Cortejo pelas ruas de Santos marca despedida de Tanah Corrêa; corpo foi cremado no Memorial
Por Rodrigo Martins em 29/06/2023 às 21:00
O corpo do ator e diretor teatral, Tanah Corrêa, foi cremado em cerimônia realizada no final da tarde desta quinta-feira (29), no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos. Antes, um cortejo foi realizado por algumas vias da cidade, para marcar a despedida do artista.
O velório de Tanah foi realizado nesta quarta (28) até o início da tarde desta quinta, no Teatro Rosinha Mastrângelo. Amigos e familiares estiveram presentes para se despedir de um dos maiores nomes da Cultura santista.
O ator Alexandre Borges, filho de Tanah Corrêa, enalteceu a grande trajetória de seu pai e como ele influenciou a sua vontade de seguir no meio artístico.
“Meu pai sempre demonstrou um amor muito grande pela Cultura. Tenho muito orgulho de ver o quanto ele batalhou e atuou para promover a Cultura de Santos e da Baixada Santista. Ele formou muitos artistas, hoje atores profissionais. Antes de seguir no ramo artístico, meu pai era químico da Petrobras. Ele viveu em um momento político de repressão, tendo sido bastante perseguido na época. Depois, ele acabou indo para a Cultura através de um amigo. O Carlos Pinto sugeriu que ele começasse a trabalhar com o teatro. Meu pai valorizou bastante o teatro amador. Ele fundou grupos amadores de teatro, inclusive onde comecei a dar os meus primeiros passos na profissão. Com 5, 6 anos de idade, eu conhecia figurinos, cenários e atores, tudo isso ajudou a despertar essa paixão pela arte. Depois, ele se profissionalizou e foi para São Paulo, trabalhando com grandes diretores de teatro, como o Flávio Rangel e o Plínio Marcos, por exemplo. Ele também dirigiu grandes sucessos de peças infantis, como o Saltimbancos, e compôs músicas com o Roberto Carlos para um espetáculo. Além disso, ele foi o primeiro secretário de Cultura de Santos”, recordou Borges, em entrevista ao Santa Portal.
Alexandre Borges destaca também que o seu pai, além de apaixonado pela Cultura, era um homem com princípios muito humanos.
“Ele sempre tentou passar ensinamentos artísticos através dos livros. Ele queria que a gente tivesse uma boa dicção, soubesse como estudar bem um texto, como decupar um texto. Esse lado da formação cultural era muito importante, mas ele valorizava demais também a formação do ser humano, como cidadão pensante. Com muita simplicidade, humildade, garra, empenho e disciplina. Ele queria não só formar o artista, mas o ser humano também. Ele tinha um olhar especial para as pessoas necessitadas, que precisam de ajuda e valorização. Para ele todo mundo era igual, ele não fazia diferença entre as pessoas. Ele não achava que ser artista diferenciava ele em nada das pessoas. Para ele, todo mundo é igual e sempre achei isso muito bonito”, afirmou.
Foto: Marcelo Martins/Divulgação Prefeitura de Santos
Legado
Para o ator, Tanah cumpriu a sua missão em vida, deixando um legado de amor e liberdade reconhecido pela população santista, inclusive nesse momento de despedida.
“Meu pai era um homem múltiplo, que teve muitos amores, filhos, netos e uma vida intensa, rica. Ele foi um homem que teve uma vida plena, que todo mundo sonha em ter. Do início ao fim, ele teve uma vida muito bonita. Mas respeitamos que essa é a ordem natural da vida, é assim que tem que ser. A gente quer agradecer muito o carinho do público, da imprensa. Ele gostava muito da Santa Cecília TV, valorizava muito todas as coberturas feitas por vocês. Então, fico feliz em ver todo esse carinho recebido. Agradeço a todos pelas manifestações de afeto. Agora, para a gente fica a saudade”, completou Borges.
Amor pela X-9
Além do teatro, Tanah também era apaixonado pelo samba. A X-9 preparou uma grande homenagem para o ator e diretor teatral, na primeira parte do cortejo, logo após deixar o Teatro Municipal e passar pela escola de teatro Tescom.
Em frente à sede da Pioneira, integrantes da escola se despediram de Tanah cantando o samba-enredo que homenageou o artista e ajudou a escola a ser campeã do Carnaval Santista em 2011. O hino da X-9 também foi entoado pelos membros da agremiação. A família de Tanah Corrêa acompanhou toda a homenagem e se emocionou com o carinho da escola de coração do artista.
