11/03/2023

CRÍTICA DE CINEMA

Crítica | A Baleia

Por Gabriel Fernandes em 11/03/2023 às 10:00

Não é novidade que o cineasta Darren Aronofsky sempre pega um assunto, e o aborda da maneira mais psicológica o possível. Seja com o universo das drogas (“Requiém Para um Sonho“), bíblico (“Mãe“) e até mesmo Workholic (“Cisne Negro“). Em “A Baleia“, ele pula para o universo da obesidade (que vem sendo uma das principais causas de morte no mundo, nos últimos tempos). Sim, e provavelmente renderá o Oscar de atuação para Brendan Fraser (pelo qual será um dos momentos mais marcantes do Oscar 2023).   

Baseado na peça teatral de Samuel D. Hunter (que também cuidou do roteiro desta adaptação cinematográfica), a história é centrada no professor universitário Charlie (Fraser), que após o falecimento de seu namorado, passa a sofrer de obesidade mórbida e não deseja tratamento algum, já que ele está ciente do fato de estar prestes a falecer. Morando sozinho em um apartamento decadente e recebendo visitas constantes de sua enfermeira Liz (Hong Chau), ele tenta uma reaproximação de sua filha distante Ellie (Sadie Sink).

Imagem: Califórnia Filmes (Divulgação)

Realmente, esta é uma obra bastante difícil de ser ingerida, pois desde o primeiro arco Aronofsky já transpõe o quanto é complicado para um obeso ter prazeres simples. Com uma tela em aspecto de 1.33:1, o intuito do próprio é mostrar sutilmente o quão “gigante” é a presença de Charlie, em várias situações. Seja pelo fato dele sempre se comparar com a baleia Moby Dick (que deu origem ao título do filme) e sempre procurar ser bondoso com todos ao seu redor (como ele resolver alimentar um pássaro, mesmo tendo várias dificuldades de locomoção, ele se esforça para alegrar este).

E as referências ao citado, não param por aí. Seja por intermédio da trilha sonora de Rob Simonsen (que usa notas com sintonia de passos de um gigante), o fato de sempre estar chovendo na maioria das cenas (uma vez que os protagonistas da obra citada, enfrentarem o mesmo diante de uma tempestade) e até mesmo um poema recitado pelo próprio que engloba aquele.    

Além do lado poético e literário na obra, Aronofsky deixa explicita de forma nua e crua como Charlie usava a comida como uma verdadeira fuga para seus problemas (uma vez que ele sempre come descontroladamente, apenas para saciar o vazio de seu ex-companheiro e sua própria filha). E isso é transposto perfeitamente por Fraser, que não transmite uma enorme sensação claustrofóbica, uma vez que não conseguimos sentir a liberdade daquele cenário mostrado. Realmente ele merece o Oscar, assim como o trabalho da equipe de maquiagem e penteado (que deformaram totalmente o mesmo).   

Mas não é apenas Fraser que dá um show de interpretação, uma vez que o roteiro cria oportunidades para todos os personagens presentes como as próprias Chau, Sink, Ty Simpkins (que interpreta o crente Thomas, e possui um arco ótimo sobre a relação da Bíblia com o quadro de Charlie) e Samantha Morton (a ex-esposa de Charlie, Mary). 

A Baleia” realmente é um filme para poucos, mas que nos faz refletir sobre as pequenas coisas da vida e o quão devemos nos cuidar, mesmo por quem nos mais ama.

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