Moradores da Vila Gilda pedem mais diálogo sobre projeto de remodelação do dique
Por Marcela Ferreira em 16/06/2021 às 20:29
O Dique da Vila Gilda receberá um projeto de revitalização da Prefeitura de Santos, anunciado no dia 9 de junho. Os moradores da região, no entanto, cobram a prefeitura por mais diálogo com a comunidade a fim de poderem relatar os problemas que são enfrentados por quem vive nas palafitas.
A líder comunitária Leia Siqueira conta que, antes de realizar o projeto, deve ser discutida a macrodrenagem da área de mangue do dique. “Quando enche a maré, enche os bairros e as pessoas ficam nas ruas. Aqui mesmo, próximo da Brigadeiro Faria Lima. Tem que ter esse trabalho amplo, de território, de pessoas. Como que vão retirar essas pessoas, como que vai ser esse planejamento, esse mapeamento de pessoas e famílias, no caso?”, questiona.
Leia diz que a questão é econômica e social. Por isso, ela cobra a prefeitura por mais diálogo com a comunidade para que sejam discutidas as demandas específicas dos moradores antes mesmo da construção das novas moradias. A promessa era de que seriam construídos conjuntos habitacionais na área seca, e depois, novas palafitas ‘sustentáveis’, sobre a água.
“Para poder fazer a infraestrutura ia precisar de uma regularização fundiária e urbanização, mas não é tão simples assim.”
Apesar do projeto ter sido divulgado pela prefeitura, o clima na comunidade é de descrença. “Nós precisamos de prazos, porque há muitos anos já tem pessoas que moram em palafitas, tem gente que está cadastrada há 50 anos e nunca conseguiu um apartamento. Tem que ser uma coisa muito debatida com a população. A gente está cansado de tanta promessa”, desabafou a líder comunitária.
Situação é preocupante
A moradora Viviane Gomes Santana conta que seu maior sonho é sair do Dique da Vila Gilda. Emocionada ao relatar sua realidade, ela diz que virou moradora do local por falta de opção. “Meu maior sonho é sair daqui, é complicado. Eu vim morar para cá porque não tinha onde morar e minha sogra deu dinheiro para a gente construir aqui. Já vai fazer uns quatro, cinco anos que a gente está aqui.”
Ela vive com o marido, um filho de um ano e um mês e uma filha de seis anos. “Onde a gente vive, minha casa já foi invadida até por ratos. Esses dias eu tive que pedir uma cesta, porque eu não tinha nada. Meu marido trabalha para pagar as contas, mas geralmente não sobra. Às vezes falta leite, às vezes falta fralda. Minha filha diz que quer comer um doce e não tem. Minha família ajuda, mas é muito complicado.”
Outro problema é a questão do saneamento e distribuição de água. “Quando a gente veio para cá no começo, tinha água normal, saía água no chuveiro e em tudo. Só que, infelizmente, meu cano passa por um terreno, e nesse terreno jogaram muito entulho, agora só sai um fio de água, e quando sai. Hoje, cinco horas da manhã, meu marido saiu pra trabalhar e eu fiquei ali enchendo todas as garrafas para poder, pelo menos, fazer comida, tomar banho, ter a higiene de dentro de casa.”
Projeto
O estudo para a transformação do Dique da Vila Gilda, na Zona Noroeste de Santos, foi divulgado pela prefeitura no último dia 9 de junho. O projeto foi chamado de Parque das Palafitas. As moradias que existem sobre a região de mangue, de forma irregular, darão lugar a habitações sustentáveis.
A ideia é a construção de conjuntos habitacionais na área seca do mangue, próximos à via, e de casas com estrutura pré-fabricada sobre a água. Os prédios abrigam a caixa d’água e deles ocorre a distribuição de energia elétrica e da estrutura de saneamento para todas as unidades.
A proposta para o Dique da Vila Gilda começou a ser desenvolvida em 2018 e ainda está em fase inicial, juntamente com o escritório do arquiteto curitibano Jaime Lerner, falecido recentemente, com recursos da organização empresarial Comunitas.
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