Demissões voluntárias crescem e refletem nova mentalidade profissional na região
Por Beatriz Pires em 23/04/2025 às 06:00
Um estudo da LCA 4intelligence mostra que 38% das demissões registrados no Brasil foram voluntárias. A pesquisa tem como base a última atualização do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que considera o saldo entre contratações e demissões no país. Na Baixada Santista, o cenário acompanha essa tendência: o perfil do trabalhador está mudando e pedir demissão já não é mais um tabu para muitos profissionais.
O economista Denis Castro aponta dois principais fatores para esse fenômeno. Do ponto de vista econômico, ele explica que há momentos em que o mercado de trabalho se aquece, dando mais segurança para que trabalhadores peçam desligamento e busquem novos rumos para suas carreiras. O crescimento de microempreendimentos e da economia digital também amplia as possibilidades de renda autônoma.
Já sob a ótica social, Castro destaca que, especialmente após a pandemia, muitas pessoas passaram a priorizar o bem-estar e a qualidade de vida, o que tem impulsionado o desejo de empreender ou até mudar de carreira.
“Na prática, muitos profissionais da região, especialmente das áreas de turismo, saúde, educação e serviços, têm migrado para trabalhos autônomos, consultorias ou pequenos negócios — seja por desejo ou por necessidade”, explica Castro.
Segundo ele, apesar da escassez de dados oficiais sobre o tema, o aumento de registros de CNPJs e os relatos de novos empreendedores confirmam que as cidades da Baixada Santista também acompanham esse movimento.
“Empreender exige muita dedicação e se torna benéfico conforme o perfil do profissional. Muitas pessoas têm optado por seguir esse caminho porque a carteira assinada, apesar de oferecer mais estabilidade, nem sempre proporciona um planejamento de carreira acelerado”, aponta.
Um dos exemplos locais é o crescimento de profissionais autônomos na área de estética e bem-estar. Muitos deixaram salões tradicionais ou clínicas para abrir seus próprios espaços ou atender via aplicativos.
A reforma trabalhista de 2017 também é apontada como um fator que torna o mercado formal menos atrativo. O aumento de contratos temporários e os salários que não acompanham o custo de vida fazem com que o desligamento voluntário seja uma alternativa, principalmente para pessoas com ensino superior, que costumam ter mais contatos e recursos para buscar novas oportunidades.
“A gig economy (economia sob demanda), as plataformas digitais e as redes sociais facilitaram a criação de negócios com baixo custo inicial, tornando o empreendedorismo mais acessível. Essas novas formas de trabalho moldam um novo mercado, menos dependente de vínculos formais e mais centrado na autonomia e conectividade”, conclui o economista.