Orientação da Fifa pode transformar a Copa do Qatar na maior da história
Por Demétrio Vecchioli e Thiago Arantes/Folhapress em 21/11/2022 às 22:07
São só dois dias de Copa-2022, apenas quatro de 64 partidas disputadas, mas já dá pra dizer: no Mundial do Qatar, os jogos vão muito além dos 90 minutos. Uma recomendação da Fifa para os árbitros não economizarem nos acréscimos, além das paralisações para uso do VAR, já fizeram esta edição do torneio bater recordes. E a tendência é que ela se torne a mais longa da história em minutos jogados.
As três partidas disputadas nesta segunda-feira (21) tiveram os quatro maiores acréscimos desde 1966, quando começou a ser feita a medição, de acordo com dados da Opta. O primeiro tempo de Inglaterra e Irã teve 14min08s de tempo após os 45 minutos regulamentares; o segundo tempo da mesma partida, 13min08s.
O árbitro brasileiro Raphael Claus era o encarregado de comandar o duelo, que teve como principal motivo para o primeiro tempo de 59 minutos a lesão do goleiro Ali Beiranvand, do Irã, que teve que deixar a partida.
O empate entre Estados Unidos e País de Gales também teve um tempo mais esticado que o normal: a etapa final teve 10min34s de acréscimo. Também passou dos 55 minutos da segunda etapa a vitória da Holanda sobre Senegal, com 10min03s a mais que o previsto.
Os jogos mais longos ainda assustam nesse início de competição, mas devem ser frequentes no torneio. O objetivo da Fifa e da Ifab (International Board), o órgão que regula o futebol, é de nos próximos anos encontrar meios de ter jogos com mais bola rolando.
A Ifab e a Fifa vão realizar testes nos próximos meses para encontrar maneiras de que o jogo de futebol tenha mais bola rolando. O presidente da federação internacional, Gianni Infantino, já negou que haja planos de aumentar os 90 minutos, mas há ideias de como os acréscimos podem ser mais bem contabilizados para que o tempo parado seja reposto com maior precisão. Uma das ideias é o uso de um relógio de “tempo corrido” e outro com o tempo total.
Jeitinho de campeonato Brasileiro
Dois dos três jogos do dia de recordes de acréscimos tiveram brasileiros no comando. Além de Raphael Claus em Inglaterra 6 x 2 Irã, a arbitragem nacional foi representada por Wilton Pereira Sampaio em Holanda 2 x 0 Senegal.
Nos dois jogos, os acréscimos generosos influenciaram não no vencedor, mas no resultado. No duelo entre Inglaterra e Irã, o segundo gol da equipe asiática foi marcado por Mehdi Taremi aos 58 minutos do segundo tempo, um recorde em termos de Copa do Mundo. Ao menos desde 1966, quando esse tipo de dado passou a ser contabilizado, nunca um gol havia sido tão tardio.
Isso só pôde acontecer porque Claus concedeu os dois maiores acréscimos da história das Copas do Mundo. No primeiro, o tempo extra foi motivado, sobretudo, pelos oito minutos necessários para o atendimento ao goleiro Ali Beiranvand, do Irã, que sofreu um choque de cabeça, ficou com o nariz sangrando, chegou a trocar de roupa, seguir no campo, mas logo pediu substituição.
A orientação da comissão médica da Fifa é para que, em casos assim, o árbitro aguarde o tempo necessário para o atendimento de pancadas na cabeça. Foi o que fez Claus, que não interferiu quando Beiranvand voltou a jogar visivelmente grogue.
No segundo tempo, foram cinco paradas para substituição e quatro gols até ele apontar 10 minutos de acréscimo, tempo que acabou prorrogado porque Claus marcou um pênalti, para o Irã, depois de recomendação do VAR.
Depois, no jogo entre Holanda e Senegal, foi a vez de o árbitro Wilton Pereira Sampaio dar inicialmente oito minutos de acréscimo no segundo tempo, em parte justificados por um atendimento ao senegalês Kouyaté. Mas o tempo extra acabou ajudando a Holanda, que fez seu segundo gol aos 53. No fim, a etapa teve pouco mais de 10 minutos extras.
A duração excessiva dos jogos tem sido uma tônica no futebol brasileiro, mas não são tão comuns nas grandes ligas europeias. E se tornam ainda mais incomuns em jogos decididos, como estava o duelo entre Inglaterra e Irã. Em Qatar x Equador, partida de estreia do Mundial, foram só seis minutos extras no tempo final.
Outra marca da arbitragem brasileira que se mostrou presente neste segundo dia de Copa foi a utilização do VAR. E também a falta dela, quando o inglês Maguire foi puxado na área por Cheshmi ainda no primeiro tempo. Claus não marcou, o VAR checou o lance e mandou seguir sem que o brasileiro assistisse ao vídeo.
Já no segundo tempo, Claus não viu Stones puxando a camisa de Pouraliganji na área, em movimento que pareceu ter menor impacto do que o puxão em Maguire. Desta vez o brasileiro foi até o vídeo e voltou de lá com a decisão de marcar pênalti.