Segundo os cambistas ouvidos pela reportagem, a atividade é ramificada. Enquanto alguns respondem a compradores diretos, inclusive fãs, outros trabalham para outros cambistas que, mais tarde, revendem todos os ingressos comprados pelos seus subordinados a preços mais altos.
Ambas as ações são ilegais e passíveis de enquadramentos pela polícia e pelo Ministério Público, de acordo com a assessoria jurídica do Procon. No caso de venda a preços inflacionados, a lei prevê punição de seis meses a dois anos de prisão e multa.
Silva, a cambista, contou que há brigas não só entre cambistas e fãs, mas entre os próprios cambistas, às vezes, disse, alguns que estão na frente de outros querem que seus colegas furem a fila.
Uma amiga de Silva, que preferiu não se identificar, disse que os cambistas que revendem ingressos superfaturados na internet são aqueles que têm dinheiro para contratar subordinados ou usar robôs no site oficial de vendas.
Contatado pela reportagem por WhatsApp, um cambista afirmou que revenderá tíquetes a R$ 2.000. Na internet, os valores ultrapassam R$ 6.000.
Também contratada por uma fã de Swift, a mulher afirma que vai ganhar R$ 300 se conseguir o ingresso para o show. Mas reclama do cansaço e diz que, se conseguisse um emprego de carteira assinada, largaria o negócio.
Taylor Swift se apresenta no Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de novembro. Depois, segue para São Paulo, onde os shows estão marcados para os dias 24, 25 e 26 do mesmo mês.