EAC Wilson Geraldo trabalha teatro como ferramenta de transformação na vida dos idosos de Santos
Por Laeticia Bourgeois em 21/11/2025 às 06:00
Na terceira idade, o palco pode ser muito mais do que um espaço de expressão artística – pode ser uma porta para a saúde emocional, o bem-estar e o resgate da autoestima. Na Baixada Santista, o teatro tem se mostrado uma ferramenta poderosa para transformar vidas de idosos, promovendo inclusão social, combatendo o etarismo e ampliando a percepção sobre o próprio envelhecimento.
Benefícios para a saúde física e emocional
O envolvimento com o teatro contribui no combate à solidão através da socialização com pessoas com diversas experiências de vida dentro de um elenco. Além disso, estimula a criatividade, melhora a memória, desenvolve a concentração e fortalece a autoestima.
Participar de oficinas teatrais contribui diretamente para a qualidade de vida da população idosa. Os benefícios vão além da diversão: atividades de movimentos corporais mantém o corpo ativo, ajudando na coordenação motora e prevenindo acidentes comuns na velhice, como conta o ator Emerson Nogueira Rodriguez, integrante da EAC (Escola de Artes Cênicas Wilson Geraldo) +50: “A parte física se mantém ativa com as atividades propostas nas aulas de expressão corporal, o que pode evitar os acidentes domésticos como quedas por exemplo.”
Além disso, os exercícios cênicos estimulam a memória, a concentração e a criatividade, funcionando como aliados da saúde mental. “A mente se exercita, o emocional se equilibra, e o idoso se sente útil”, explica a atriz Maria Hortência de Oliveira, participante dos grupos Coletivo de Artes de São Vicente e Grupo Harmonia Santos.
Adaptações e acessibilidade
Para que mais idosos tenham acesso ao teatro, é essencial pensar em adaptações. “É necessário levar em consideração a mobilidade, a importância de espaços com rampas, corrimãos, banheiros adaptados e cadeiras confortáveis”, afirma Maria Hortência.
Rodriguez reforça a necessidade de acessibilidade nos horários e no transporte público, além de oficinas com atividades diversas que estimulem o interesse e evitem a repetitividade.
Transformações pessoais e motivação
Ao iniciar a nova atividade, as mudanças se tornam significativas. “O teatro me deu qualidade de vida e autoestima”, destaca Rodriguez. “Percebi melhora na criatividade e concentração, e principalmente, desenvolvi uma maior segurança em me comunicar perante o público – é um sentimento libertador.”
Maria Hortência, envolvida com atividades artísticas há anos – como dança, Carnaval, maracatu, afro, além de corrida e caminhada, conta que a motivação aumentou ao querer incluir sua mãe de 89 anos nas atividades. “Foi a forma de fazer ela participar também”, comentou. “O teatro para mim hoje representa um desafio atrás do outro, pois você descobre que é capaz. Podemos fazer tudo que nos propomos fazer“.
Teatro como ferramenta de combate ao etarismo
O palco é também um espaço de resistência contra o etarismo (preconceito contra idosos). Para Hortência, o teatro mostra que todas as idades têm seu valor.
“Os mais jovens se inspiram nos mais velhos”, afirma. Emerson acredita no poder do teatro como vitrine para o potencial do idoso. “Um espetáculo bem produzido pode surpreender o público e mostrar o quanto somos capazes”, diz, citando o exemplo do Núcleo 50+ da EAC, projeto realizado pela Abrace em parceria com a Prefeitura de Santos desde 2023, sob coordenação da atriz e diretora Renata Zhaneta.
Convite à descoberta
Para outras pessoas mais velhas que têm curiosidade sobre teatro, mas ainda não se envolveram, Maria Hortência incentiva. “Vale a pena experimentar. Somos capazes, desde que haja oportunidade.” Emerson conclui com um convite inspirador: “Desafiem-se. No teatro, assim como no psicólogo, você pode ser quem quiser.”