“O Tanah sempre foi um forte guerreiro xisnoviano. Ele tinha muito amor à nossa comunidade da Bacia do Macuco. Quando eu cheguei o Tanah já estava na escola. Fomos campeões com ele em 2011, teve um enredo maravilhoso em 2008 também. Ele dedicou boa parte da sua vida, tanto para a X-9 quanto para a Cultura de Santos em geral”, disse Miguel Carvalho, coordenador do Departamento de Carnaval da Pioneira.
Foto: Rodrigo Martins/Santa Portal
O ex-presidente da X-9 e da Liga das Escolas de Samba de Santos, Ditinho Fernandes, também relembrou a forte ligação de Tanah com o samba.
“Para falar do Tanah eu teria que abrir um livro. Ele deixa todo um legado. A X-9 está perdendo mais um grande xisnoviano, uma pessoa que era ligada à nossa agremiação e que fez muito pela X-9. Ele me ajudou muito quando eu era presidente da X-9. Não só Santos, mas como o Brasil e toda a nossa Cultura perdem uma grande personalidade”, comentou.
Ditinho também ressaltou que Tanah era uma pessoa que se preocupava bastante com os seus amigos. “Como amigo eu nunca ouvi o Tanah falar um não. Ele sempre foi uma pessoa de estender a mão, ele nunca fez distinção de ninguém, fosse ator, atriz, sambista ou de outra profissão qualquer. Ele nunca fez essa diferenciação. Ele foi um dos amigos que me estendeu a mão e ajudou a X-9 a colocar grandes carnavais na avenida. É um grande amigo que perdemos, vai deixar bastante saudade”, finalizou.
Cortejo
Após passar pela Tescom e pela X-9, o cortejo de despedida de Tanah esteve em frente ao Escolástica Rosa, na orla da praia, e seguiu pela Rua Ricardo Pinto, onde o artista morou.
Na sequência, o corpo de Tanah foi levado em frente à Prefeitura de Santos, onde a família do diretor teatral foi recepcionada pela vice-prefeita Renata Bravo. O grupo Maracatu Quiloa fez uma homenagem e, em seguida, balões brancos foram soltos marcando o encerramento das homenagens.
Foto: Marcelo Martins/Divulgação Prefeitura de Santos
Por fim, o corpo de Tanah foi levado até o Cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, onde aconteceu a cremação. A cerimônia foi reservada apenas a familiares e amigos do artista.
Foto: Rodrigo Martins/Santa Portal
Biografia
Athanazildo Corrêa Neto, conhecido artisticamente como Tanah Corrêa, faleceu na manhã desta terça-feira (27), em Santos. Tanah, um dos principais nomes das Artes Cênicas no Brasil, estava internado na Santa Casa de Santos com problemas respiratórios.
Natural de Bauru, interior de São Paulo, mudou-se para Santos quando tinha apenas um ano e por isso adotou a cidade como sua. Seu primeiro trabalho, ainda no teatro amador foi Um Lobo na Cartola, de Oscar Von Pfuhl, onde participou como produtor e co-diretor.
Tanah trabalhou com teatro amador, profissional, televisão e cinema, tendo ministrado vários cursos no decorrer de sua carreira profissional. Ele também foi curador das obras de Plínio Marcos e fundador do teatro com seu nome em São Paulo (capital) e membro da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Autores e presidente da Comissão de Restauração Cênica e inauguração do Teatro Coliseu.
Na área política, foi secretário da Cultura de Santos no governo Oswaldo Justo e, em 2005, tornou-se de Cidadão Santista, pelas mãos do então vereador José Lascane. Além de ter se candidatado a prefeitura de Santos em 2020.
“A arte é um dos alicerces de nossas vidas. Muito além de expressar emoções, divertir e entreter, tem a força de nos fazer refletir sobre nossa própria existência, sobre nossas crenças e valores. A arte difunde conhecimento, a história, o dia a dia do cidadão. É combativa e questionadora. Em seu curso, transforma as pessoas e a sociedade. Tanah Corrêa, um santista de coração, dedicou a vida à expressão maior daquilo que representa a arte. Ele deixa um vasto legado de realizações e uma história de devoção a seus princípios. Um santista de alma marcante, que tem seu nome registrado na rica história da arte da Cidade e do Brasil”, comentou o prefeito de Santos, Rogério Santos, que em memória do artista, decretou luto oficial de três dias.
Tanah deixa a esposa, Orleyd Faya e dez filhos, André, Geórgia, Kenia, Natasha, Ludmila, Geovana, Janaína, Natália, Fernanda e o ator santista Alexandre Borges.
Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos