"Mirei nele, fechei os olhos e atirei”, diz jovem que matou namorado ex-detento em Guarujá

Por Santa Portal em 17/09/2021 às 11:23

“Desde que ele saiu da cadeia, há um ano e nove meses, a minha vida se transformou em um inferno”. O desabafo é da jovem que matou a tiros o namorado em um hostel no Guaiúba, em Guarujá, às 20h de quarta-feira (15). Em entrevista exclusiva ao Santa Portal, ela conta que sofria violência psicológica, física e até sexual de Vinicius Poiatto de Souza, de 36 anos, que ainda ameaçou assassiná-la momento antes dos disparos.

Condenado a nove anos e dez meses de reclusão por tráfico de drogas, receptação e porte ilegal de arma, Vinicius gozava do benefício do livramento condicional. Ele e a jovem, que tem 23 anos, se conheciam há bastante tempo, mas o namoro só engatou depois que ele foi preso. “Fiquei apaixonadíssima. Ele era um príncipe no começo e todo final de semana eu viajava dez horas de ônibus para visitá-lo na Penitenciária de Pacaembu”.

Na ocasião, a jovem trabalhava no setor administrativo de uma concessionária de energia elétrica, em Jundiaí, e durante três anos encarou a rotina de visitas na cadeia. Fora das grades, Vinicius revelou agressividade e sadismo até então desconhecidos pela namorada. “Há cerca de cinco meses ele amarrou minhas pernas e meus braços na cama. Depois queimou as minhas partes íntimas com um isqueiro”, detalha.

Ainda conforme a namorada, o ex-detento, valendo-se da sua compleição física avantajada (1,90 metro e 110 quilos), fazia à força práticas sexuais contra a vontade dela. “As agressões aconteciam com muita frequência, por vários motivos. Ele controlava a minha vida, vendia cocaína para se manter e também usava muita droga. Eu não fiz BO porque tinha medo de apanhar ainda mais”, justifica a jovem de 1.60 metro e 52 quilos.

Olhos fechados

O casal estava hospedado há cerca de um mês em Guarujá porque Vinicius era investigado em Jundiaí sob a suspeita de ameaçar de morte um policial militar da Força Tática. Na quarta-feira à noite, a jovem relata que o ex-presidiário a agrediu porque ela se ausentou do quarto para fazer um bolo de cenoura enquanto ele dormia. Ao retornar ao cômodo, Vinicius já estava acordado e passou a agredi-la com socos e chutes.

O ex-detento estava bastante alterado, pegou o seu revólver calibre 357 com a numeração raspada e prometeu matar a namorada em um matagal próximo ao hostel. Porém, a jovem diz que se aproveitou de um momento de distração de Vinicius e pegou a arma deixada sobre a cama. “Nunca havia pegado antes em uma arma. Mirei nele, fechei os olhos e atirei. Estava desesperada e tinha certeza de que ele ia me matar”.

Consumado o homicídio, a jovem saiu do quarto, assumiu a autoria dos disparos a quem encontrou pelo caminho e saiu do hostel. O seu destino foi um posto da Polícia Militar localizado nas imediações, onde também confessou a autoria dos disparos. Ela estava com hematomas nas costas, sendo encaminhada pelos PMs a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) antes de ser conduzida à Delegacia de Guarujá.

O delegado Otaviano Toshiaki Uwada não vislumbrou estado flagrancial devido à apresentação voluntária da autora dos tiros aos PMs para comunicá-los sobre infração penal até então ignorada. Ele também considerou que a autora dos tiros agiu em legítima defesa, sem incorrer em excesso doloso (intencional) ou culposo (decorrente de imperícia, imprudência ou negligência).

Deste modo, a jovem foi liberada após as formalidades de praxe. Porém, isto não significa que ela não responda eventualmente pelo crime. Titular da ação da penal, o Ministério Público poderá ter entendimento diverso ao do delegado e denunciá-la. Nesta hipótese, após a fase processual de produção de provas, o juiz decidirá se a eventual ré deve ou não ser submetida a júri popular, conforme seja reconhecida ou não a legítima defesa.

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