Em depoimento na Câmara, Válter Suman nega relação com presidente de OS

O prefeito de Guarujá, Válter Suman (PSDB), negou qualquer envolvimento com o presidente da OS Provida, Almir Mathias. O chefe do executivo prestou depoimento na Câmara de Guarujá, nesta quinta-feira (11), na comissão processante instaurada, após denúncia formulada pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), por intermédio do presidente José Manoel Ferreira Gonçalves.

“Foi uma pessoa que participou das ações de resgate da UPA Rodoviária e posteriormente, enfrentou uma pandemia. Obviamente, ao longo desse período, tive encontros com ele, mas não de forma pessoal. Nunca participei de eventos com ele”, afirmou.

Questionado sobre viagens e amizades em comum, o político negou. “Foram publicados alguns vídeos na Internet. Alguns tive acesso, outros não, mas nenhum deles comprova grau de intimidade entre nós”, disse.

Quanto as acusações de uso de carros e imóveis de propriedade de Mathias, Suman esclareceu que nada era dele. “Nós temos recibo de pagamento de locação desses veículos, inclusive de apartamentos em nome da proprietária. Os pagamentos foram realizados pela minha secretaria, chefia de gabinete. Quero deixar claro que está constado nos recibos”, falou.

O prefeito lembrou que é médico e que durante 25 anos teve rendimento significativo, “fruto de muito trabalho”, que permitiu adquiriu um imóvel no Costa Esmeralda. “Todos meus imóveis estão declarados na Receita Federal. Sempre me preocupei em proteger minha família, porque já passei por problemas de saúde e queria garantir seus direitos. São em território nacional, em Guarujá. Também obtenho rendimento de um imóvel rural há 27 anos”.

Quanto aos valores apreendidos na Operação Nácar-19, ele afirmou que o dinheiro tem origem lícita e que as provas serão apresentadas no momento oportunido.

O prefeito de Guarujá, Válter Suman, foi preso no dia 15 de setembro pela Polícia Federal, assim como o secretário de Educação Marcelo Nicolau, alvo das investigações da Operação Nácar-19. Os dois foram apontados como membros de uma organização criminosa que desviava dinheiro público da Saúde de Guarujá. Em imóveis ligados aos investigados, a PF encontrou dinheiro e joias, inclusive no Gabinete Municipal.

Chegada de Válter Suman na Câmara de Guarujá foi agitada

A manhã começou agitada na Câmara Municipal de Guarujá. Galerias do Plenário lotadas de munícipes que fizeram manifestações com faixas e cartazes a favor e contra o Prefeito.

A oitiva iniciou por volta de 9h45 da manhã desta quinta-feira, o Prefeito Dr. Valter Suman compareceu acompanhado de seu advogado, prestou depoimento e respondeu às perguntas da Comissão Processante.

Agora, a Comissão se reunirá para deliberar se irá convocar outras pessoas ou encerrar as oitivas, concedendo prazo para defesa apresentar suas alegações finais por escrito, e após emitir relatório final, pela procedência ou improcedência da acusação, remetendo ao Plenário para votação em Sessão de Julgamento.

Lembrando que seguindo o procedimento previsto no Decreto-Lei 201/1967, a Comissão Processante, respeitando o contraditório e a ampla defesa, deverá concluir os trabalhos até 29 de dezembro.

O vereador Fernando Martins dos Santos (MDB), presidente da comissão processante, disse ao Santa Portal que o depoimento foi visto com bons olhos, mas que qualquer tipo de declaração quanto a isso é precoce.

“Vamos ouvir novamente tudo o que foi dito e analisaremos junto ao jurídico. Queremos tomar uma decisão respaldada e justa. Se a comissão entender que há necessidade, todos serão ouvidos novamente. Estamos correndo contra o tempo para conclusão do relatório. Se houve falta de atento em algumas questões, iremos reparar. Queremos garantir o direito de ampla defesa”.

Presidente do PDT se pronunciou

O presidente do PDT, José Manoel Ferreira Gonçalves, também se pronunciou após o depoimento do prefeito. “O depoimento é fraquíssimo. As versões se contradizem, mas ele tenta criar uma narrativa para provas testemunhais, quando, na verdade, os julgadores já têm provas robustas para afastá-lo”, opinou.

Para ele, falta alguém de “lucidez mínima” para pensar que um prefeito preso em flagrante, colocado dentro de um camburão e com todas as informações que se tem acesso, para refletir que há “quebra de moralidade”. “Não me refiro a ele como médico ou pessoa, me refiro a função pública. Ele está desgastado. Não adianta posar de bom moço. Se criou uma situação no Guarujá péssima e é preciso tomar uma posição difícil”.

Confira a nota enviada na íntegra com a crítica sobre a audiência:

“Com o depoimento do senhor Válter Suman, realizado hoje (11.11), na Câmara Municipal, o processo de impeachment do prefeito requerido pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) chega a um impasse muito perigoso para a democracia e a transparência no uso dos recursos públicos do município.

Nenhuma de nossas denúncias, baseadas em provas documentais obtidas por meio da investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal na Operação Nácar, foi esclarecida. Entendemos, porém, que há material suficiente para configurar a quebra do decoro por parte do Executivo.

Na oitiva recém-concluída, o prefeito não respondeu a perguntas específicas e foi evasivo quando formulou respostas; ignorou fatos robustos que foram apresentados, que constam da Operação Nácar e que pesam contra ele; e, finalmente, não pediu desculpas à população por seus atos.

Em resumo, a lamentável sessão de hoje na Câmara não elucidou as irregularidades que precisam ser passadas a limpo. Reiteramos que há provas documentais e materiais que sustentam o pedido de impedimento do atual prefeito.

Lamentamos, portanto, o comportamento de Válter Suman e de seus secretários nos depoimentos à Comissão Processante na Câmara, e pedimos aos senhores vereadores que sejam efetivamente incisivos em seus questionamentos e análises.

Que novas oitivas sejam convocadas para que as respostas às denúncias surjam, em respeito à população.

Diante das evidências já apuradas e apresentadas, temos a certeza de que a comprovação da quebra de decoro virá ao final do atual processo.”

Marcelo Nicolau, ex-secretário de Educação do governo de Válter Suman

O ex-secretário de Educação de Guarujá, Marcelo Nicolau, alvo de investigações da Operação Nácar-19, que combate desvios de recursos destinados à saúde no município, prestou depoimento na Câmara na segunda-feira (8). Na ocasião, ele respondeu questionamentos do presidente da comissão processante, falou sobre suas atividades econômicas e negou envolvimento nos possíveis crimes de desvios de recursos públicos e outros crimes correlatos.

Fernando Peitola lembrou que o decreto de lei está sendo seguido rigorosamente. “Estamos respeitando o rito. O prazo para que a comissão dê um parecer é 29 de dezembro, mas tudo está correndo bem. Não só Nicolau, como o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Rogério Rudge Lima Netto, também prestou depoimento. Tudo que foi dito será anexado aos autos do processo”.

De acordo com ele, foram feitos os questionamentos necessários segundo a denúncia e que os depoimentos foram dados de maneira proveitosa. Fernando Peitola informou que o jurídico fará análise dos argumentos apresentados e será elaborado um relatório para que a votação seja feita.