Paula Hawkins, de 'A Garota do Trem', conta como se constrói um bom 'plot twist'

Por Folha Press em 09/12/2024 às 09:15

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“Depois do sucesso de ‘A Garota no Trem’ meu editor me deixa escrever o que eu quiser” conta Paula Hawkins com humor. Agora, dez anos depois do best-seller, a autora britânica lança “A Hora Azul” pela HarperCollins.

Seu novo suspense começa com a descoberta de um osso humano em uma escultura produzida pela artista Vanessa, que morreu alguns anos depois de seu marido desaparecer, em meio a brigas públicas dos dois. Logo, especialistas e fãs da escultora suspeitam que o pedaço de costela na obra seja a prova de que Vanessa assassinou seu cônjuge.

Como um clássico suspense, o livro termina em uma reviravolta com a resolução de mistérios que crescem ao longo da trama. Hawkins vê o processo de construção do “plot twist” como a revelação de partes de uma foto que, ao final, são desveladas por inteiro.

“É bastante difícil julgar qual é a quantidade suficiente de informações e o que manter em segredo. Acho que todo o processo de escrever um romance é tentar dar ao leitor o que ele precisa sem revelar demais”, conta a autora.

Em entrevista por vídeo, Hawkins conta à Folha de S.Paulo que seu processo de escrita do suspense é orgânico e que, apenas na metade do livro, começa a planejar a reviravolta, colando post-its em sua parede.

Ao escrever, ela equilibra planejamento com feeling e, instruída por seu editor, faz como Agatha Christie e tira certas partes do livro que possam revelar muito do final.

“O prazer de ler um romance policial vem daquela sensação de que, embora o que surge no final seja surpreendente, você já estava esperando por algo assim. Não é apenas algo colocado para que o final seja chocante. Precisa ser mais do que isso.”

Além do final, o livro também surpreende por incluir a pandemia como um marco temporal. Ao longo da história, os personagens se referem à quarentena com normalidade, como fazemos no cotidiano. Para Hawkins, a Covid-19 entrou no livro de maneira muito natural, condizente com o período em que a autora escrevia a obra, em 2020.

“Parecia certo mencionar a pandemia, mas também foi útil para a trama, pela forma que influenciaria as pessoas. Como afetou Grace, por exemplo, que é médica”. A personagem Grace é amiga de Vanessa, e vive o luto na casa onde as duas moravam, um lugar isolado, onde a médica passa a maior parte do tempo sozinha. É notável como a solidão que Hawkins vivia em lockdown é transferida para o livro.

“É claro que tiro um pouco de inspiração da minha vida. Se eu não me identificasse com os personagens, seria muito difícil escrevê-los”, conta a Hawkins. “Mas isso não significa que estou escrevendo minha própria história”.

A autora afirma se incomodar com opiniões que já ouviu na mídia, de pessoas que acreditam que quando mulheres escrevem sobre mulheres estão, na verdade, escrevendo sobre si mesmas.

“Me perguntaram, depois do filme ‘A Garota no Trem’, se eu era alcoólatra, se eu tinha problemas de fertilidade, e todas essas coisas. É como se eu não pudesse imaginar essas situações se não tivesse passado por elas. E não acho que esse tipo de pergunta seja necessariamente feita a homens.”

A hora azul

– Preço R$ 59,90 (288 págs.); R$ 39,90 (ebook)
– Autoria Paula Hawkins
– Editora HarperCollins
– Tradução Regiane Winarski

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