Sem dinheiro para comprar leite para filha, empreendedora vende notebook usado no trabalho: “preciso de ajuda”

Por Noelle Neves em 24/11/2021 às 11:06

A empreendedora Juliana Rosa Braga, de 33 anos, precisou vender o notebook usado no comércio de empadinhas para comprar o leite de filha. Ela foi despejada da casa em que morava em São Paulo e mudou-se para Santos há alguns meses, onde abriu um pequeno negócio de salgados. Após sucesso inicial, agora ela luta para pagar as contas e proporcionar maior qualidade de vida para a filha.

Em entrevista ao Santa Portal, Juliana contou que precisou anunciar o notebook da marca VAIO, porque faltavam itens básicos para a filha: “não temos fraldas ou leite. Todas as roupas dela estão pequenas. Além disso, a motocicleta que eu usava para fazer as entregas quebrou e não tenho dinheiro para arrumar. Anunciei por R$ 500, porque o teclado estava com defeito. Um novo custa em torno de R$ 120”.

O que ela mais quer no momento é que as vendas de empadinha voltem a “bombar”. “Tenho certeza que, com humildade, nós vamos longe. Ser empreendedor é como se jogar de um abismo e construir um avião antes que caia no chão. Nem toda a semana consigo bater a meta necessária para suprir necessidades básicas, como pagar aluguel e comprar comida. Um pedido ou uma indicação já ajuda demais”, falou.

O cardápio é composto por oito sabores de empadinhas, sendo eles frango com catupiry, frango com creme de milho, palmito com catupiry, palmito tradicional, brócolis com molho branco, dois queijos e pizza. Contudo, também é possível comprar tortinha de limão, maracujá, morango ou Romeu & Julieta.

A bandeja é composta por 12 unidades e custa a partir de R$ 20. Consulte o cardápio pelo (13) 98230-0194. Por fim, vale ressaltar que são feitas entregas em Santos e outras cidades da Baixada com taxa.

“Sou muito grata a Deus por não ter nos deixado perder a fé. Sou muito abençoada por ter recebido carinho e amor de todos”, concluiu.

A história da empreendedora

Há poucos meses, a vida da empreendedora era bem diferente do que é hoje. Com uma vida instável, precisou sair da ocupação que morava em São Mateus, na Zona Leste da capital, por conta de uma reintegração de posse organizada pela Prefeitura de São Paulo. Grávida e recém-despejada, orou para os céus em busca de uma saída. Sua intuição indicou Santos. E assim, começa a história de gratidão com a Cidade.

“Estávamos tentando ter um bebê há um tempo. Mas com a notícia do despejo, não sabia o que fazer. Certo dia, estava em frente ao Shopping West Plaza, na Barra Funda, eu e meu marido nos ajoelhamos e oramos. Peguei o valor que ganhei com o auxílio emergencial e comprei a passagem para o litoral”, contou.

Os primeiros meses após ser despejada foram desafiadores. Em resumo, o dinheiro era suficiente apenas para pagar um quarto pequeno no Morro do José Menino, com uma cama de solteiro e espaço para dois adultos em pé. Posteriormente, as coisas pareciam melhorar, quando surgiu a oportunidade de cuidarem de uma casa em Praia Grande. A vida como despejada começou a ficar para trás.

“Um rapaz nos levou até o local, limpamos todo o terreno e de repente, nos pediu para sair. Ele receptava mercadorias e não sabíamos. Assim, voltamos para a rua novamente. Na ocasião, já estava com barriga e agentes da GCM ofereceram para nos levar para um albergue noturno”, lembrou.

A noite foi repleta de preocupações, mas o casal, mais uma vez, teve fé e esperou por notícias melhores. Logo depois das turbulências do dia anterior, o marido da empreendedora decidiu ir até o Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) para checar se o Bolsa Família, que havia solicitado um tempo antes, estava aprovado. A notícia não foi só positiva nesse sentido, mas Juliana também recebeu as parcelas em atraso do auxílio.

Aliás, com o dinheiro em mãos, surgiu um grande sentimento de esperança: eles, finalmente, seriam felizes. A quantia os permitiu alugar um quarto na Vila Mathias, em Santos. Posteriormente, mobiliaram com televisão, geladeira, fogão e gás. Era o lar que um bebê precisava.

Diariamente, Juliana ia com o “barrigão” para o semáforo da Avenida Francisco Glicério vender balas. Uma das lembranças mais marcantes foi do dia que uma moça deu R$ 200 para que comprasse gás, já que não tinha.

“Minha filha nasceu pouco tempo depois. Tinha má-formação no duodeno, então o alimento chegava ao estômago e não ia para o intestino por falta de passagem. Ficamos 18 dias na UTI. Era triste ouvir minha bebê chorando de fome e eu, com o peito inchado, sem poder amamentar”, relatou.

Alice operou no Hospital Guilherme Álvaro. Mesmo com um parecer dos médicos, que apontavam um quadro desenganado, se recuperou.

De acordo com Juliana, naquela época, não tinha dinheiro o suficiente nem para comprar fralda, mas que diante de mais uma dificuldade, pôde enxergar a bondade dos santistas. “Fiz uma publicação em um grupo do Facebook e recebi doação de enxoval e outros itens que precisa para cuidar bem da minha menina. Depois que abri meu comércio de empadinhas, também recebi muitos pedidos por lá”, disse a empreendedora.

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