Comunidade do Macuco cobra transparência em reunião com a Mota-Engil sobre o túnel Santos-Guarujá

Por Santa Portal em 24/11/2025 às 06:00

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A construção do túnel Santos-Guarujá mobilizou moradores e comerciantes do Macuco após o primeiro encontro oficial entre a Associação Comunitária do Macuco (Acom) e representantes da Mota-Engil, responsável pela obra. A reunião ocorreu na quarta-feira (21), na Rua José do Patrocínio, e foi considerada decisiva pela entidade.

A Acom recebeu representantes da Mota-Engil, responsável pela obra, entre eles o presidente do Conselho de Administração, Amauri Pinha; o diretor da Sociedade de Propósito Específico (SPE), Marcelo Pazan; e o diretor técnico, Ricardo Andrade. Também participaram lideranças de bairros vizinhos e o secretário de Assuntos Estratégicos de Santos, Júlio Eduardo Santos.

“A população do Macuco não pode, e não vai, ser tratada como espectadora de um processo que
altera seu futuro. Somos parte interessada, impactada e indispensável”, disse a presidente da Acom, Alcione Alves Rocha. “Nosso objetivo esta noite é muito simples: queremos respostas claras, prazos definidos, responsáveis nomeados e garantias reais”, completou.

A Acom reforçou que as áreas previstas para desapropriação não estão disponíveis para negociação. “Não há venda voluntária. Trata-se de remoção compulsória”, destacou o secretário da Acom, José Santaella Jr., que afirmou que a obra transformará o território, afetando famílias, comércios, operações empresariais e a dinâmica econômica do bairro.

Santaella Jr. também apresentou uma crítica técnica aos métodos tradicionais de avaliação imobiliária usados em processos de desapropriação. Segundo ele, os critérios previstos na PPP, baseados em laudos e estado de conservação dos imóveis, não se aplicam ao caso.

“Tudo o que existe hoje será demolido. Virará entulho. Poeira. Pó”, afirmou. Para ele, a referência justa deve ser o valor econômico de reposição plena, ou seja, o custo integral para substituir residências, comércios ou galpões por novos ativos equivalentes no mercado atual, sem desconto de depreciação.

Responsabilidade do Estado

Representantes da Mota-Engil informaram que a responsabilidade pelas desapropriações é integralmente do Governo do Estado, que já tem um aporte de R$ 544 milhões em fase final de aprovação. Dessa forma, o custo total do túnel sobe de R$ 6,8 bilhões para aproximadamente R$ 7,4 bilhões ao incluir as indenizações.

A Mota-Engil venceu o leilão realizado na B3, em setembro, com desconto de 0,5% sobre a contraprestação pública máxima anual de R$ 438,3 milhões. A empresa também declarou que pretende operar o túnel por 30 anos e que busca manter bom relacionamento com as comunidades atingidas, “sem deixar marcas ou cicatrizes na população santista”.

O encontro contou ainda com relatos de outras comunidades afetadas por grandes intervenções urbanas. José Resende, da Amoccam (Associação de Moradores e Comerciantes da Campos Melo), lembrou que comerciantes e moradores ainda sofrem com os prejuízos causados pelas obras do VLT. “A obra acaba, mas o dano fica. E às vezes dura uma geração”, disse.

O secretário municipal Júlio Eduardo Santos destacou que o planejamento municipal está em andamento e disse reconhecer a importância da participação comunitária. Ele afirmou que continuará acompanhando as reuniões com a Acom, que aguarda a presença do prefeito Rogério Santos (Republicanos).

Canal permanente

Um dos principais resultados da reunião foi a criação de um canal institucional direto entre a Mota-Engil e a comunidade do Macuco. O objetivo é garantir transparência sobre todas as etapas da obra, monitorar lacunas técnicas, mitigar impactos e ouvir moradores, comerciantes e empresários antes do início das demolições.

O projeto prevê a construção de um túnel de 870 metros sob o canal portuário, com três faixas por sentido, passagem para pedestres e ciclistas e galeria de serviços. O contrato, com prazo de 30 anos, inclui também as etapas de operação e manutenção da infraestrutura. A concessionária já foi convocada para cumprir as etapas pré-contratuais que antecedem a assinatura do contrato

A Acom também informou que está estruturando apoio jurídico e técnico especializado, com peritos e avaliadores, para orientar a população ao longo de todo o processo. A entrega completa e o início da operação estão previstos para 2031. No entanto, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) prevê uma antecipação para 2030.

Com cerca de 9 mil empregos diretos e indiretos gerados, o túnel será a primeira ligação seca entre Santos e Guarujá, reduzindo o tempo de travessia para até cinco minutos e beneficiando mais de 2 milhões de pessoas, com impacto direto na mobilidade, na logística portuária e no desenvolvimento urbano de toda a Baixada Santista.

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