Estudante faz vaquinha on-line para realizar sonho de ser médico
Por Carolina Iglesias em 17/08/2020 às 09:32
VAQUINHA ON-LINE – Fazer o bem, sem olhar a quem. Com esse objetivo, mais de 330 pessoas se juntaram em uma corrente do bem na internet, criada para auxiliar um morador de São Vicente a custear os estudos em Medicina. Michael Denner Nunes Lino, de 26 anos, está no 5º ano. Filho de um casal de enfermeiros, ele precisou interromper os estudos por não conseguir continuar custeando as mensalidades, que chegam a quase R$ 8 mil.
A ideia de criar uma vaquinha on-line partiu da namorada, Letícia Nano, de 21 anos, que também é estudante de Medicina. O objetivo é arrecadar dinheiro para quitar uma dívida que já chega a R$ 101 mil. Há uma semana no ar, já foram arrecadados quase R$ 44 mil.
No começo tive vergonha em criar a vaquinha. Foi complicado demais pra mim e também para a minha família pedir essa ajuda. Mas depois pensamos: se Deus está querendo nos ajudar dessa forma, precisamos abrir as portas. Por isso aceitamos.
Michael conta que sonha em ser médico desde criança. Por isso, os pais, que sempre foram muito humildes e que custearam a faculdade de Enfermagem depois de muito trabalho, ainda na infância, abriram uma poupança para ajudá-lo no futuro. O dinheiro, segundo o rapaz, foi fundamental para custear os estudos nos primeiros três anos do curso. Como o curso é integral, Michael não tem como trabalhar.
Quando cheguei no terceiro ano, foi ficando muito difícil continuar pagando as mensalidades em dia. Cheguei a pedir uma bolsa de estudos e consegui 30% de desconto, o que me ajudou. Mas, depois de um semestre, o benefício deixou de ser concedido, comenta o rapaz.
Sem conseguir custear a mensalidade, o rapaz acabou contraindo uma dívida de mais de R$ 70 mil, em pouco tempo. A dívida, que segundo ele, foi para o setor jurídico, agora, está em R$ 101 mil, com honorários advocatícios. Chegou o quarto ano e eu estava sempre refinanciando minha dívida. Pagava a rematrícula e não conseguia pagar as parcelas que ficavam para trás. Virou uma bola de neve.
Situação se agravou ainda mais
Esse ano, a pandemia do novo coronavírus agravou ainda mais a situação do rapaz. Meu pai, por ser enfermeiro, tinha uma renda extra que vinha de cursos que ele ministrava de primeiros socorros e de atendimento pré-hospitalar. Isso acabava me ajudando a custear a faculdade. Mas sem esse extra e sem o desconto na mensalidade, não tive como evitar a inadimplência, explica o jovem, que tem ainda duas irmãs de 11 anos e outros dois do casamento anterior do pai.
Por não estar em dia com as mensalidades do curso, Michael chegou a ficar impedido de participar das aulas presenciais, que acontecem na Santa Casa de Santos. A universidade impediu que eu continuasse assistindo às aulas por causa da dívida. Cheguei a perder conteúdo. Foi quando minha namorada teve a ideia de criar a vaquinha on-line.
Há uma semana no ar, a campanha já conta com a ajuda de colaboradores do Brasil inteiro. Fico até emocionado em saber que tem tanta gente ajudando, em tão pouco tempo. Falar obrigada é pouco. As pessoas estão fazendo isso para me ajudar, mas penso que essa contribuição se transformará em uma rede, para que eu amanhã possa ajudar tantas outras pessoas, comemorou o estudante, que sonha em ser neurocirurgião.
Quem quiser ajudar pode participar pelo www.vakinha.com.br/vaquinha/ajuda-o-michael-a-se-formar-medico .
Negociação
Procurada, a assessoria de imprensa da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) esclarece que está novamente em negociação com o pai do estudante a respeito do caso. Em nota a instituição afirma que já concedeu “vários benefícios e condições diferenciadas ao aluno, desde 2017, e continua aberta ao diálogo para encontrar equilíbrio neste momento de instabilidade, cujas necessidades são recíprocas”.
A universidade afirma ainda que o aluno está inadimplente desde 2019, antes do início da pandemia. “A Unimes destaca, também, que é uma entidade civil sem fins lucrativos, mas que não tem outra fonte de renda a não ser a contraprestação dos alunos (mensalidades) e, desde o início da pandemia, em momento algum, deixou de oferecer os seus serviços a todos os alunos, mas, naturalmente, isso demanda custos e risco, sobretudo no internato dentro de um serviço terceirizado, no caso a Santa Casa de Santos”.
Por fim, a instituição diz que “se compadece com a delicada situação do aluno, e de outros tantos, que sempre se manteve, à comunidade acadêmica, e segue predisposta a negociação”.