"Flexibilização deve ser lenta, planejada e responsável", diz especialista sobre retomada em Santos

Por Rodrigo Martins/#Santaportal em 18/05/2020 às 21:18

SANTOS – Contratado como consultor pela Associação Comercial de Santos (ACS) para avaliar a curva epidemiológica da Covid-19 na Cidade, o médico gestor em saúde, Marcelo Noronha, falou ao #Santaportal sobre o levantamento que ele fez com base em dados divulgados pela Secretaria de Saúde nos dias anteriores ? os dados levam em consideração apenas as pessoas residentes no município. Para Noronha, a Cidade pode pensar em flexibilização de alguns setores do comércio, porém sem deixar de levar em conta os protocolos de saúde, pois Santos ainda não atingiu o pico de contaminação.

?Os casos vão se acumular, temos uma linha nítida de tendência para cima. Estamos tendo um aumento gradual lento da doença, com o aumento de pessoas contaminadas. Não é uma subida íngreme, mas vemos um aumento nítido nesses gráficos. Não gosto de falar a palavra pico, pois ainda temos poucas semanas para isso. Na semana passada, que foi a 16ª, tivemos um número alto de contaminados, e acredito que isso tem a ver um pouco com o viés de notificações do caso, que se acumulam e podem aumentar as notificações. Se analisarmos os gráficos, vemos um aumento leve, mas constante. É provável que tenhamos mais para frente esse aumento no número de casos?, disse Noronha, em entrevista exclusiva ao #Santaportal .

A Prefeitura de Santos registrou, nas últimas 24 horas, o maior número de confirmações da Covid-19, desde os primeiros registros na Cidade há quase dois meses (em 23 de março). A Seção de Vigilância Epidemiológica (Seviep) recebeu, nesta segunda-feira (18), 164 resultados positivos da doença entre munícipes, passando o total de casos de 1.609 para 1.773 (+ 10,1%). Anteriormente, a maior quantidade de casos, no intervalo de um dia, foi registrada em 8 de maio (139 confirmações).

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Do total de novos casos confirmados, seis deles são de pessoas que faleceram, sendo duas mulheres (48 e 78 anos) e quatro homens (55, 57, 70 e 77 anos), cujos óbitos ocorreram entre os dias 5 e 17 de maio. Desde o início da pandemia, houve 93 óbitos de residentes pela Covid-19. Outros 32 óbitos suspeitos estão em investigação e aguardam resultados laboratoriais para confirmar ou descartar o diagnóstico. 

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Desta forma, Noronha acredita que é importante que seja feito um acompanhamento da evolução do vírus nas próximas semanas, visando assim dar um maior amparo técnico e cientifico para qualquer tomada de decisão. Além disso, a quarentena imposta pelo governo do estado de São Paulo termina no dia 31 de maio.

?Acho que ainda temos duas semanas pela frente para continuar analisando os números. O dado mais importante, que provavelmente vai ditar o início da flexibilização, é o número de leitos?, afirmou.

Nesta segunda, o número de pessoas com sintomas da Covid-19 internadas na rede hospitalar do município passou de 381 para 386 (+ 1,3%). São 195 munícipes de Santos (50,5%) e 191 de outras cidades (49,5%). Há 170 pacientes em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), um a menos do que no domingo (17). A maior parte dos internados em UTIs reside em outras cidades: 94 pacientes (55,3%). Os munícipes de Santos são 44,7% do total (76 pacientes). A taxa de ocupação dos 208 leitos de UTI adulto, na rede local, está em 79%. No SUS, a taxa é um pouco maior (80%).

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?Estamos em mais ou menos 80% da ocupação de leitos e esse dado é o que causa maior preocupação: a gestão dos leitos. Foi o drama que muitos países viveram e esperamos que isso não aconteça aqui. É preciso dizer que a Prefeitura se preparou muito bem e ainda há leitos por abrir, como no caso do Hospital Vitória. Com isso, devemos ter uma redução no percentual de leitos ocupados, diminuindo a pressão sobre o sistema de saúde. Se o índice de contaminação não subir de uma maneira acentuada e nós tivermos leitos disponíveis, junto com outros indicadores bons, podemos pensar em flexibilização?, explicou Noronha.

Uma reunião entre representantes da Prefeitura e de diferentes setores comerciais da Cidade vai discutir nesta terça-feira (19) a primeira versão do plano de retomada econômica, para que seja adotado um protocolo seguro visando a flexibilização do comércio.

Dentre as propostas que serão debatidas está a criação de bandeiras com quatro cores diferentes, de acordo com a natureza dos serviços e os riscos de contágio pelo novo coronavírus, considerando o nível de aglomeração das pessoas: branca (essenciais), verde (baixa aglomeração), amarela (média aglomeração) e vermelha (alta aglomeração).

Marcelo Noronha entende que uma reabertura gradual deve ser o caminho adotado em Santos. ?Quando o Mauro Sammarco (presidente da ACS) me chamou, ele queria uma ajuda do ponto de vista técnico, pois a Associação Comercial também é da opinião que não se deve abrir de qualquer jeito. Eu penso da seguinte forma: isso é uma coisa absolutamente desconhecida, tanto para a sociedade quanto para os governantes. Por causa disso, as ideias devem ser planejadas e bem pensadas. O que precisamos entender é que qualquer medida que você tomar vai ser com base nos indicadores e você sempre pode voltar atrás. Você abre o comércio e vê que a situação retrocede, pode haver um grande aumento no número de casos, daí você volta ao ponto anterior. Sem entrar no mérito do que deve abrir primeiro, eu defendo três pontos como fundamentais: uma flexibilização lenta, planejada e responsável?, concluiu o médico.

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