Alzira Rufino: santista é um exemplo de luta pelos direitos das mulheres

Por Laila Aguiar em 25/07/2022 às 07:00

Alzira Rufino
Alzira Rufino

Ser mulher em uma sociedade machista e preconceituosa é algo difícil, o problema é ainda maior quando se é uma mulher negra. Para evidenciar essa luta diária e a resistência feminina, foi criado o Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha, que é comemorado nesta segunda-feira (25).

Santos conta com uma grande representante da luta feminina, Alzira Rufino,73 anos, é uma mulher negra, escritora, profissional de saúde, técnica em Nutrição, editora de revista e ativista dos direitos humanos.

A missão de cuidar das mulheres já está com ela desde pequena. Alzira cresceu em um cortiço no Macuco, em Santos, e teve que defender a mãe da violência doméstica diversas vezes. ” Fazia parte da minha natureza denunciar e defender pessoas que sofriam violência. Quando havia qualquer injustiça me procuravam. Sempre foi assim”, relembra a ativista.

Ainda criança ela descobriu um talento, a escrita, que foi incentivada por uma professora do ensino fundamental. Com o apoio, Alzira foi inscrita em uma concurso, que venceu.

Já adulta, a ativista encarou cara a cara o preconceito por parte das editoras. “Quando quis publicar o primeiro livro, ainda na década de oitenta, as pequenas e grandes editoras, não me recebiam, e olhavam com desconfiança, mesmo já tendo sido premiada em vários concursos e com artigos e poemas publicados nos jornais”.

O preconceito, a violência e a triste realidade das mulheres se interlaçou com a história da ativista. Com sua natureza em ajudar, Alzira criou, em 1985, o Coletivo de Mulheres Negras, e, mais tarde, em 1990, fundou a Casa de Cultura
da Mulher Negra. Atualmente, escrevo no Clube de leitura Alzira Rufino voltada para Literatura Negra.

Reconhecida pelo seu trabalho, a ativista exerceu a função de Coordenadora da Rede Feminista Latino Americana e do
Caribe contra a Violência Doméstica, Sexual e Racial, e conta sobre a árdua tarefa de lutar pelos direitos das mulheres. “Foi dolorosa, mas exitosa. As ações permitiram a visibilidade dessas temáticas, o que impulsionou governos e parlamentares para implementação de ações, criando Leis, Políticas Públicas na temática da violência racial e doméstica, inclusive tivemos a criação de Casas Abrigo para mulheres e seus filhos”.

A violência contra a mulher, que Alzira teve que combater quando criança, não mudou muito. Segundo os dados de 2021 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 1.319 mulheres foram vítimas de feminicídio e 56.098 foram vítimas estupros (incluindo vulneráveis), apenas do gênero feminino.

Sobre essa violência, a ativista relembra uma frase que sempre disse e que vale até hoje. “Em briga de marido e mulher, vamos meter a colher, antes que a morte os separe”.

Hoje a luta pelo direito feminino é mais abrangente, mas quando Alzira começou com o ativismo era tudo muito novo e muitas mulheres tinham medo. Segundo ela, machistas e agressores chegaram a persegui-la, mas ela não se calou, foi ás ruas, protestou e lutou pela vida das mulheres de todas as cores e etnias. “Hoje o tema faz parte da pauta de vários movimentos, mas na minha época, eu era uma voz solitária, que aos poucos, foi rompendo às resistências e aderindo à temática”, relata.

O trabalho de conscientização da população é importante, mas deve ser feito em conjunto, para que todos tenham os seus direitos resguardados. ” Hoje já temos uma sociedade semiconsciente e não foi tarefa fácil. A questão precisa ser abraçada por toda a sociedade com mais políticas públicas de conscientização”.

No dia 25 de julho também é celebrado o dia de Tereza de Benguela, mulher negra que no século XVIII abrigou dezenas de pessoas no Quilombo de Quariterê, localizado no Mato Grosso. “Nesse dia, há muito por fazer e pouco a comemorar”, afirma Alzira.

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