"Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar." (William Shakespeare)
E, para a nossa sorte, muitos desses mistérios resultam em maravilhas que encantam e tornam a vida melhor para milhões de pessoas.
Sem medo de errar, digo que a história de Djavan Caetano Viana é uma dessas gratas surpresas que o destino reservou para ele e, ainda melhor, para nós, que temos o privilégio de desfrutar de suas músicas. Filho de uma mulher negra, lavadeira, e de um homem branco, vendedor ambulante, Djavan nasceu em Maceió, capital de Alagoas, em 27 de janeiro de 1949. Desde pequenino, acompanhava a mãe durante o trabalho e a ouvia cantar canções do rádio. O gosto pela música foi surgindo aos poucos e cresceu ainda mais quando passou a frequentar a casa de um colega de colégio, onde havia um aparelho de som.
Entretanto, como todo garoto que viu o Brasil ser campeão mundial em 1958 e bicampeão em 1962, aos 13 anos, Djavan optou por ser jogador de futebol. E não se saiu mal: chegou a ser meio-campista do CSA. Porém, a vida lhe reservava outros caminhos.
Em 1972, aos 23 anos, largou o esporte e seguiu para o Rio de Janeiro, com a finalidade de ser cantor. Trabalhou em casas noturnas, até que um radialista conterrâneo apresentou-o ao presidente de uma gravadora. Pronto: estava aberto o caminho. Com voz incomum, gravou trilhas sonoras de novelas de compositores consagrados, como Jorge Amado e Dorival Caymmi (“Alegre Menina”) e Toquinho e Vinícius (“Calmaria e Vendaval”).
Em três anos, nas horas de folga, compôs mais de 60 músicas. Uma dessas canções, “Fato Consumado”, conquistou o 2º lugar no Festival Abertura, da Rede Globo. E surgiu, em 1976, o seu primeiro LP: “A Voz, o Violão, a Música de Djavan”, que, além da música do festival, trazia também: "Flor de Lis", “Maria das Mercedes", "Embola Bola", "Para-Raio", "E Que Deus Ajude" ... Como um relâmpago, Djavan atingiu corações e mentes em todo o país.
Os sucessos vieram a galope: "Seduzir", "Lilás", "Pétala", "Se…", "Nem Um Dia", "Eu te Devoro", "Açaí", "Segredo", "A Ilha", "Faltando um Pedaço", "Oceano", "Esquinas", "Samurai", "Boa Noite" e "Acelerou", “Álibi”, “Cara de Índio”... Entre o LP de 1976 e “Vidas para Contar”, de 2015, Djavan lançou 27 álbuns e, com toda a sua aparente timidez, há mais de 40 anos lota e domina plateias em estádios, teatros, ginásios, em qualquer local que se apresentar.
Grato mistério!
*Marco Damy é jornalista e músico.