Coordenadora do NPH Unisanta explica o ciclone no Litoral paulista

Por Ted Sartori/#Santaportal em 26/02/2020 às 09:51

CLIMA – Coordenadora do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Unisanta, a professora engenheira Alexandra Sampaio explica em detalhes nesta entrevista ao #Santaportal como aconteceu o ciclone extratropical ocorrido no domingo (23), que causou medo e destruição em várias praias do Litoral paulista. Além disso, a docente do curso de Engenharia da Computação, da disciplina de Ciências do Ambiente, prevê, de acordo com os estudos, que uma nova ressaca está prevista para amanhã (27), porém menos intensa que a de domingo

Como acontece o fenômeno observado no último domingo no mar do Litoral Paulista?

As ressacas marítimas mais extremas que ocorrem na nossa região geralmente estão associadas à formação de ciclones extratropicais, caracterizados por uma grande variação da pressão atmosférica e por ventos intensos e persistentes sobre o oceano. Esses ventos empilham a água do mar na região costeira, fazendo com que o nível do mar se eleve acima do normal nas nossas praias e estuários. Além disso, os ventos intensos e persistentes que atuam na superfície do oceano, geram ondas maiores e com mais energia que também se propagam em direção à costa.

Neste evento foram registrados pelos sensores da Praticagem de São Paulo ventos de sul-sudoeste da ordem de 60km/h na Ponta da Praia, com rajadas superiores a 80 km/h; o pico da maré registrado na madrugada de domingo foi de 2,05m na baía de Santos e 2,29m no interior do estuário, ou seja, uma sobrelevação de mais de 60 cm acima da tábua da maré; enquanto que o pico da agitação marítima (onda) ocorreu no domingo, com altura significativa de 3,14m. Desta forma a conjugação de nível do mar acima de 2m, associado a atuação de ondas entre 2 e 3m e ventos intensos foram responsáveis pelas inundações costeiras observadas na região durante este feriado de carnaval. Lembrando ainda que quando esses eventos estão associados a períodos de precipitações intensas, eles se tornam os piores cenários de inundação em áreas urbanas situadas no litoral.

E a previsão foi feita e anunciada…

No NPH ? UNISANTA desde 2014 realizamos previsões oceanográficas a nível operacional (24 horas por dia durante 365 dias do ano), de curto período, ou seja, com antecedência de 7 a 3 dias dos eventos de ressaca. Neste evento, considerando o Plano Preventivo de Ressacas Inundações Costeiras da Defesa Civil de Santos, emitimos um boletim no dia 20 (quinta-feira) informando que a região entraria em estado de Alerta entre os dias 21 e 23/02, pois a nossas previsões apontavam para a ocorrência de nível do mar superior a 2m e também ondas superiores a 2m, podendo ocasionar inundações na cidade. Entretanto, pelos impactos observados, a população de forma geral não estava bem informada destes riscos.

É preciso, então, que o cidadão comum mude a forma de consultar essas informações? Ou mesmo passe a consultá-las?

Desta forma, observando as ocorrências em todo o litoral durante este evento e em outros, verifica-se que a nível de prevenção de impactos desta natureza, nós cientistas, bem como os meios de comunicação e as autoridades locais precisamos estabelecer níveis de ação que passam pela importante tarefa de fazer chegar à população efetivamente, a informação de alerta desses eventos previstos, tanto para moradores como para turistas frequentadores das zonas costeiras. É muito comum a população consultar a previsão do tempo, mas muito menos comum ela consultar a previsão do nível do mar e de ondas, com exceção dos navegantes e esportistas como canoístas, surfistas, etc. Desta forma há uma urgente necessidade de estímulo à mudança de hábito e de cultura dos usuários das praias para sua devida proteção.

Fazia muito tempo que algo como o ocorrido no domingo não acontecia?

Com base em levantamentos históricos podemos afirmar que, tanto em Santos, como em toda a costa Sul e Sudeste do país, as ressacas podem acontecer durante todo o ano, esta por exemplo ocorreu no final do verão, mas historicamente sabemos que os períodos com maior ocorrência de ressacas, são os meses de outono e inverno. Segundo estudos, cerca de 76% das ressacas na região de Santos ocorreram entre os meses de abril e setembro, porque nessa época do ano temos uma maior frequência e intensidade de frentes frias atingindo a região.

A próxima será com a mesma intensidade?

Nós fazemos previsão de curto prazo (3-7 dias), nesse sentido podemos afirmar que na quinta-feira (27) haverá uma nova ressaca, porém menos intensa do que esta última observada. Na tarde do dia 27/02, há previsão de sobrelevação do nível do mar de aproximadamente 50cm com relação a tábua de maré, sendo assim o nível do mar na baía de Santos poderá ser próximo de 1,80m e no interior do estuário pode ser superior a 1,90, além disso há previsão de ondas com altura significativa entre 1,50 e 2m. Se esta previsão se mantiver, de acordo com o Plano Preventivo de Ressacas Inundações Costeiras da Defesa Civil de Santos, na quinta-feira a região entrará em estado de Atenção, este cenário pode se agravar caso haja previsão de precipitação e ventos locais mais intensos. Sendo assim amanhã o NPH fará uma nova análise dos resultados dos modelos meteoceanográficos de previsão em conjunto com a meteorologia da Defesa Civil de Santos, e havendo necessidade será emitido um novo boletim de previsão informativo para a região.

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.