Família de idosa diz que hospital atestou morte por Covid antes do resultado de exame

Por Carolina Iglesias em 14/08/2020 às 16:16

SANTOS – Uma idosa de 82 anos morreu na última semana com suspeita de coronavírus, no Hospital Ana Costa, em Santos. A informação, divulgada à família, também consta na declaração de óbito fornecida pelo hospital. O problema, no entanto, é que após o sepultamento da vítima, os familiares da idosa foram informados que o exame realizado na paciente havia indicado negativo para a doença.

Ao #Santaportal , o filho da idosa, que não quis se identificar, informou que a mãe sofria de Mal de Parkinson há seis anos. A doença, segundo o filho, já estava em estado avançado e ela, nas últimas semanas, se alimentava por sonda. “Ela já estava com a deglutição bem comprometida”, relatou.

Na última quinta-feira (6), ela que já havia sido internada há cerca de um mês, com pneumonia, voltou a ser hospitalizada. “A minha mãe estava em casa fazendo uso de oxigênio, implantado pelo plano de saúde no home care. Ela ficou 15 dias internada com pneumonia, com infecção urinária e com baixa oxigenação.Tinha feito, naquela ocasião, teste para o Covid-19, que deu negativo”.

No dia em que retornou ao hospital, ele conta que ela estava em casa, aos cuidados da fisioterapeuta, que percebeu que o oxigênio fornecido pelo hospital havia acabado. Com baixa oxigenação, a profissional acionou uma ambulância que a removeu ao Hospital Ana Costa.

“Ela foi direto para a UTI e uma tia minha, que estava acompanhando, não foi informada, em nenhum momento, que a levaria para uma UTI Covid, porque ela estava com suspeita da doença. Em menos de 24h recebemos a informação que ela havia falecido”, disse o filho da idosa.

Nesta data, o médico informou à família do óbito e disse que havia coletado exame para detectar o coronavírus. “Ela estava com baixa oxigenação, uma possível infecção pulmonar, indícios que podem sim indicar uma Covid. Não posso me lamentar disso. Mas, nos disseram que o exame só ficaria pronto em três dias e ela ficou internada menos de 24 horas”, comentou o filho da idosa, lamentando que, por causa do laudo, a família foi impedida de realizar uma cerimônia de cremação.

“Nós não iríamos realizar o velório por conta da pandemia, para evitar aglomerações. Haveria apenas uma pequena cerimônia rápida da cremação. Mas, no dia seguinte, fomos ao Memorial e nos deparamos com a declaração de óbito por covid. Ficamos estarrecidos. Fomos proibidos de fazer a cerimônia de despedida por conta disso, por conta do protocolo”, lamentou o rapaz. 

Depois do sepultamento, o resultado do exame saiu e confirmou que a idosa não havia sido contaminada pelo vírus.

Resultado negativo
Procurada, a Secretaria de Saúde de Santos informou que a Seção de Vigilância Epidemiológica (Seviep) recebeu, nesta quarta (12), a declaração de óbito e o resultado de teste para Covid-19 (laboratório privado) do caso citado pela reportagem, o qual descartou o diagnóstico da doença.

De acordo com as orientações para o preenchimento da Declaração de Óbito no contexto da covid-19, do Ministério da Saúde, o médico do serviço que saúde que atesta o óbito tem responsabilidade ética e jurídica pelas informações registradas e assinatura da Declaração de Óbito (DO). Se, no momento do preenchimento da DO, a causa da morte ainda não estiver confirmada para covid-19, mas houver suspeição, o médico deverá registrar o termo “suspeita de Covid-19”.

“A recomendação para preenchimento ‘suspeita de COVID-19’ é internacional e tem por objetivo captar todos os óbitos possíveis pela doença. A confirmação ou descarte ficará sob a responsabilidade das Secretarias Municipais e/ou Estaduais de Saúde”.

Ainda em nota, a pasta informa que, de acordo com as orientações do  Ministério da Saúde para codificação das causas de morte no contexto da Covid-19, é possível a confirmação da morte pelo critério clínicoepidemiológico mediante uma criteriosa discussão do óbito. Segundo o documento: “diante de um resultado negativo para o swab nasal/orofaríngeo, em virtude do contexto epidemiológico do País, deve-se proceder a discussão caso-a-caso. Nessa discussão, considerar a clínica e os resultados de exames de imagem, como a tomografia computadorizada, para possível confirmação de morte por COVID-19”.

Os contactantes, pessoas que tiveram contato próximo, dos casos suspeitos e confirmados da covid-19, devem observar os sintomas da doença (febre, cansaço, quadros gripais, alterações respiratórias e perda do olfato e paladar, entre outros) para a realização do teste diagnóstico na rede particular, a qualquer tempo. Na rede pública, o teste RT-PCR é realizado entre o 3º e o 7º dia do início dos sintomas, seguindo o protocolo estadual.

Outro lado
Por meio de nota, o Hospital Ana Costa informa que “está em contato com a família da idosa para esclarecimentos. E reforça que a família da paciente foi informada sobre a suspeita de Covid-19 no momento da internação, conforme termo de ciência assinado, em que constam as orientações de isolamento e restrição de contato.”

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