Home office é adotado por 33% das empresas no Brasil, diz FGV
Por Eduardo Cucolo/Folha Press em 25/01/2023 às 16:00
A adoção do trabalho remoto, total ou parcialmente, caiu em 2022 com a flexibilização das restrições relacionadas à pandemia, mas está longe de voltar aos níveis verificados antes da crise sanitária.
Sondagens da FGV mostram que o percentual de empresas que adotam o sistema de home office passou de 58% em 2021 para 33% em 2022 e que 34% dos trabalhadores prestam serviço de forma remota ou híbrida (semipresencial) -eram 55% um ano antes.
Antes da pandemia, cerca de 7% das empresas tinham empregados trabalhando à distância.
Os números fazem parte de um trabalho dos pesquisadores Stefano Pacini, Rodolpho Tobler e Viviane Seda Bittencourt com base nas sondagens empresariais e do consumidor do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) em outubro de 2021 e de 2022.
De acordo com os responsáveis pelas sondagens, as empresas esperavam, a partir da normalização dos negócios, que o modelo de trabalho remoto diminuísse significativamente, o que efetivamente não aconteceu.
“Havia um processo de aumento do home office muito lento antes da pandemia, que foi acelerado. A tendência agora é normalizar perto do que a gente tem hoje. A gente já vive um momento de poucas restrições, e as empresas também estão vendo o que é possível ou não fazer à distância”, afirma Rodolpho Tobler, do FGV Ibre.
A indústria é o setor com maior percentual de empresas com algum funcionário que trabalha remotamente pelo menos uma vez por semana, com 49% das companhias adotando o sistema. Nos serviços, são 40%. No varejo e na construção, os números giram em torno de 10%.
No segmento de serviços de informação e comunicação o percentual chegou a 90% em 2021 e estava em 74% em 2022. Nos serviços prestados às famílias, aqueles que mais dependem do contato presencial com o cliente, caiu de 37% para 13%.
Dois terços dos trabalhadores consultados nas sondagens do consumidor trabalham presencialmente todos os dias.
São 20% no sistema totalmente remoto, enquanto 14% praticam o trabalho híbrido.
A média na jornada dos colaboradores em home office da área administrativa se manteve próxima de 3 dias em 2021 e também em 2022. A perspectiva das empresas é que esse resultado se mantenha no futuro. Nas áreas operacionais, cresceu de 1,1 para 1,6 dia por semana.
Um estudo do departamento de estatística dos EUA mostrou que a parcela de pessoas que trabalham remotamente dobrava a cada 15 anos antes da pandemia. Em 2020 e 2021, o número quadruplicou.
Produtividade e benefícios Segundo a FGV, há divergências entre o que empregadores e trabalhadores percebem como benefícios desse sistema.
As empresas com funcionários em home office reportam aumento médio de 23% na produtividade. Entre os trabalhadores, a maioria (41%) se considera mais produtivo ou igualmente produtivo (38%) no trabalho remoto.
Com a redução no percentual de empresas que adotam o sistema, houve melhora na percepção sobre essa questão.
Em 2021, 22% das empresas que adotaram home office observaram aumento na produtividade, e 19% apontaram redução. Em 2022, a proporção de empresas que notaram aumento da produtividade de seus colaboradores aumentou para 30%, enquanto as que avaliam que houve perda diminuiu para 10%.
Não perder tempo com deslocamento e horários mais flexíveis são as duas vantagens mais apontadas pelos entrevistados em função do trabalho remoto. Metade dos trabalhadores também cita questões como redução de custos e aumento da qualidade de vida. São 4% os que não enxergam pontos positivos.
O home office é uma opção predominante para as categorias salariais mais elevadas, segundo o levantamento. O trabalho remoto é atualmente uma opção para cerca de 20% dos trabalhadores com renda de até R$ 4.800, para 50% na faixa acima de R$ 9.600 e 40% no grupo intermediário.
A pesquisadora do Ibre Viviane Seda Bittencourt afirma que o trabalho remoto ainda é um desafio também para as empresas pequenas e médias, que precisam de um esforço maior para incorporar tecnologias. Outra restrição é a falta de regras nas relações trabalhistas.
“Um risco para a continuidade do home office é a questão das mudanças no contrato de trabalho. Muitas empresas ainda não se adaptaram e podem sofrer depois com ações na Justiça, por conta de um regime que não está regulamentado, não está respaldado por um contrato de trabalho correto”, afirma.
Pesquisa Datafolha realizada em dezembro mostrou que, se pudessem optar por uma forma de trabalho, 24% dos brasileiros escolheriam o modelo remoto, trabalhando em casa. Outros 28% preferem o sistema híbrido, trabalhando tanto em casa quanto na empresa. Há ainda 45% que defendem a jornada somente presencial.