Grávida de 37 semanas luta pela vida da filha, diagnosticada com problema no coração

Por Carolina Iglesias em 11/09/2020 às 13:39

GRAVIDEZ DE RISCO – Depois de nove meses de gestação, toda mãe sonha com o dia em que poderá deixar a maternidade com o filho nos braços. Esse também é o sonho da autônoma Priscila Vieira Bastos, grávida de 37 semanas. No entanto, esse retorno para casa, logo após o nascimento da filha caçula, Ana Beatriz, ainda é cercado de muita angústia e incerteza. A bebê foi diagnosticada com uma má formação congênita no coração e já luta pela vida antes mesmo de nascer, segundo relata a mãe.

Priscila, que é moradora de Santos, conta que todos os exames de pré-natal estavam sendo realizados em uma policlínica no bairro Jardim Rádio Clube. Em uma das consultas, próxima ao sétimo mês de gravidez, a autônoma recebeu a notícia de que a bebê apresentava batimentos cardíacos fracos.

“Eu estava com 31 semanas e fui orientada a procurar o serviço de emergência médica do Hospital dos Estivadores. Lá, depois de realizar exames, diagnosticaram o problema no coração da Ana Beatriz e me encaminharam para acompanhamento no Hospital Guilherme Álvaro (HGA), que é referência em medicina fetal
de alto risco”.

Segundo Priscila, a bebê possui uma doença conhecida como defeito do septo atrioventricular (DSAV). Após o diagnóstico, além das consultas no Complexo Hospitalar dos Estivadores, a gestante também passou a ser acompanhada por uma equipe de médicos obstetras e cardiologistas voltados a casos de gravidez de alto risco, no HGA. Em razão do quadro grave do bebê, ela também foi orientada a procurar por hospitais de referência na Capital.

“No HGA, apesar de estar sendo atendida semanalmente, me disseram que a Ana Beatriz não pode nascer lá por falta de suporte. Eu precisaria ir para São Paulo, que tem mais estrutura, e não posso entrar em trabalho de parto porque ela corre risco”, relatou.

Ciente da gravidade do quadro da bebê, a autônoma procurou o Hospital das Clínicas, via Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross). Porém, depois do diagnóstico da má formação congênita no coração da bebê, teve mais uma surpresa: não poderia ser atendida em São Paulo, porque o encaminhamento deveria ter sido solicitado quando ainda estava com 28 semanas de gravidez.

“Me orientaram a procurar o hospital pessoalmente e tentar uma vaga. Fui até lá com um encaminhamento da minha médica e levei alguns exames. Me disseram que eu precisava ser acompanhada pelo pessoal da Medicina Congênita. E que já não podiam fazer nada por mim, porque o meu prazo para ser incluída no sistema já havia expirado”.

Esse prazo, ainda conforme a autônoma, teria se encerrado com 32 semanas. Período este que ela também perdeu por falta de informações da rede pública de saúde. 

“Cheguei a procurar outros hospitais em São Paulo, e também tive os encaminhamentos negados. Estou prestes a completar nove meses de gestação completos e não fui incluída no sistema porque só soube do problema no coração da Ana Beatriz depois de 31 semanas. Tem que haver outro jeito. Não posso ficar esperando minha filha morrer”, lamentou.

Campanha virtual

Cercada de incertezas sobre como e onde será realizado o parto da pequena Ana Beatriz, a autônoma conta que uma amiga criou uma campanha de arrecadação virtual , como alternativa para que a bebê possa receber atendimento médico necessário após o nascimento.,

“Só para o parto, em São Paulo, me informei e os gastos podem ultrapassar R$ 100 mil. Mas isso, sem contar com os custos de internação, medicamentos, honorários médicos dela enquanto estiver na UTI. Já conversei com outras mães de crianças com doenças do coração, que me relataram que o custo pode chegar a R$ 2 milhões, dependendo do tempo de internação”, desabafou Priscila, que afirma ainda que dificilmente a bebê resistiria se nascesse em Santos e precisasse ser transferida para a Capital.

“Estou cansada fisicamente e meu filho mais velho, de 6 anos, só pergunta quando estará com a irmãzinha, em casa. Tenho orado muito para que tudo corra bem. Estou há quase sete semanas lutando para que ela fique bem aqui dentro, mas quem me garante que vou ter um suporte imediato quando ela nascer”.

Ainda sem uma resposta por parte do Governo Estadual, para que seja atendida em algum hospital de referência na Capital, a autônoma diz que na próxima quarta-feira (16) irá para São Paulo. Ela informa que, caso entre em trabalho de parto, terá que realizar uma cesárea, para que a filha não entre em sofrimento durante o parto.

“Mesmo que eu arque com as despesas iniciais da maternidade, vou precisar do amparo do SUS, porque não vou conseguir mantê-la internada em um hospital particular e arcar com os custos do período na UTI, além de medicamentos”. 

Resposta

Procurada, A Secretaria de Saúde de Santos informa que a gestante realizou consultas de pré-natal na Policlínica do Rádio Clube e Instituto da Mulher e Casa da Gestante, tendo realizado ultrassom morfológico no Complexo Hospitalar dos Estivadores, o qual não apresentou alterações.
 
Durante o seu acompanhamento, foi identificada a necessidade da realização de ecocardiograma quando estava com 30 semanas de gestação, o qual apontou indícios de cardiopatia. O Município solicitou ao Departamento Regional de Saúde (DRS-4) o agendamento de consulta no setor de medicina fetal do Hospital das Clínicas, unidade referência no SUS para o atendimento de cardiopatia congênita, mas o protocolo do hospital estabelece que o limite para início do acompanhamento é de até 28 semanas de gestação.
 
Desta forma, o parto deverá ocorrer no Complexo Hospitalar dos Estivadores e, após o nascimento, o bebê passará por novos exames. Havendo necessidade de cirurgia cardíaca, a criança será inserida no sistema de regulação de vagas do Governo do Estado (CROSS) para a solicitação de transferência a serviço especializado da rede estadual.
 
A Secretaria de Estado da Saúde também foi procurada, mas até o momento não divulgou uma resposta sobre o caso da gestante. 
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