Não é história de pescador: uma plataforma gigante mar adentro em Mongaguá

A cerca de cinco metros de altura, avista-se o horizonte quase infinito do Atlântico; ou ‘chora a espuma pela areia’, como nos disse Cecília Meireles; e ainda, simplesmente vale a velha e boa pescaria, resultado da paciência humana, artigo de luxo nos dias atuais. Na Plataforma Marítima de Pesca de Mongaguá, avançamos 400 metros mar adentro e outros 86 metros para cada um dos lados, tudo sobre o chão e as ondas, formando um “T”. Situada no Balneário Itaguaí, o equipamento é uma homenagem à essa profissão tão antiga… porém, os pescadores que aqui usam vara ou molinete, o fazem por paixão, alegria. Talvez algum outro sentimento que traga paz ou aproxime em amizade os iguais e os diferentes.

A Plataforma é a maior estrutura de concreto armado da América Latina e a mais importante do Brasil. É um dos locais mais visitados por praticantes da pesca esportiva no País. Corajosos que se orgulham em capturar bagre, pampo, roncador, betara, paru, robalo, prejereba, maria bonita, pescada, robalo. Estima-se que o local receba 80 mil visitantes por ano.

Mas o que muita gente não sabe, é que a pesca é uma ciência recheada de detalhes. A Plataforma de Pesca Amadora abriga, depende de onde nos posicionamos, técnicas de pesca e espécies diferenciadas. No braço esquerdo são pescados corvina e bagre; no braço direito aparecem espécies diversas. No centro da Plataforma está o peixe espada. E no corpo central, há um canal paralelo à costa, em que são capturados os robalos.

A pesca realizada em plataformas pode ser enquadrada na modalidade de pesca de praia, portanto, as marés mais favoráveis são as de luas “grandes” (cheia ou nova), devendo ainda o pescador optar pelas ocasiões em que a maré esteja subindo.

O espaço oferece estrutura: possui sanitários e local apropriado para lavagem do pescados e utensílios de peca. A Plataforma é toda iluminada com lâmpadas de vapor de sódio, permitindo boa visibilidade à noite, inclusive com névoa. O acesso ao local tem controle e paga-se pequena taxa para entrar.

Mais de 40 anos de história

Essa gigante foi construída entre os anos de 1977 e 1979 pelo Governo do Estado de São Paulo em parceria com a Federação Paulista de Pesca e Lançamento (FPPL). A inauguração ocorreu em 10 de março de 1979, como parte da estratégia de descentralizar a concentração do turismo que saturava o Centro de Mongaguá, atraindo os turistas para o então bairro de Agenor de Campos. Na época, todos os municípios do litoral manifestaram o interesse em sediar a construção. No entanto, Mongaguá foi premiada.

Uma curiosidade é que durante a construção do equipamento foram criados pequenos buracos na grade de proteção para facilitar o encaixe das varas e estão presentes em toda a extensão. Por ter sido erguida apoiando-se em pilastras de sustentação, isso pode ser a chave para a explicação da alta concentração de peixes no local. Isso porque desde sua construção, fim dos anos 70, vários organismos marinhos como cracas, mariscos e ostras se fixaram ali, servindo como alimentação e atrativo aos peixes.

A Plataforma tem uma estrutura imponente, apoiada em 190 pilastras, medindo 30 metros de altura cada uma – sendo 18 metros cravados no solo. A distância média entre o piso da plataforma ao nível do mar é de 8 metros de altura. Os corredores da plataforma possuem 8 metros de largura. Feita de concreto armado, a Plataforma marítima de Pesca Amadora de Mongaguá é considerada a quinta maior do mundo, sendo menor do que as americanas Skyway Fishing Pier (2.900 metros) e Oceanside Pier (1.900 metros), do que a inglesa Southend Pier (2.000 metros) e a brasileira, localizada no Rio Grande do Sul, a Plataforma de Cidreira (500 metros).

A vista panorâmica é linda, especialmente no pôr do sol. Nos anos 2000, permaneceu fechada por quase uma década e, após ampla reforma que custou R$ 8 milhões, a Plataforma foi reaberta em 2011. Abre das 8h às 20h. Ao longo desses 46 anos, firmou-se como o ponto turístico mais emblemático da cidade e um dos mais importantes da Baixada Santista.

Cenário internacional

A paisagem livre e flutuante, e a estrutura grandiosa da Plataforma de Mongaguá já serviram de inspiração para filmes publicitários e curtas-metragens. E no cenário internacional, a fortaleza da construção é cenário para o duro videoclipe da música We’ll be Back: Chapter I, da banda de metal norte-americana Megadeth. A luta do soldado à beira mar, sempre cinza, destaca a rigidez do equipamento. O clipe foi lançado em 2022 e pode ser conferido neste link: https://www.youtube.com/watch?v=LkJ5jJuraLQ.

Essa gigante de concreto não passa desapercebida na paisagem cotidiana da cidade; é impossível isso acontecer. Grandiosa e poética, parece quase dúbia. Impõe força por conta da estrutura faraônica, oferece a liberdade da vista livre. A possibilidade da viagem ao horizonte pelo olhar. Uma história que pode até parecer invenção… De que se pescou por sobre as águas. Na Plataforma de Mongaguá isso é possível, sim.

Plataforma de Pesca de Mongaguá
Av. Mário Covas Júnior, 1.018, Balneário Itaguaí
Localização: https://goo.gl/maps/CDHmf3xvkr25YNfw6

Informações:
Prefeitura de Mongaguá
Tese de mestrado em Ecologia “A pesca, os peixes e os pescadores da Plataforma Marítima de Pesca de Mongaguá”, de Uélcio Jackson Magalhães Alves Junior – Universidade Santa Cecília, 2017

Fotos: Dyego Gonçalves/Prefeitura de Mongaguá